Autores
Bruno Nicchio
Pós-doutorado em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
bruno_nicchio@hotmail.com
Marlon Anderson Marcondes Vieira
Mestrando em Agronomia – UFU
Gustavo Alves Santos
KP Consultoria
Hamilton Seron Pereira
Professor titular – UFU
Gaspar Henrique Korndörfer
Professor aposentado – UFU
A aplicação de bioestimulantes na cultura da cana-de-açúcar é uma prática de manejo que potencialmente pode incrementar sua produtividade e rendimento industrial, favorecendo o bom desempenho dos processos vitais da planta, permitindo obter melhores e maiores colheitas, mesmo sob condições ambientais adversas.
Os bioestimulantes são resultantes da mistura de dois ou mais reguladores vegetais ou a mistura destes com outras substâncias de natureza bioquímica diferente, que atua como estimulante vegetal. Seu uso pode aumentar o potencial produtivo da cana entre 5 e 15% acima de alternativas disponíveis no mercado.
Benefícios
Dentre as vantagens da utilização de bioestimulantes, podemos destacar: aumento da biomassa biológica do solo, o que permite maior decomposição e mineralização da matéria orgânica; maior enraizamento, o que leva à maior absorção dos nutrientes pelas plantas; melhor aproveitamento dos fertilizantes e corretivos e maior resistência à seca. Esses dois pontos, por sua vez, podem levar também a associações biológicas benéficas nas raízes.
A partir desses benefícios, o bioestimulante pode ser empregado como um complemento na manutenção fisiológica, o que pode ser muito importante em situações de condições ambientais adversas, como secas e geadas, ou condições bióticas limitantes, como intensos ataques de pragas e severidade de doenças.
Os bioestimulantes podem ser aplicados no momento ou logo após o plantio da cana, antes da operação de cobertura do sulco de plantio, com o objetivo de promover melhoria no desenvolvimento do sistema radicular, estande e uniformidade de plantas, além do melhor aproveitamento dos nutrientes que estão na solução do solo. Muitos destes produtos comercializados no mercado apresentam micronutrientes em sua composição, tornando o produto uma fonte alternativa no manejo da adubação foliar.
Pesquisas
Nos últimos anos, o Grupo de Pesquisa em Silício na Agricultura (GPSi) da Universidade Federal de Uberlândia, liderado pelos professores Gaspar H. Korndörfer e Hamilton S. Pereira, tem buscado avaliar os efeitos de bioestimulantes na produtividade de culturas agrícolas, como a cana-de-açúcar.
Em experimento desenvolvido no estado de Minas Gerais, observou-se que o uso de bioestimulantes provenientes de extratos de algas mais micronutrientes aplicados no sulco de plantio incrementou a tonelada de cana (TCH) e açúcar (TAH) por hectare, conforme figuras 1 e 2.
Os incrementos de TCH foram de até 53,24 t ha-1 em comparação à testemunha (114,8 t ha-1), destacando melhor resultado para o tratamento com 1,5 kg ha-1 de bioestimulante + 4,0 L ha-1 de complexo micronutriente.
Com relação à TAH, os incrementos foram de 7,75 e 7,36 t ha-1 com os tratamentos bioestimulante 2,0 kg ha-1 + complexo micronutriente 5,0 L ha-1 e bioestimulante 1,5 kg ha-1 + complexo micronutriente 4,0 L ha-1.
Em outro experimento conduzido no Estado de Goiás, visando avaliar o emprego de diferentes bioestimulantes (bioestimulante + complexo micronutriente, bioestimulante A, B, C e D) no sulco de plantio de cana (variedade CTC 5), verificou-se que o bioestimulante associado com complexo micronutriente foi mais eficiente em aumentar a TCH quando comparado com os demais produtos. O incremento foi de 31 t ha-1 de TCH, mas sem diferença para TAH.
Apesar de não serem muitos os resultados publicados sobre o efeito de bioestimulantes na cana, sua aplicação pode incrementar a produtividade e a qualidade da matéria-prima, mesmo sob condições ambientais desfavoráveis. Por isso, é importante salientar que os resultados com relação ao emprego de bioestimulantes podem variar em função da composição do produto aplicado, já que para que ocorra o efeito desejado é importante conhecer o processo regulado pelo hormônio ou grupo de hormônios, a dose necessária para manipular o processo, bem como o órgão da planta que receberá o produto.
Além disso, a qualidade do solo quanto à sua condição física e química, modo de aplicação, variedade e condições ambientais podem influenciar a eficiência destes produtos. Por isso, é sempre importante o auxílio de um técnico especializado e o conhecimento do produto para a melhor tomada de decisão quanto à sua aplicação.