Marcelo de Melo Linhares
Engenheiro agrônomo especialista em Proteção de Plantas e consultor Sagra Insumos Agropecuários Ltda
marcelo.de.linhares@terra.com.br
A broca-do-café (Hypothenemus hampei) pode ser encontrada praticamente em toda região produtora de café do País e foi identificada pela primeira vez no Brasil na década de 1920, em Campinas (SP).
A praga sempre foi considerada a segunda de maior importância na cafeicultura de arábica e a primeira no café canéfora. Porém, neste último Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, que ocorreu no final de outubro em Poços de Caldas (MG), vários pesquisadores já apontam a broca-do-café como a praga de maior importância também no café arábica. Isso pela grande dificuldade de controle após a retirada do inseticida Endossulfan do mercado em 2013, devido a sua extrema toxicidade e ao potencial de danos ao meio ambiente.
Contudo, o produto apresentava elevada eficiência de controle da broca, e com sua retirada do mercado os controles ficaram muito difÃceis.
Prejuízos
O ataque da praga causa queda na produção dos cafezais, diminuindo o peso dos frutos, além de interferir diretamente na qualidade da bebida, pois o sabor dos grãos fica alterado. Além disso, o aspecto dos frutos broqueados reduz o preço pago pela mercadoria.
Monitoramento é essencial
O monitoramento é uma ferramenta essencial que ajuda o cafeicultor e os técnicos a identificarem as áreas infestadas pela broca para assim fazer um uso racional de inseticida.
As pesquisas mostram que o controle não é necessário em toda a lavoura porque o ataque da praga é desuniforme. Geralmente as lavouras novas, de primeira safra, lavouras reformadas e esqueletadas não apresentam infestação, e por isso não requerem controle.
A lavoura deve ser dividida em talhões, para o monitoramento mensal, iniciando 90 dias após a florada principal até o mês de abril, sempre utilizando planilhas específicas para o controle da broca, a qual pode ser encontrada para download no site da EPAMIG, www.epamig.br no menu publicações.
Controles
Por que 90 dias após a florada principal? Esta época é quando a fêmea da broca está em trânsito na lavoura. Neste momento, ela inicia a perfuração do grão, mas não atinge a semente devido ao estado aquoso, com 86% de umidade, com fruto na fase de verde ‘chumbão’.
Eliminando as fêmeas não teremos ciclo evolutivo, pois não haverá oviposição e, consequentemente, não haverá larvas. Neste momento (90 dias após a florada) a broca inicia a perfuração para botar seus ovos, e quando encontra esta situação de umidade elevada no grão ela volta, não conseguindo atingir a semente, e assim transita na lavoura.
Um fato é que, como esta broca não atingiu a semente, o grão permanecerá normal, sem dano econômico e, por isso, na avaliação, se o produtor encontrar nível de até 3% de frutos broqueados, será o momento certo de iniciar o controle.
Se não for feito o controle, ou se o mesmo for mal realizado, após mais 60 dias os frutos já com menor teor de umidade, o inseto termina a construção da galeria até uma das sementes nos frutos broqueados, onde deposita o ovo, iniciando o primeiro ciclo do inseto na nova safra, o que refletirá em grandes prejuízos ao cafeicultor.
Neste ano de 2015 a florada principal da maior parte da região cafeeira foi entre 15 a 20 setembro. Logo, teremos que ficar atentos para as avaliações e controles a partir de 15 de dezembro.
Atenção para o clima
Temos que ficar atentos ao clima da presente safra, e também não se pode esquecer de como foi o clima no ano anterior: um dos grandes problemas de ataques agressivos de broca no cafeeiro é devido à sobrevivência da praga em grãos remanescentes das safras anteriores, seja esta sobrevivência nos frutos não colhidos na árvore ou naqueles que ficaram no chão. Esta sobrevivência vai passando de uma safra para outra.
A observação do clima será muito importante para o manejo:
1º – Entre safra úmida, sinal de maior quantidade de broca na safra subsequente. Se a entressafra for seca, a projeção de broca na safra seguinte é menor. Este fato ocorreu nesta safra de 2014/15, pois a entressafra 2014 foi seca, fazendo com que a infestação de broca em 2015 fosse menor que em outros anos.
2º – Seguindo o mesmo raciocÃnio, lavouras irrigadas normalmente têm a projeção de maior incidência de brocas, devido à maior umidade – no sistema de irrigação por gotejamento, por ter maior umidade no solo, e no sistema de pivô por ter mais umidade nas plantas. É preciso, portanto, priorizar os monitoramentos nestas áreas irrigadas devido à maior umidade em relação ao sistema de produção de café em sequeiro.