Muriel Cicatti Emanoeli Soares
Engenheira agrônoma e Analista de Pesquisa e Desenvolvimento – Technes
Seja o produto orgânico ou organomineral, uso para solo ou foliar, muito tem se falado sobre aqueles que garantem Carbono Orgânico em sua composição.
Temos que pensar que o elemento Carbono está sempre associado a alguma molécula. Ele pode estar presente na composição dos aminoácidos, dos carboidratos, nos fitormônios, nas substâncias húmicas, na lignina e nos mais variados compostos.
Por isso, independentemente da quantidade de Carbono Orgânico que um produto contém, o mais importante é ficar atento quanto à sua origem, atividade e biodisponibilidade sobre a planta e/ou solo.
Ele sempre estará presente na forma de algum composto e temos que entender como esse composto atua na planta ou no solo.
Matéria orgânica bioestabilizada
Matéria orgânica bioestabilizada, como a turfa, tem alta concentração de carbono (cerca de 58% da MO é carbono). Esse carbono, em grande parte, está presente nas substâncias húmicas. Dentre as elas, a humina é altamente estável e insolúvel, tendo ação apenas estrutural nos solos.
Ácidos fúlvicos são moléculas pequenas e altamente solúveis, que podem facilmente ser absorvidas pelas raízes e ter ação na fisiologia da planta. Isso nos diz que uma matéria orgânica pode ter diferentes compostos, cada um com uma ação diferenciada sobre a planta e/ou solo.
É fato que todas as plantas necessitam de uma fonte de carbono. Isto é tipicamente obtido a partir da fotossíntese, com a absorção do CO2 atmosférico, gerando carboidratos e outros compostos necessários para a sobrevivência dos indivíduos.
Aplicação
A aplicação por via foliar de aminoácidos, extrato de algas, melaço e outros fertilizantes organominerais tem como objetivo observar a ação desses elementos propriamente ditos no interior das plantas.
Os aminoácidos apresentam ação fisiológica, hormonal e estrutural. O extrato de algas tem ação hormonal e atua como um regulador anti-estresse. O melaço é composto por carboidratos/açúcares e, por isso, não tem ação fisiológica, apenas é fonte energética de rápida assimilação.
Porém, ao aplicarmos esses elementos nas folhas, eles carregam consigo, em sua estrutura, o carbono, que pode ou não ser biodisponibilizado, de acordo com a necessidade da planta.
40% de carbono
Um aminoácido pode ter mais de 40% de carbono em sua estrutura, podendo servir como fonte de carbono e de energia para uma planta, e não ser utilizado para o que de fato se destina. Quando uma planta entra em estresse e diminui sua taxa fotossintética, seus fotoassimilados se tornam insuficientes.
Assim, a planta quebra um aminoácido em amônia e ácidos orgânicos, que constituíam originalmente sua molécula. Esses ácidos orgânicos entram no ciclo de Krebs, e são quebrados, liberando energia através da respiração.
Proteossíntese
É importante destacar que a planta, ao absorver um aminoácido, realizará a proteossíntese, formando as proteínas necessárias para sua estruturação e defesa. Sendo assim, o carbono absorvido através dos aminoácidos permanece de forma “protegida” nas proteínas, podendo ser requisitado conforme necessidade.
O melaço, por apresentar carboidratos de rápida assimilação, embora apresente alto teor de carbono em sua molécula, não o mantém estável por muito tempo. Esses carboidratos rapidamente são consumidos pela planta para a geração de energia e o carbono é liberado na forma de CO2 na respiração, não ficando ativo na planta.
A maioria dos técnicos da área agrícola tomam o teor de carbono orgânico de um fertilizante como referência de qualidade de produto. No entanto, esta interpretação pode levar à não compreensão do produto analisado. O mais importante é saber qual é a fonte desse carbono orgânico. Devemos analisar mais a fundo, pesquisar do que é feito o produto para sabermos se possui ou não atividade biológica sobre a planta ou solo.