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Brasil avança no Agro sustentável

O movimento biológico reflete um compromisso crescente com práticas agrícolas sustentáveis e uma intenção de minimizar a dependência de recursos não renováveis.

Nos últimos anos, o setor agrícola brasileiro tem testemunhado um crescimento expressivo na adoção de insumos biológicos. Essa tendência decorre da percepção, por parte de agricultores e agroindústrias, das vantagens desses insumos no controle integrado de pragas, estímulo ao desenvolvimento vegetal e fortalecimento da sustentabilidade do solo, do fomento à agricultura regenerativa.

Amália Borsari, diretora da CropLife

Ao se contrastar com outros países, o Brasil emerge como um protagonista no cenário de insumos biológicos, graças à sua rica biodiversidade e potencial inovador da indústria no desenvolvimento de novos produtos.

Para Amália Borsari, Diretora Executiva de Biológicos da CropLife Brasil, a extensa área de cultivo brasileira, somada a uma agricultura de ciclo contínuo, posiciona o país como um mercado atrativo para o avanço desses insumos.

Ela destaca a importância de compreender as particularidades dos mercados europeu e norte-americano. “Nestas regiões, o foco recai principalmente sobre hortifrútis em cultivos protegidos. Já no Brasil, há uma forte demanda em culturas como grãos, cana e algodão, que são cultivadas em larga escala e requerem formulações e estratégias específicas”, ressalta.

Atualmente há 668 produtos biológicos registrados no Brasil para controle de 238 alvos biológicos (pragas e doenças) em diversas culturas.

Avanços tecnológicos

O perfil de cultivo brasileiro exige avanços contínuos em formulação, tecnologias de aplicação e monitoramento. Em termos de mercado, o Brasil figura atualmente como o terceiro maior player, atrás da América do Norte e União Europeia. Contudo, projeções internacionais apontam para sua ascensão ao topo até 2027.

Amália Borsari informa que os principais insumos biológicos utilizados na agricultura brasileira englobam aqueles voltados ao combate de pragas e doenças, como os bioinseticidas, biofungicidas e bionematicidas.

Além destes, ela aponta os bioestimulantes, que atuam minimizando o estresse vegetal e potencializando o desenvolvimento das plantas, assim como os reguladores de crescimento.

Outra categoria relevante são os inoculantes, que desempenham papel crucial no fornecimento de nutrientes, destacando-se os fixadores de nitrogênio e solubilizadores de fósforo. “Esses insumos biológicos, como um todo, são amplamente utilizados em diversas culturas, adequando-se conforme as necessidades específicas de cada uma”, acrescenta a especialista.

Tendências do mercado de biológicos

As tendências recentes no mercado de insumos biológicos no Brasil apontam para um cenário de constante inovação e expansão. Uma das principais mudanças vem da convergência tecnológica, em que a biologia se une à computação e à inteligência artificial (IA), proporcionando uma revolução nos produtos e soluções oferecidos.

Para Amália Borsari, essa fusão permite uma maior precisão no desenvolvimento e produção industrial, no monitoramento de doenças e pragas e aplicação de insumos, otimizando seus efeitos.

Outra tendência em destaque é a aceleração da biologia sintética, que, juntamente com tecnologias emergentes, como RNAi e produtos bioquímicos, abre caminho para soluções mais avançadas e eficazes no manejo agrícola.

Alinhado a isso, a especialista observa o lançamento de bioherbicidas, oferecendo alternativas sustentáveis ao controle de ervas daninhas.

Complementando o cenário de inovação, as técnicas avançadas de monitoramento, incorporando tecnologias como Internet das Coisas (IoT), satélites, drones, IA e machine learning, juntamente com a biologia sintética, estão proporcionando aos agricultores ferramentas mais precisas e eficientes para o acompanhamento e gestão de suas lavouras, algo primordial para aumento da eficiência dos produtos biológicos.

Por fim, Amália Borsari ressalta que as novas capacidades biológicas estão prestes a provocar mudanças transformacionais no setor agrícola e em toda a economia. “A integração destas inovações no mercado de insumos biológicos sinaliza um futuro promissor para a agricultura brasileira, com soluções mais sustentáveis, eficientes e alinhadas às demandas contemporâneas”.

Regulamentações e políticas governamentais

Quando falamos da produção e uso de insumos biológicos na agricultura, é imprescindível considerar as regulamentações e políticas governamentais que direcionam esse setor.

No Brasil, há um reconhecimento internacional quanto à agilidade de seus processos de avaliação. Em comparação com outras regiões, como a União Europeia, onde o tempo para registro de produtos biológicos pode demorar até cinco anos, no Brasil esse período é significativamente menor, variando entre um e dois anos.

Entretanto, a velocidade por si só não é suficiente. Amália explica que é crucial que haja um ambiente regulatório que assegure que os produtos colocados no mercado sejam não apenas eficazes, mas também seguros: “Isso porque, independentemente de serem naturais, esses insumos devem garantir segurança tanto ao meio ambiente quanto ao ser humano”.

E continua: “O setor de biológicos destaca-se por sua complexidade e, consequentemente, é um dos mais regulamentados globalmente. O Brasil, ao reconhecer essa realidade, precisa acompanhar esse rigor regulatório. Contudo, é essencial que essa regulamentação seja adaptada e flexível, levando em consideração o tipo e risco da matéria-prima biológica em questão”.

Conceitos alinhados

Atualmente, as características particulares dos produtos biológicos não se alinham completamente com as regulamentações destinadas a pesticidas e fertilizantes convencionais.

Esses produtos, por sua natureza multifuncional e modo de ação particular, demandam uma adaptação na legislação vigente.

Nesse contexto, a diretora da Croplife menciona o apoio da indústria ao PL 3668.21, que está em tramitação na Câmara dos Deputados, tendo sido recentemente aprovado pelo Senado.

Esse projeto legislativo busca estabelecer uma regulamentação compreensiva para todos os produtos de origem natural. Seu objetivo é atender às necessidades do produtor rural que opta por produzir seus próprios biodefensivos, reduzindo a burocracia, mas sem comprometer a segurança e eficácia dos insumos biológicos.

Ao fazê-lo, espera-se oferecer mais inovação e opções ao produtor, beneficiando, assim, toda a cadeia agrícola.

Demanda por insumos biológicos no Brasil

As práticas de agricultura sustentável têm ampliado a demanda por insumos biológicos no Brasil devido a várias razões interligadas. Primeiramente, Amália Borsari diz que a crescente preocupação ambiental faz dos insumos biológicos uma escolha preferida, pois geralmente possuem menor impacto ambiental, quando avaliados pelos órgãos reguladores.

Além disso, estes insumos oferecem alternativas ao modo de ação dos pesticidas químicos, auxiliando na gestão de resistência de pragas e melhorando a saúde do solo.

Adicionalmente, a busca por alimentos produzidos por fontes renováveis tem motivado produtores a adotar insumos biológicos para atender a esse mercado em expansão. Tal adoção também é influenciada pelo potencial de redução de custos em determinadas situações, principalmente quando associada à gestão integrada de pragas e otimização da saúde do solo.

Por fim, acrescenta a especialista, o ambiente regulatório favorável no Brasil, juntamente com a crescente conscientização sobre sustentabilidade e as demandas de mercados externos por produtos “eco friendly”, consolidam a relevância e o crescimento dos insumos biológicos no cenário agrícola nacional.

Obstáculos à adoção de insumos biológicos

A adoção de insumos biológicos pelos produtores agrícolas enfrenta o desafio intrínseco da cultura estabelecida depender principalmente de insumos de origem química. Este legado, firmemente enraizado na agricultura convencional, frequentemente contrasta com a necessidade de um manejo integrado que requer uma visão mais holística.

A eficácia dos produtos biológicos depende de um entendimento aprofundado de sua interação com outros componentes do sistema agrícola, exigindo técnicas de monitoramento e conhecimento sobre o modo de ação e o momento ideal de aplicação.

Segundo Amália Borsari, o manejo integrado, que combina práticas biológicas, químicas e culturais, pode ser complexo e requer uma capacitação contínua por parte do produtor. “Esta abordagem holística, apesar de oferecer soluções sustentáveis e eficientes a longo prazo, pode ser percebida como um obstáculo inicial, especialmente para aqueles acostumados a soluções químicas de ação rápida e menos integradas”, define.

Impacto dos insumos biológicos

Os insumos biológicos têm desempenhado um papel significativo na otimização e racionalização do uso de produtos químicos agrícolas no Brasil. No entanto, a diretora da Croplife ressalta que o setor, de modo geral, não vê os insumos biológicos como uma substituição completa para a tecnologia química tradicional.

Ao contrário, a abordagem promovida é a do manejo integrado, em que se privilegia o uso de insumos biológicos sempre que possível, recorrendo a soluções químicas de forma otimizada e apenas quando estritamente necessário.

Este modelo de manejo integrado de pragas, amplamente endossado por academia, indústria e instituições de pesquisa, busca maximizar a eficácia do controle de pragas e doenças enquanto minimiza os impactos negativos ao meio ambiente e à saúde humana.

“A combinação estratégica de insumos biológicos com produtos químicos resulta em lavouras mais sustentáveis e resilientes. Assim, o impacto dos insumos biológicos no Brasil se traduz na promoção de uma agricultura mais equilibrada e harmoniosa com o ecossistema”, avalia.

Pesquisa e desenvolvimento

A pesquisa e o desenvolvimento têm sido catalisadores essenciais para os avanços no mercado de insumos biológicos no Brasil. A indústria reconhece o imenso potencial deste segmento e, por isso, tem feito investimentos robustos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

Tal investimento não se limita apenas à criação de novos produtos, mas também à otimização de processos, aumento da eficácia dos insumos existentes e adaptação de soluções às especificidades do agronegócio brasileiro.

A indústria também tem alocado recursos significativos na capacitação de recursos humanos. Isso significa não apenas treinar profissionais já atuantes, mas atrair novos talentos que possam trazer inovações e perspectivas frescas para o setor.

Além disso, enfatiza Amália Borsari, os investimentos na capacidade produtiva refletem a confiança da indústria no crescimento contínuo da demanda por insumos biológicos. “Expandir a infraestrutura e a capacidade de produção garante que, à medida que o mercado cresce, a indústria está pronta para atender às necessidades dos agricultores com eficiência e qualidade”.

Em resumo, a combinação de investimentos em P&D, capacitação de recursos humanos e expansão produtiva está impulsionando o mercado de insumos biológicos no Brasil para novos patamares de excelência e inovação.

Percepção porteira adentro

Os produtores têm recebido as inovações no setor de insumos biológicos com crescente entusiasmo e adoção. Atualmente, não veem o produto biológico meramente como uma alternativa, mas como um componente essencial e obrigatório no manejo agrícola moderno.

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