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Bioinseticidas: arma no manejo de lagartas

Crédito: Lucia Vivan

Elisamara Caldeira do Nascimento
Doutora em Ciência do Solos e professora de Manejo e Conservação dos Solos – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)
elisamara.caldeira@gmail.com
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor em Nutrição Mineral de Plantas e professor de Fisiologia Vegetal e Fruticultura Tropical – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
glauciogenuncio@gmail.com

Os sistemas produtivos agrícolas mundiais vêm passando por grandes transformações, por meio dos avanços tecnológicos, resultando no incremento em produtividade, aliado à preservação ambiental, ao uso racional da água e à redução do uso de agroquímicos.

Nos últimos anos, a chamada agricultura regenerativa passou a ser inserida em grande parte dos processos produtivos, onde as culturas agrícolas são tratadas não por sistemas de cultivos individualizados, mas integradas em processos claros, dinâmicos e interdependentes.

Os bioinsumos

Na agricultura regenerativa, o uso dos bioinsumos é um dos alicerces que vem auxiliando na obtenção de altas produtividades. Embora os insumos biológicos acompanhem a humanidade ao longo da história, “bioinsumo” é um conceito que foi adotado oficialmente no Brasil com o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos em maio de 2020, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O objetivo desse programa foi impulsionar a utilização de recursos biológicos na agropecuária brasileira, aproveitando a biodiversidade do País e reduzindo a dependência de insumos importados.

Pela legislação brasileira, considera-se bioinsumo qualquer produto, processo ou tecnologia de origem biológica — animal, vegetal ou microbiana — para uso na produção, no armazenamento ou no beneficiamento em sistemas agrícolas, pecuários, florestais e aquáticos.

Importância econômica

A utilização de bioinsumos vem crescendo no Brasil e no mundo, devido aos fatores relacionados às questões regulatórias, de mercado e de manejo das culturas. O mercado global de biológicos para agricultura, que envolve biodefensivos, inoculantes, bioestimulantes e biofertilizantes, foi estimado em US$9,9 bilhões em 2020 e, nesse rol, apenas os produtos biológicos de controle respondem por US$5,2 bilhões (IHS Markit, 2021).

Para os próximos cinco anos, a expectativa é que o mercado mundial de bioinsumos continue apresentando elevada taxa de crescimento, alcançando um valor acima de US$ 10 bilhões para biodefensivos e US$ 3 bilhões para bioestimulantes, pelos dados da DunhamTrimmer LLC, principal empresa americana de pesquisa de mercados agrícolas biológicos.

No mercado de produtos biológicos de controle, grupo mais expressivo entre os bioinsumos, diversos aspectos têm estimulado o crescimento da utilização no mundo e no Brasil.

A crescente pressão de órgãos reguladores para restringir a aprovação de produtos químicos, impondo critérios mais rígidos sobre toxidez e persistência no ambiente, é um fato importante.

Outro ponto de estímulo ao mercado de produtos biológicos está relacionado à redução das opções de controle de pragas e doenças, devido à perda de efetividade de alguns ativos químicos, acelerada pelo uso intensivo e consequente surgimento de resistência.

Esse fato, aliado à menor velocidade de desenvolvimento e lançamento de novas moléculas, abre espaço para opções com modos de ação distintos, como são os produtos biológicos.

Evolução

A partir da década de 70, surgiu o conceito e o início dos primeiros trabalhos voltados para o Manejo Integrado de Pragas (MIP) no Brasil, entre eles, o uso de bioinseticidas à base de bactérias.

Mas, somente na década de 1990 um grande projeto com Bacillus thuringiensis (Bt) Berliner foi conduzido pela Embrapa, visando o controle de Spodoptera frugiperda.

Apesar da alta eficiência dos bioinseticidas Bt no controle de Anticarsia gemmatalis, praga-chave da soja, seu uso por parte dos produtores não foi significativo, principalmente devido à competição com produtos químicos convencionais de amplo espectro, com ação rápida e de baixo custo e, também, à ampla adoção do Baculovirus anticarsia (AgMNPV).

A partir dos 2010, houve o fortalecimento de empresas ligadas ao controle biológico, que resultou no aumento das pesquisas com biológicos, como métodos de aplicação, de produção e condições para armazenamento. Estas são condições necessárias para o bom resultado da utilização de bioinsumos.

Por se tratarem de organismos vivos, os cuidados com temperatura, transporte e armazenamento precisam ser diferentes dos convencionais. Além disso, a incompatibilidade com produtos químicos e, inclusive, outros biológicos, deve ser observada para evitar a morte dos organismos nas caldas de aplicação.

Resultados reais

Diversas bactérias, fungos e vírus podem ser utilizados como bioinseticidas, com ótimos resultados em culturas anuais ou perenes. Vírus de insetos são importantes fontes de controle biológico para várias culturas, com especial atenção para o controle de lagartas desfolhadoras.

Vários grupos taxonômicos de vírus são potenciais candidatos para o desenvolvimento de princípios ativos contra insetos-pragas da cultura, como é o caso dos baculovírus, cipovírus, iflavírus, discistrovírus e entomopoxvírus.

Entretanto, a maior parte das pesquisas, bem como o desenvolvimento de produtos, limita-se ao uso de baculovírus, um grupo de vírus de insetos historicamente consolidado na agricultura e essencial para o sucesso da cultura da soja, principalmente em situações nas quais a abordagem de controle químico ou o uso de plantas transgênicas apresenta dificuldades.

No campo, produtos baseados em baculovírus podem ser usados sozinhos ou combinados com outras ferramentas de controle químico ou biológico, de modo a construir interações aditivas e sinergísticas para controle populacional da praga.

É importante consultar a empresa que comercializa este produto para saber sobre testes de compatibilidade pré-existentes.

Ciclo

Crédito: Rodrigo Vieira

As principais características que tornam os Baculovírus desejáveis em manejo de pragas agrícolas são sua especificidade, seletividade e compatibilidade com outros agentes de controle.

Após a aplicação de Baculovirus, as lagartas ingerem os poliedros (estruturas que protegem as partículas virais) depositados sobre as plantas, que se dissolvem no pH alcalino e liberam partículas virais, que penetram no núcleo da célula epitelial do intestino da lagarta, se replicam e dispersam via hemolinfa e traqueia.

O processo, desde o início da infecção até a morte, dura entre dois e sete dias, dependendo do tamanho da lagarta e das condições ambientais. Ao morrer, as lagartas apresentam corpo flácido, que escurece e se rompe com facilidade, liberando uma grande quantidade de vírus no ambiente, contaminando todos os tecidos das outras lagartas em ciclos de infecção subsequentes.

Grande parte do processo de produção dos baculovírus depende do conhecimento das técnicas de criação do inseto hospedeiro e dos fatores envolvidos no processo de infecção.

Inicialmente, as instalações devem ser adequadas para essa finalidade, projetadas para facilitar os processos de limpeza e desinfecção. Os ambientes de criação de insetos devem seguir elevados padrões de assepsia e higiene. As unidades de criação devem estar distanciadas da produção de vírus, e devem ter controles ambientais ou de ar condicionado independentes.

Mercado

Atualmente, existe demanda por produtos à base de vírus, como por exemplo, para o controle de pragas que atualmente ocorrem com maior prevalência, como a falsa-medideira, Rachiplusia nu, e a broca dos ponteiros, Croscidosema aporema, cujas viroses são conhecidas e apresentam potencial de utilização.

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