Colocando em prática algumas das primícias do Comércio Justo, cafeicultores e cafeicultoras brasileiras, que fazem parte de associações e cooperativas de pequenos produtores Fairtrade estão focados em migrar a produção tradicional de café Fairtrade para a agricultura regenerativa e para o sistema de produção orgânica.
Além de atenderem a uma demanda crescente do mercado global, os produtores e produtoras também seguem orientações e apoio da Coordenadora Latino-Americana e do Caribe de Pequenos Produtores e Trabalhadores do Comércio Justo (CLAC), como rede de produtores coproprietária e parte do sistema Fairtrade.
E como os produtos certificados Fairtrade recebem um prêmio adicional no momento da venda – recurso repassado às Organizações de Pequenos Produtores Fairtrade (OPPs) -, projetos inovadores como os voltados a mudanças na forma de produzir são viabilizados. Os resultados podem ser vistos em lavouras e no aumento da renda das famílias.
Na Associação dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde (Ascarive), em Carmo de Minas (MG), o valor do Prêmio Fairtrade é usado para o incentivo à melhoria da qualidade do café e no estímulo à produção orgânica. Quem explica é a diretora da entidade, Maria Paula Rocha.
“Um exemplo de ação que realizamos é um percentual em dinheiro que é repassado ao produtor no momento da venda, referente ao prêmio que recebemos. Mas, esse valor precisa ser investido na melhoria da produtividade e na qualidade do café. E vemos as lavouras bonitas, bem cuidadas e com excelente produção, mesmo durante a seca. Diversos produtores já ganharam prêmios de qualidade de café na região e até em torneios nacionais”, disse.
Além disso, a associação ainda investe em análises de solo, concursos de qualidade de café e doação de materiais para serem usados durante a colheita, como peneiras, panos e equipamentos para montagem de terreiros suspensos e estufas. “Sempre promovemos, junto com parceiros, cursos e treinamentos diversos para os nossos associados. A Ascarive ainda incentiva a participação feminina, que é tão importante para a melhora da qualidade dos grãos. Se não fosse o Prêmio Fairtrade, nada disso seria possível”, destacou Maria Paula.
Outra organização de produtores e produtoras de café Fairtrade que possui um trabalho intenso de incentivo à produção orgânica é a Cooperativa dos Produtores de Café Especial de Boa Esperança (DOS COSTAS), que fica em Boa Esperança (MG). De acordo com o diretor financeiro da cooperativa, João Paulo Pinheiro, a produção orgânica contribui para a agregação de valor e principalmente para a melhoria da qualidade de vida das famílias produtoras.
“Para que esse projeto mantenha um crescimento continuo é oferecido aos produtores assistência técnica especializada no manejo orgânico, cursos, treinamentos e o custeio de despesa com certificação. Todo esse incentivo ofertado pela cooperativa é financiado com o recurso do prêmio Fairtrade, pago mediante a comercialização dos cafés certificados, e não gera nenhum custo adicional aos produtores, tendo como intuito alavancar a produção orgânica. Toda a produção é assistida e monitorada por um agrônomo especifico, que realiza a medição do declínio de produtividade, principalmente no período de transição”, explicou João Paulo.
Esse estímulo à produção de café orgânico cresceu após a participação de representantes da cooperativa em uma feira no exterior, quando se verificou a forte demanda de alimentos orgânicos. De acordo com dados da organização, em anos normais, sem a interferência climática e após o período de transição das lavouras, a produção do café orgânico é próxima ao café convencional.
“Como a remuneração dos cafés orgânicos são melhores, os produtores conseguem alcançar uma melhor lucratividade por hectare. Porém, no período de transição existe uma queda drástica na produtividade, e o produtor atingirá seu ponto de equilíbrio após o 5º ano da mudança de forma de cultivo”, destacou o diretor financeiro.
AGRICULTURA REGENERATIVA – No município de Paraguaçu, no Sul de Minas Gerais, a Cooperativa Mista Agropecuária de Paraguaçu (Coomap) está implantando um projeto inovador nas lavouras dos cooperados. Trata-se da migração para a agricultura regenerativa. O gerente de sustentabilidade da cooperativa, Rogério Araújo Pereira, explicou como está sendo esse processo de mudança nos tratos culturais das lavouras.
“Esse trabalho é o foco da cooperativa atualmente. Contratamos um consultor para nos ajudar na implantação desse manejo, que acreditamos que trará muitos benefícios aos cooperados. Decidimos implementar a agricultura regenerativa porque o mercado Fairtrade exige cada vez mais cuidado com o meio ambiente e por conta da suspensão do uso do glifosato”, informou.
Rogério explicou que o manejo requer o plantio de plantas forrageiras no meio da lavoura e o uso de produtos biológicos. Assim, segundo Rogério, as plantas terão uma maior resistência a pragas e doenças e os fertilizantes serão mais eficientes, pois o solo deixará de ser compactado.
“Temos hoje cerca de 850 cooperados, e cerca de 60% a 70% já estão aderindo a esse manejo, que com certeza trará aumento de produtividade e uma redução de custo, além de aumentar a matéria orgânica e fornecer uma cobertura ao solo, diminuindo o estresse hídrico e impedindo que plantas de difícil controle apareçam”, detalhou.
Com os recursos do Prêmio Fairtrade, a Coomap está subsidiando a compra de sementes de plantas de cobertura. A implantação em cada hectare gira em torno de R$ 300 a R$ 400 e a cooperativa custeará cerca de 50% desse valor.