Valter Rodrigues Oliveira
Pesquisador da Embrapa Hortaliças
A cultivar, sozinha, não é garantia de sucesso de uma lavoura de cebola, mas a escolha equivocada certamente comprometerá a produção, podendo até inviabilizar a lavoura.
As cultivares de cebola variam substancialmente quanto à região de adaptação, época de plantio, exigências nutricionais, potencial produtivo, resistência/tolerância a pragas, padronização comercial, qualidade pós-colheita e ciclo de cultivo.
Há grande variação de ciclo entre as cultivares, de modo que para uma dada região e época de plantio é habitual separar as cultivares recomendadas em superprecoces, precoces, de ciclo normal e, em alguns casos, tardias.
Precocidade, portanto, se refere à habilidade da cultivar completar seu ciclo de vida mais cedo do que outras plantadas em condições similares. No caso da cebola, a precocidade pode estar associada à capacidade da planta de iniciar a bulbificação mais cedo e/ou de encurtar a fase de formação e maturação dos bulbos.
O ciclo é inerente a cultivar, mas sofre influência muito forte das condições de cultivo. Fatores que atuam mais intensamente no crescimento da planta, tais como: comprimento de dia, temperatura, luminosidade, nutrição, adubação, água, modificam o crescimento e, consequentemente, o ciclo de vida da planta, e dificultam estabelecer com precisão o ciclo de uma cultivar.
Interação de fatores
Apesar de o comprimento de dia ser o principal componente ambiental envolvido na bulbificação, a interação entre fotoperíodo e temperatura é tal que o fotoperíodo mínimo para uma cultivar nunca pode ser definido sem considerar a temperatura correspondente.
Precocidade tem sido uma característica buscada no melhoramento da cebola para todas as regiões de cultivo. O encurtamento do ciclo da cebola traz aspectos positivos para o agricultor, como: maior eficiência no uso da terra, pois o ciclo curto proporciona maior flexibilidade de rotação de culturas; possibilidade de escape a estresses bióticos (pragas) e abióticos (por exemplo, a excesso/falta de chuvas e/ou a altas/baixas temperaturas); chance de redução no número de entradas na área para manejo de pragas, com consequente redução no uso de agrotóxicos e no custo de produção; possibilidade de redução no uso da irrigação e até no consumo de água e nutrientes; oportunidade de ajustar a lavoura para colheita em períodos de melhores preços (antecipação).
Desafios
Apesar de serem inúmeros os aspectos positivos proporcionados pela precocidade, desenvolver cultivares de cebola que associem precocidade, alto potencial produtivo e boa conservação pós-colheita é um desafio.
Precocidade e longevidade pós-colheita, em geral, seguem direções opostas, ou seja, cultivares precoces tendem a ter longevidade pós-colheita menor. Isso porque quanto menor o ciclo da cebola, menor é o acúmulo de matéria seca e de compostos orgânicos que, além de conferir sabor e odor característicos da cebola, conferem proteção para a cebola contra a ação de microrganismos causadores de apodrecimento pós-colheita.
É importante lembrar que, assim como o ciclo de uma cultivar pode ser sensivelmente alterado pela ação de fatores do ambiente, a qualidade pós-colheita depende das condições da lavoura nos aspectos de sanidade, nutrição, adubação, manejo da água e, principalmente, cuidados na colheita e cura. Se essas etapas forem observadas com rigor, cebolas precoces de excelente qualidade poderão ser produzidas, sem ter que lançar mão de cultivares de ciclo mais longo.