Autor
Marcelo de Melo Linhares
Engenheiro agrônomo especialista em Proteção de Plantas e consultor Sagra Insumos Agropecuários Ltda
marcelo.de.linhares@terra.com.br
A cafeicultura possui grande importância na agricultura nacional, possuindo influência direta nas relações socioeconômicas do País. Sobretudo, os manejos realizados na lavoura cafeeira são determinantes para a viabilidade de cultivo, assim como para a elevada produção e qualidade dos frutos.
Dentre os manejos realizados, as atividades de pré e pós-colheita vêm se destacando na obtenção de cafés de qualidade, principalmente quando relacionadas com assepsia da planta e dos frutos, visando a menor incidência de fungos e bactérias.
Manejo
As atividades que antecedem a colheita do café são de grande importância no decorrer da safra, visto que as mesmas garantem a sanidade da lavoura, assim como a eficiência na realização desta prática. Normalmente, estas práticas começam a ser realizadas nos meses de abril e maio, dependendo da cultivar plantada, pois algumas possuem maior precocidade na maturação.
Atualmente, algumas técnicas vêm sendo empregadas na cafeicultura visando à realização do manejo pré-colheita, sendo o controle de plantas daninhas, sopração e posteriormente trincha para igualar o solo, assim como a realização de pulverizações foliares à base de fungicidas ou produtos que atuem como preventivos no aparecimento destes patógenos.
Alguns produtos são utilizados via pulverização foliar no cafeeiro buscando a eliminação de possíveis fontes de disseminação de fungos e bactérias. Neste sentido, a utilização de produtos à base de cloro estabilizado, como citado anteriormente, e também fungicidas cúpricos, estrobilurina piraclostrobina e boscalid ganham destaque devido à assepsia que os mesmos proporcionam à planta.
Quando se tratam de doenças provocadas por fungos, como a mancha de phoma e Ascochyta, atualmente definido como “complexo de phoma”, prevenir é sempre a melhor opção e segue a sabedoria popular “prevenir é melhor que remediar”.
Benefícios
Resultados de pesquisas mostram grandes benefícios proporcionados pela aplicação das moléculas boscalid, estrobilurina piraclostrobina e carboxamidas associados aos fungicidas cúpricos na cultura do cafeeiro nestas etapas de pré-colheita sempre respeitando os limites de carência dos produtos para a cultura.
O tratamento pré-colheita vai garantir que o produtor passe esse período de colheita livre das principais doenças que atacam a cultura e também vai baixar a fonte de inóculo na planta, auxiliando assim os manejos pós-colheitas.
A luta continua
Toda região cafeeira apresenta fungos benéficos e maléficos que podem beneficiar ou prejudicar a qualidade de bebida do café. Na melhoria da qualidade cita-se o Cladosporium sp. Na redução da qualidade têm-se, principalmente, o Fusarium sp., Aspergyllus sp. e Penicillium sp. Tais fungos podem atuar na fase de cereja, na planta, nos frutos caídos no solo e também em frutos presentes no terreiro de café, ou seja, os fungos ocorrem em todas as fases do processo de colheita e pós-colheita, praticamente.
Entre os bactericidas/fungicidas naturais, destaca-se a atuação do dióxido de cloro estabilizado, utilizado em pulverizações visando controle de doenças. Em pesquisa realizada por Santinato et al., utilizando estes cloros estabilizados aplicados na lavoura cafeeira via foliar, e no café caído presente sob a copa das plantas, observou-se que, 30 dias antes da colheita, não resultou em ação na quantidade de fungos de Cladosporium sp., Colletotrichum gloeosporioides e Aspergillus sp.
No entanto, reduziu significativamente a quantidade de fungos Fusarium sp. e Penicillium sp. Já quando se aplicou no solo a ação do produto foi eficaz contra os fungos Fusarium sp. e Aspergillus sp., ou seja, a aplicação de cloro estabilizado na lavoura (via foliar) e no café caído (via solo) reduziu os principais tipos de fungos prejudiciais à bebida do cafeeiro.
A não ação do produto na mortalidade de fungos de Cladosporium sp. também é um bom resultado, pois este fungo tem ação benéfica na qualidade da bebida do cafeeiro.
Manejo da lavoura na pós-colheita do café
Sem sombra de dúvidas a colheita do café, sendo esta manual ou mecanizada, acarreta diversas injúrias às plantas do cafeeiro, as quais são observadas tanto nas folhas como nos ramos, e são provenientes do atrito tanto das hastes das colhedoras como das mãos dos trabalhadores, no caso de colheita manual.
Tais injúrias servem como porta de entrada para diversos microrganismos que podem ou não ser prejudiciais fitopatogenicamente ao cafeeiro. Em outras palavras, podem contribuir para o desenvolvimento de diversas doenças, tais como podridão da phoma, antracnose e bacterioses.
Para prevenir tais problemas sanitários, os produtores devem dar continuar aos tratamentos iniciados no pré-colheita com a aplicação das moléculas boscalid, estrobilurina, piraclostrobina e carboxamidas associados aos fungicidas cúpricos que tem sido bastante citados nesta etapa da produção, uma vez que o efeito cicatrizante associado ao efeito tônico promove uma maior retenção foliar, a recuperação da planta e a redução dos inóculos de ferrugem e cercosporiose.
Neste momento de pós-colheita os produtores devem estar realizando este manejo, citado também com o foco na proteção da florada que garantirá a safra seguinte.
A nutrição deve estar sempre equilibrada e nesta fase sempre os produtores devem dar ênfase ao forncecimento de Ca e B. Atualmente temos tecnologia avançada melhorando a eficiência na aplicação via folhas, principalmente utilizando novas tecnologias por meio do uso de cálcio e boro complexado com monoetalonamina e lignosulfonato, que proporcionam o fornecimento destes elementos mais efetivo e rápido à planta, proporcionando assim maior efetividade no pegamento da florada e retenção foliar.
Contudo, como sempre digo: a “arte de produzir café é a arte de fazer folhas” na maior taxa possível, pois comprovamos em várias pesquisas que plantas saudáveis, enfolhadas, livres de pragas e doenças e equilibradas nutricionalmente têm maior produtividade hectare.
Vale a pena?
O custo-benefício do tratamento é impressionante, pois com uma saca de café o produtor realiza todo o tratamento e os estudos de pesquisa e áreas comerciais tratadas evidenciam um aumento médio na produção em torno de 10%.