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Doenças pós-colheita em mangas

Fotos: Aqua do Brasil

Thiago Francisco de Souza Carneiro Neto
Engenheiro agrônomo e mestrando PPGHI – Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
thiagofs_10@hotmail.com
Ana Rosa Peixoto
Engenheira agrônoma e doutora em Fitopatologia – UNEB
anarpeixoto@gmail.com
Wendel Brito Nascimento Júnior
Assistente Técnico de Desenvolvimento de Mercado da Aqua do Brasil
Engenheiro agrônomo

Após a colheita e o longo armazenamento, as frutas frescas ficam suscetíveis a ataques por patógenos saprófitos ou parasitas. Isso ocorre devido ao alto conteúdo de água e nutrientes, somado ao que, uma vez colhidos, perdem a maior parte da resistência intrínseca que os protege durante seu desenvolvimento.

A deterioração fúngica das mangas durante o transporte e o armazenamento afeta severamente os lucros dos produtores e a exportação, e um grande efeito negativo na economia agrobaseada.

As perdas econômicas causadas pela infecção por fungos em frutas e vegetais na cadeia pós-colheita são variáveis e pouco documentadas. Geralmente atingem de 30 a 50% e, em algumas ocasiões, as podridões podem levar à perda total do produto.

Além disso, a deterioração fúngica não apenas diminui o valor nutritivo das frutas, mas produz riscos adicionais à saúde na forma de micotoxinas.

Origem das infecções

As doenças na pós-colheita provêm de infecções adquiridas, ou seja, ocorrem pelo manuseio, ou quiescentes, pelo qual o processo infeccioso geralmente se inicia na fase de pré-colheita, quando os frutos ainda se encontram ligados às plantas.

Porém, a partir do momento em que são colhidos, estes sofrem alterações fisiológicas, tornando-se, em geral, mais suscetíveis ao ataque de patógenos, que normalmente encontra-se em estado de quiescência.

Frequentemente, as infecções quiescentes são causadas por fungos do gênero: Alternaria, Colletotrichum, Lasiodiplodia e Botrytis. No caso de infecções adquiridas, destacam-se os fungos Penicillium, Cladosporium, Aspergilus, Rhizopus e outros, que manifestam rapidamente sintomas de podridões.

Doenças

Para a manga, as podridões pós-colheita conhecidas como antracnose e podridão peduncular são as principais doenças, responsáveis por consideráveis perdas pós-colheita dessa commodity, e mancha de alternária em proporções menores (TERAO et al., 2013).

De modo geral, conforme Batista et al. (2008), no Vale do São Francisco os fungos prevalentes causadores de doenças pós-colheita foram Neofusicoccum parvum (Pennycook & Samuels) Crous, Slippers & A. J. L. Phillips e Fusicoccum aesculi Corda (Botryosphaeria dothidea [Fr.:Moug.] Ces. & De Not.), pertencentes à família Botryosphaeraceae, destacando-se expressivamente dos demais: Colletotrichum gloeosporioides Penz., Alternaria alternata (Fries) Keissler e Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon & Maubi.

Os sintomas da podridão peduncular da manga incluem manchas, que são pequenas lesões enegrecidas e encharcadas de água que aparecem na casca da manga. Essas lesões começam na extremidade do pedúnculo e continuam escurecendo em direção à outra extremidade do fruto à medida que a doença progride.

As áreas afetadas podem se abrir, o que expõe a polpa e eventualmente faz com que as áreas infectadas se tornem moles e aquosas.

Causas

Fotos: Aqua do Brasil

A podridão peduncular da manga é causada por um complexo de patógenos fúngicos, mas os fungos Botryosphaeriaceae (Ascomycetes) são conhecidos como os patógenos causais mais comuns.

Duas espécies de Botryosphaeriaceae, nomeadamente Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon & Maubl e L. pseudotheobromae A.J.L. Phillips, A. Alves & Crous, foram associadas à podridão pré-colheita de manga.

No semiárido do nordeste brasileiro, a L. theobromae foi a espécie mais frequentemente isolada, representando 41% de todos os isolados. Nessa mesma região do Brasil foram identificados outros sete táxons associados à manga, sendo o Neoscytalidium dimidiatum (Penz.) Crous & Slippers e Neofusicoccum parvum (Pennycook & Samuels) Crous, Slippers & A.J.L. Phillips as espécies mais virulentas.

Danos

A antracnose afeta várias partes da mangueira, incluindo as folhas jovens, panículas e frutos. O maior dano ocorre nos frutos, pela formação de manchas escuras e irregulares na casca, que podem coalescer e cobrir toda a superfície do fruto.

O agente etiológico é atribuído ao Colletotrichum gloesporioides Penz. com ocorrência notadamente no período de chuvas e garoas, com umidade relativa e temperaturas elevadas, representando um dos fatores limitantes que tem prejudicado a expansão do agronegócio dessa fruta.

Entretanto, no nordeste brasileiro descobriu-se recentemente, por análises moleculares, que a antracnose é causada por um complexo de fungos de Colletotrichum gloesporioides, Colletotrichum asianum, Colletotrichum fructicola, Colletotrichum tropicale e Colletotrichum karstii (uma nova espécie).

Outra doença que pode contribuir para as podridões na pós-colheita da manga são as causadas por A. alternata, um fungo ainda pouco incidente no Submédio do Vale do São Francisco, apesar de ser bastante frequente em outros países produtores de manga.

Seus sintomas ocorrem na forma de irritação das lenticelas, que adquirem coloração avermelhada característica, progredindo para pequenas lesões encharcadas que coalescem.

Desse modo, os patógenos citados contribuem para o desperdício da manga produzida no Brasil. Machado et al. (2017), em estudo para avaliação das perdas de manga no mercado varejista do Vale do São Francisco, observou que, dos canais investigados (feiras livres, supermercados e hortifrútis), houve uma maior concentração dos causadores de perdas nos elementos: transporte, baixa qualidade da fruta, manuseio dos clientes, fruta muito madura e outros.

Ainda, observou-se, nesse estudo, uma perda semanal de 277,08 kg de mangas para a cultivar Tommy Atkins, bem como no mesmo estudo no setor de hortifrúti foi identificado que a fruta muito madura é o principal causador de perdas (58,62%), problema também encontrado nos supermercados investigados (16,67%), seguidos do manuseio (33,33 a 46,43% de perda).

É importante notar que as alterações fisiológicas proporcionadas pelo amadurecimento do fruto, como destacado no estudo de perdas no mercado consumidor, favorecem as podridões por infeções quiescentes, assim como o manuseio favorece as podridões por infecções adquiridas.

Entretanto, a incidência da doença é uma consequência da ocorrência e interação de três agentes causais, constituídos no triângulo da doença, que são: (i) um hospedeiro suscetível da planta; (ii) a presença de um patógeno virulento; (iii) condições ambientais adequadas para o desenvolvimento do patógeno. A ausência de qualquer um desses componentes evita doenças de plantas.

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