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Beauveria: não tem erro contra a mosca-branca no feijoeiro

Atualmente, existem 37 produtos microbianos registrados no MAPA, sendo 34 à base de Beauveria bassiana e três à base de Cordyceps fumosorosea.

Crédito: Embrapa

Rafael Rosa Rocha
Engenheiro agrônomo e mestre em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Unemat
rafaelrochaagro@outlook.com

A mosca-branca é considerada um dos insetos de maior importância na agricultura. Na cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L.), três são as causas dos danos causados pela mosca-branca nesta cultura, sendo:

1. Dano direto: causado pela alimentação, sugando a seiva da planta e injeção de saliva tóxica, debilitando a planta;

2. Indiretamente: as moscas-brancas excretam uma substância açucarada que cai sobre as folhas e favorece o desenvolvimento da fumagina, um fungo de coloração negra que reduz a área fotossintética e;

3. Transmissora de vírus: é vetora de inúmeros vírus de plantas. Em feijoeiro, é vetora do mosaico dourado de feijoeiro (BGMV) e do mosaico angular do feijoeiro jalo (=necrose da haste da soja) (CpMMV). A planta infectada com o vírus normalmente torna-se menos produtiva que as plantas sadias em função de alterações morfológicas e fisiológicas, causando redução da produção e porte da planta. Folhas encarquilhadas e amareladas entre as nervuras em forma de mosaico são exemplos da manifestação dos sintomas de uma planta infectada.

Danos

Como a mosca-branca possui um aparelho bucal do tipo sugador, os danos provocados por esse inseto ocorrem durante sua alimentação.  Com todos estes danos, a produção é afetada em larga escala e a planta pode sofrer alterações nas suas fases vegetativa e reprodutiva, reduzindo drasticamente o porte da planta, e, consequentemente, o número de vagens e grãos.

Há, também, a possibilidade de as vagens e grãos ficarem deformados, as sementes perderem a coloração e o peso reduzir. Caso a infestação desta praga não seja controlada da forma correta, o produtor pode sofrer grandes prejuízos, podendo até mesmo perder toda a produção.

O que fazer?

O controle microbiano para mosca-branca tem sido realizado com a utilização dos fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana. Atualmente, existem 37 produtos microbianos registrados no MAPA, sendo 34 à base de Beauveria bassiana e três à base de Cordyceps fumosorosea.

No campo, esses fungos têm sido aplicados tanto em combinação com produtos químicos quanto em aplicações isoladas.

A ação de fungos entomopatogênicos (modo de ação) no controle da praga se inicia com a adesão dos conídios ao tegumento e posterior penetração no corpo do inseto, o que ocorre após a aplicação do produto em calda na lavoura.

Os conídios aderidos ao corpo do inseto germinam em poucas horas. Para isso, eles necessitam de condições ambientais favoráveis, como baixa radiação solar, temperaturas mais amenas e alta umidades >65%.

A germinação do conídio resulta na formação de enzimas “quitinases e lipases” que degradam a cutícula do inseto, favorecendo a penetração no interior do corpo da praga. Dentro do inseto, o fungo passa a produzir toxinas que são liberadas na hemolinfa do inseto (corrente sanguínea do inseto) e, à medida que o fungo se desenvolve dentro do corpo do inseto, ele consome todos os nutrientes.

Esse processo que culmina no rompimento do tecido do inseto no sentido oposto (saída do patógeno), produzindo novos conídios. Isso é chamado “esporulação” e só ocorre em condições ambientais de alta umidade e temperatura entre 22 e 30°C.

Com a esporulação, os conídios são disseminados pelo vento, água ou mesmo por insetos, e podem provocar a morte de outros insetos sadios não atingidos na aplicação, aumentando ainda mais a eficácia de controle. 

Fique ligado!

O ponto-chave para obter alta eficiência no controle de mosca-branca com a aplicação de fungos entomopatogênicos é ter cuidado com tecnologia de aplicação do produto, pois, principalmente com a cobertura da pulverização, deve-se lembrar que o fungo funciona por contato e a compatibilidade com os produtos químicos em mistura.

Portanto, deve-se evitar a mistura com fungicidas químicos e produtos danosos aos conídios na mistura de calda. Vale lembrar que a utilização de Beauveria bassiana não deve ser feita isoladamente, para obter controle efetivo em infestação alta de moscas.

Porém, o uso desses agentes biológicos pode integrar a sua estratégia de controle de praga, sendo ela química ou outras ações do MIP (Manejo Integrado de Pragas).

Desafios

De forma geral, pensando no ciclo todo do feijoeiro, a presença da mosca-branca inicia desde a fase vegetativa (V1) e percorre a fase reprodutiva, entre R7-R8.

Outro ponto de dificuldade de controle da população de mosca-branca no feijoeiro está relacionado às culturas que antecedem o cultivo. Visto que a soja precede o feijão, e por estar muito presente na safra 2023/24, a mosca-branca também deve estar afetando os produtores desta segunda cultura em diversos estados.

Folha com sintomas do mosaico-dourado, causado pela mosca-branca
Crédito: Anésio Bianchini

Com o atraso da colheita de soja, se forma uma ponte verde que mantém a praga presente nas lavouras. Essas regiões que tiveram atraso são justamente as que registram maior incidência da mosca-branca no feijão.

Integração da Beauveria bassiana no MIP

Diante do potencial de dano elevado e dificuldades de controle da mosca-branca, é importante considerar medidas de manejo integrado de pragas (MIP) com integração do uso de Beuveria.

A seguir, estão listadas as práticas recomendadas a serem integradas no manejo:

Monitoramento da praga: fazer o monitoramento das lavouras é o primeiro passo para conseguir controlar qualquer praga. Afinal, essa ação permite que o inseto seja identificado nas primeiras fases de desenvolvimento. No caso da mosca-branca, o ideal é que o monitoramento seja feito ao longo de todo ciclo da cultura, já que ela pode atacar a lavoura desde a fase de emergência das plantas. Esse processo deve ser realizado por meio de inspeções constantes e uso de armadilhas. Para fazer a amostragem, o ideal é que as plantas sejam avaliadas no terço superior, a partir da seleção da terceira ou quarta folha, de cima para baixo.

Controle cultural: esse tipo de controle se refere às medidas de manejo realizadas para criar um ambiente menos favorável ao desenvolvimento da praga. Dentre as medidas que podem empregadas com essa finalidade, destacamos:

• Eliminação de restos culturais;

• Rotação de culturas com espécies que não são hospedeiras do inseto;

• Utilização de barreiras vivas com espécies como milho e sorgo forrageiro para impedir a disseminação do inseto pelo vento;

• Controle de plantas daninhas hospedeiras da praga;

• Reduzir a população da praga ainda no cultivo anterior, e evitar a manutenção de plantas tigueras na área;

• Adequar épocas de semeadura para coincidir com menor pressão da praga no campo;

• Utilizar cultivares adaptadas à região e que sejam resistentes à mosca-branca e aos vírus que ela transmite, como o mosaico dourado e algum grau de antibiose e antixenose (não-preferência) à B. tabaci;

• Utilizar armadilhas para reduzir a população de insetos adultos.

 – Controle químico: esse é o método de manejo da mosca-branca mais utilizado pelos agricultores. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mais de 70 produtos registrados podem ser utilizados para o controle químico da mosca-branca no feijão.

Porém, a escolha do inseticida depende da fase em que se encontra o inseto, já que alguns são mais eficientes somente quando aplicados na fase adulta da mosca, enquanto outros também podem ser aplicados nas fases de ovo e ninfa.

As doses e as aplicações de inseticidas devem ser recomendadas de acordo com as instruções da embalagem. Vale lembrar que não é indicado aplicar inseticidas de forma preventiva, já que essa medida não é eficiente.

Além disso, o ideal é que o agricultor faça a rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de ação para evitar o desenvolvimento de gerações de insetos resistentes.

O manejo correto com beauveria garante lavoura sadia

Eficácia no controle

Outro ponto é a análise de materiais mais resistentes a ataques de mosca-branca. Todas essas ferramentas podem ser associadas ao uso de Beauveria trazendo um maior controle.

Vale ressaltar que o controle da Bemisia tabaci de forma precoce, no início da cultura, é muito importante para evitar a evolução da população da mosca-branca. É bom lembrar que a quebra de ciclo ocorre com a morte da Bemisia tabaci por inanição. Se não houver planta hospedeira para se alimentar e reproduzir, ela morre.

O fungo Beauveria bassiana é um inseticida biológico que pode auxiliar no manejo integrado de pragas, reduzindo os danos causados pelos insetos e os custos com defensivos químicos.

Além disso, contribui para a preservação do meio ambiente e da saúde humana, sendo uma alternativa sustentável e eficiente para o controle biológico de pragas.

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