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Qual a eficácia dos bioestimulantes em cebola?

Os bioestimulantes podem ser uma opção eficaz para aumentar a produtividade e a qualidade da cebola.

Cláudia Lopes Prins
Engenheira Agrônoma e professora – Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
prins@uenf.br

A cebola (Allium cepa) é uma hortaliça cujo órgão comercializado/consumido é o bulbo, composto por estruturas foliares que armazenam reservas. A cultura é caracterizada pelo crescimento inicial lento e apresenta baixa cobertura foliar, o que a torna sensível, por exemplo, à competição com plantas daninhas/invasoras.
Assim, tecnologias que promovam o crescimento e sanidade foliar são sempre fundamentais no manejo da produção de cebola.

Por onde começar

Promover o adequado desenvolvimento foliar e demais processos que favoreçam a atividade fotossintética em cebola é importante, porque ao longo do período de desenvolvimento do bulbo os produtos da atividade fotossintética são prioritariamente direcionados para o crescimento deste.
Outro aspecto importante associado à cultura é o sistema radicular pouco profundo e com capacidade limitada de absorção em função da restrita ramificação e produção de pelos radiculares.
Isso faz com que a cultura tenha baixa capacidade de exploração do solo e a torna vulnerável à seca e limitada disponibilidade de nutrientes. Diante dessas características, é possível observar que práticas que aumentem a eficiência do uso da água e nutrientes também são de grande importância na produção de cebola.

Compostos naturais

O desenvolvimento de pesquisas que têm permitido maior compreensão sobre a ação de compostos de origem natural (compostos microbianos ou não microbianos, que estimulam o crescimento e produção vegetal) tem crescido nas últimas décadas.
Trata-se de uma tecnologia com grande potencial de aplicação nas diversas culturas de hortaliças, ganhando cada vez mais adeptos, assim como apoio governamental para a ampliação de seu uso.

Entenda melhor

A denominação bioestimulante caracteriza uma ampla gama de compostos bioativos presentes em materiais vegetais e microrganismos (compostos com nitrogênio, hidrolisados de proteínas, aminoácidos, extratos de alga, ácidos fúlvicos e húmicos, bactérias e fungos), que estimulam o crescimento, a produtividade, a eficiência do uso de nutrientes e conferem tolerância a vários fatores de estresse bióticos e abióticos.
Em resumo, os bioestimulantes têm como objetivo estimular o crescimento e promover a melhoria do desempenho das plantas. Bioestimulantes não são considerados fertilizantes ou defensivos. Eles atuam como “primers” ou indutores de respostas a fatores bióticos e abióticos.

Para a cebola

Na cultura da cebola, os bioestimulantes têm apresentado benefícios relacionados a aspectos fisiológicos, bioquímicos e nutricionais que se refletem no aumento da produção e da qualidade dos bulbos.
As pesquisas indicam atividades em diversos processos que culminam no benefício geral da produção. Em estudo com aplicação de Trichoderma asperellum, o efeito benéfico sobre a produção foi associado ao aumento dos teores de proteínas, de macronutrientes e da atividade fotossintética, assim como o favorecimento dos processos antioxidantes promovido pelo fungo.

Recomendações

A aplicação de bioestimulantes pode ser realizada durante a fase de cultivo comercial, mas também pode ser feita durante a produção de mudas, ou ainda nas sementes. O tratamento de sementes com aminoácidos aumentou a taxa de germinação e a concentração de pigmentos fotossintéticos em cebola.
Já a aplicação de bioestimulantes comerciais à base de alga (Ascophyllum nodosum) apresentou resposta dependente da dose, cultivar e variável analisada. A concentração também foi fator importante em trabalho avaliando a aplicação do extrato da mesma alga.
Os autores observaram que concentrações menores (5.500 ppm) permitiram melhor germinação e crescimento radicular, enquanto as concentrações maiores (6.500 ppm e 7.500 ppm) não foram benéficas para o crescimento das mudas.
O vigor das mudas é importante para o crescimento posterior dos bulbos. Sabe-se que mudas bem desenvolvidas apresentam maiores percentuais de pegamento no campo, são menos suscetíveis ao choque de transplantio e podem influenciar positivamente na produção.
A aplicação de ácidos húmicos em mudas de cebola contribuiu para melhoria dos atributos de qualidade das mudas (maior teor de açúcares, proteínas e prolina) segundo pesquisa desenvolvida por Bettoni et al (2014). Os autores verificaram, ainda, que a interação entre ácidos húmicos, fungos micorrízicos e enriquecimento com CO2 apresentou os melhores resultados.

Soma de fatores

A combinação de diferentes bioestimulantes também é possível, porém, as respostas são variáveis em função dos produtos combinados e culturas avaliadas. Algumas combinações podem ser eficientes para uma cultura e não apresentarem o mesmo resultado para outra.
Ou, ainda, um bioestimulante apresenta efeito sinérgico apenas com outros grupos específicos de bioestimulantes.
Uma vez que o produtor opta por utilizar bioestimulantes em sua lavoura, deve atentar para algumas características, como, por exemplo, concentração de ingredientes, dose, momento de aplicação, método de aplicação e cultura-alvo.
É importante considerar que as respostas à aplicação de bioestimulantes são muito variáveis e dependem de fatores como clima, tipo de solo, teor de matéria orgânica, métodos de preparo do solo, forma de rotação de culturas, entre outros.

Critérios

A aplicação de bioestimulantes pode ser realizada por meio de diversas técnicas, que vão desde o tratamento de sementes, passando pela aplicação em sulcos de plantio, diretamente no colo da planta ou por meio de pulverizações nas folhas.
Fatores associados ao método de aplicação podem ser responsáveis pela variação de efeitos. Inicialmente, deve-se certificar que todos os componentes do sistema de cultivo estão sendo conduzidos de forma adequada.
Caso haja uma falha, por exemplo, no manejo nutricional, a planta pode não ser favorecida pelos efeitos benéficos dos bioestimulantes, já que se encontra com o crescimento comprometido. Uma vez constatado que a planta se desenvolve bem, outros fatores, como dose do bioestimulante, fase de desenvolvimento da cultura e modo de aplicação (técnica e cobertura) precisam ser avaliados.
No entanto, há, ainda, outros aspectos a serem considerados, como as condições ambientais (edafoclimáticas) no momento da aplicação e a compatibilidade entre produtos. A aplicação dever ocorrer em períodos mais frescos do dia para evitar, por exemplo, a degradação de compostos ou a morte de microrganismos em função de temperaturas elevadas.
Quanto à compatibilidade, é necessário saber se a mistura do bioestimulante de classes diferentes ou com outros produtos normalmente utilizados no manejo da cultura é recomendada ou não. A incompatibilidade de produtos pode levar ao insucesso da adoção da prática.

Viabilidade

Estudos da viabilidade técnico-econômica da aplicação de biofertilizantes têm sido realizados para grandes culturas, como a soja, havendo pouca informação relativa às culturas de hortaliças. Há indicações de que é uma prática viável. No entanto, depende do bioestimulante e da cultura analisada, ou seja, cada caso deve ser estudado em sua especificidade.
Os erros mais comuns estão associados à aplicação e à mistura de produtos. É importante também realizar testes em pequenas áreas da produção para observar os efeitos e determinar a adoção do uso de um determinado bioestimulante.
Consultar o engenheiro agrônomo é sempre importante e atentar para a qualidade dos produtos utilizados para que tenham garantias de origem e composição, assim como verificar se já foram realizadas pesquisas indicando o potencial de uso do bioestimulante para a cultura a ser tratada.

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