Otávio José de Figueiredo – Engenheiro agrônomo e mestrando em Fitotecnia/Agronomia – ESAL-UFLA – otaviofigueiredo460@gmail.com
Marina Scalioni Vilela – marinasv3p@gmail.com
Alisson André Vicente Campos – alissonavcampos@yahoo.com.br
Engenheiros agrônomos e doutorandos em Fitotecnia/Agronomia – ESAL-UFLA
Lavouras de alta produtividade devem ter como base o perfil de solo bem corrigido em termos de acidez e de alta disponibilidade de cálcio em profundidade para não impedir o crescimento do sistema radicular, com equilíbrio na relação cálcio, magnésio e potássio.
No atual modelo agrícola, as altas produtividades são fundamentadas por técnicas que visam a melhor utilização de recursos, como solo e água. De maneira paradoxal, estes recursos também são os principais limitantes para as altas produtividades, já que disponibilidade de água e nutrientes são fatores indispensáveis às plantas cultivadas.
Neste panorama, aspectos relacionados com manejo do solo são amplamente estudados, com o intuito de proporcionar às plantas um ambiente compatível com sua capacidade produtiva. Assim, os solos com perfis bem construídos, com adequada correção, teores ótimos de nutrientes e capacidade de armazenamento de água são as principais formas de se atingir boas produtividades.
Base do solo
A aplicação de corretivos, como o calcário, garante o fornecimento de bases importantes, como cálcio e magnésio, além de neutralizar a acidez e toxicidade do alumínio, elemento tóxico para o crescimento de raízes. A aplicação de corretivos também propicia a maior eficiência e aproveitamento das adubações por meio do aumento da capacidade de troca catiônica (CTC).
Dicas
O preparo do solo é um manejo indispensável para alcançar altas produtividades. A correção em profundidade, com a devida aplicação de corretivos e condicionadores, como o calcário e gesso agrícola, deve ser o primeiro passo a ser tomado para a implantação das lavouras, indiferente se estas possuem ciclos anuais ou perenes.
Após a correção do solo, a aplicação de nutrientes e o equilíbrio entre as bases (Ca++, Mg++, K+) deve ser atingido em todo o perfil. As características físicas dos solos cultivados também devem ser monitoradas, com o intuito de fornecer de forma adequada para as raízes das plantas, água e oxigênio.
Evolução do sistema
Ao longo dos anos de cultivo, as técnicas de manejo e correção devem ser monitoradas, para garantir o fornecimento adequado de nutrientes e ainda manter as relações entre nutrientes em equilíbrio, já que a própria aplicação de fertilizantes, com o tempo as descompensa e acidifica o solo.
O manejo adequado da fertilidade e estrutura dos solos apresenta o maior retorno em produtividade. Já os impedimentos químicos e físicos são os principais limitantes da produtividade. Lavouras cultivadas em solos corrigidos com elevada saturação de bases tem maior capacidade de exploração do solo e, consequentemente, de recursos como água e nutrientes, o que garante grande retorno do valor investido nas técnicas de manejo.
Por outro lado, plantas que crescem em ambientes bem manejados e absorvem nutrientes de maneira equilibrada apresentam menor incidência de doenças e ataques de pragas.
Na prática
A construção da fertilidade do solo e o manejo com foco no sistema como um todo, não apenas em fatores isolados, contribui para a melhoria do ambiente de produção, o que resulta em ganhos em produtividade do cafeeiro.
O uso de práticas de manejo integradas com foco na cobertura do solo e incremento da matéria orgânica do solo, como plantas de cobertura e condicionadores de solo, como a casca de café e composto orgânico, permitem a melhoria de atributos químicos e físicos do solo, como aumento da umidade e CTC do solo. Essas técnicas, quando bem manejadas, podem contribuir para aumentos de produtividade de mais de 100%, quando comparados ao manejo convencional.
No caminho
Dentre os erros mais frequentes cometidos pelos produtores, se destacam aqueles cometidos logo no início da atividade, como a não realização da análise de solo, com as respectivas correções e adubações.
Aliado a isso, ressalta-se o preparo de solo inadequado, além de não ser realizada a correção do perfil do solo, o que prejudica o estabelecimento inicial e o desenvolvimento de raízes, culminando na menor tolerância aos períodos de seca e veranicos e prejudicando a produtividade e longevidade da lavoura.
A correção do perfil do solo antes da implantação da lavoura, com o preparo do solo profundo e realização das adubações de maneira adequada, permitem o melhor estabelecimento e desenvolvimento do cafeeiro, o que certamente irá refletir em maiores produtividades.
O manejo do solo, com diferentes tipos de plantas de cobertura, que permitam a diversificação do sistema, são essenciais para o desenvolvimento de uma lavoura saudável, sustentável e produtiva.
A casca de café, insumo produzido em abundância nas propriedades cafeeiras, configura-se como importante fonte de potássio ao cafeeiro, podendo ser utilizada como fonte complementar à adubação química, além de proporcionar o aumento da retenção de água no solo, favorecendo o ambiente para o melhor desenvolvimento radicular das plantas, sendo importante alternativa para aumentar a tolerância das plantas ao estresse hídrico, principalmente quando associado às plantas de cobertura e fertilizantes de eficiência aumentada, conforme mostrado em estudos realizados na UFLA.
Detalhes que fazem a diferença
O calcário é um excelente corretivo do solo, devendo ser aplicado em condições para a neutralização da acidez trocável, elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis e saturação por bases. Doses acima de 5 t ha-1 são indicadas o seu parcelamento para que não ocorra elevação excessiva do pH (supercalagem).
O uso de “Filler”, calcários que possuem menor granulometria, apresentam reação mais rápida no solo. Além disso, a utilização de gesso agrícola é uma forma interessante de fornecer nutrientes em profundidade, sem a necessidade de revolver o solo, promovendo efeito de condicionador.
Esse manejo tem a vantagem de ser realizado simultaneamente À aplicação do calcário, economizando operações mecanizadas. No entanto, é importante ressaltar que a solubilidade do gesso é maior do que o calcário, reagindo primeiro.
Investimento
As correções do solo e, consequentemente, fornecimento de cálcio e magnésio, são custos de produção relativamente baixos, com o preço médio de R$ 86,59 em MG. Em comparação a adubações nitrogenadas e potássicas, subiram 206,9 e 216%, respectivamente, em 2021 em relação 2022.
Porém, o ambiente adequado para o desenvolvimento radicular, livre de impedimentos químicos e físicos, proporciona uma importante estratégia para a formação e produção das lavouras cafeeiras. O preparo do solo em profundidades de 20 cm demanda tratores mais potentes para uso dos implementos que incorporem os corretivos.
Esse custo pode ultrapassar R$ 200,00/hora de trabalho. Enquanto isso, a adubação corresponde a cerca de 32,2% do custo de produção na cafeicultura.
O manejo da nutrição mineral das lavouras é muito impactante na sua produção, assim como todas as condições que fornecem o correto desenvolvimento da cultura. O primeiro passo para uma lavoura produtiva é ter a análise de solo em mãos para a correção do solo e posterior adubação.
Nitidamente, esses conceitos básicos ainda são deixados de lado por alguns produtores, afetando a produtividade. Solos que apresentam acidez elevada e presença de alumínio reduzem significativamente a produção do cafeeiro. A saca de café, atualmente, está acima de R$ 1.480,00 bebida tipo 6, demonstrando que cada saca de café produzida a mais contribuirá fortemente com a lucratividade do cafeicultor.