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Viveiro suspenso: Nutrição dos porta-enxertos de seringueira

Autores

José Geraldo MagesteEngenheiro florestal, Ph.D e professor – Universidade Federal de Uberlândia (ICIAG/UFU)jgmageste@ufu.br

Vinícius Evangelista da Silva Engenheiro florestal e doutor em Solos e Nutrição de Plantas – viniciusesilva@yahoo.com.br

Mudas de seringueira – Crédito: Paulo Brito

A produção de porta-enxertos de seringueira em viveiro suspenso passou a ser uma exigência legal para evitar a contaminação das áreas plantadas por nematoides. Esta exigência iniciou no Estado de São Paulo e hoje já é comum em quase todos Estados da Federação.

Se, por um lado, esta exigência mostrou-se eficiente para o controle deste patógenos que tantos prejuízos tem trazido aos seringais de cultivo, por outro, veio exigir uma mudança na tecnologia de produção de mudas para obtenção de resultados satisfatórios.

Continuam as exigências para uma seleção de sementes de porta-enxertos de alta qualidade, com vigor e, preferencialmente, advindas de plantios monoclonais. Esta uniformização das sementes facilita o manejo e os tratos silviculturais no futuro viveiro suspenso.

Nutrição dos porta-enxertos

Primeiramente, deve ser lembrado que, apesar de o viveiro ser suspenso, continua a exigência de uma sementeira no solo para germinação das sementes. Esta sementeira facilita a seleção inicial das plantículas, selecionando aquelas de crescimento inicial mais vigoroso, que produzirão os porta-enxertos em menor tempo de cultivo.

Deve haver uma seleção na sementeira de pelo menos quatro grupos de plantas pela ordem de germinação. Isto facilitará os tratos silviculturais no futuro viveiro suspenso.

A sementeira pode ser feita com serragem curtida ou areia lavada de textura média. Não existem preocupações com a nutrição das plantículas, já que elas serão transplantadas, seja na fase de paliteira ou pata de aranha. O que não pode faltar é a água. A irrigação da sementeira deve ser diária ou até duas vezes ao dia se a UR (Umidade Relativa do Ar) estiver abaixo de 30%.

A preocupação com nutrição adequada dos porta-enxertos inicia no viveiro (suspenso). Assim, tem que ser levado em consideração a composição do substrato a ser usado. Muitas vezes existe uma preocupação com a textura e a capacidade de umidificação do mesmo, esquecendo-se do seu papel na nutrição das plantas.

Importância do magnésio

De maneira geral, sabe-se que a seringueira é muito exigente em magnésio (Mg), tanto que as formulações de adubações são compostas de NPK Mg. Inicialmente se diz que a plantícula de seringueira está “mamando”, pois a semente a acompanha por meio de dois sustentáculos, e realmente tem a função de fornecer nutrientes e carboidrato até a formação dos primeiros pares de folhas.

Nesta fase a disponibilidade de nitrogênio pode ser satisfeita quase exclusivamente pelo substrato no tubete. O uso de uma fonte de esterco de gado ou de aves (5 a 10% do volume) no substrato cumprirá adequadamente esta função. Em muitos viveiros têm-se utilizado fontes de fósforo lentamente disponível, como os fosfatos naturais, na composição do substrato.

Assim, com o crescimento das mudas o fósforo também vai se tornando disponível. Existem muitos estudos sobre elementos protegidos ou de liberação lenta que podem ser consultados na literatura ou esclarecidos por um engenheiro florestal experiente. A quantidade de fosfato natural no substrato não deve passar de 2% em volume.

Manejo

Então, a nutrição das mudas (porta-enxertos) no futuro viveiro suspenso já se inicia com a preparação do substrato. Além das características de textura, porosidade e umidificação, deve ser levado em consideração a capacidade de fornecer adequadamente alguns nutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio.

Conforme dito anteriormente, ao invés de se recomendar o uso de formulados (NPK Mg) com fontes prontamente solúveis, uma boa medida é usar parte do fósforo fornecido por fosfatos parcialmente acidulados ou protegidos.

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A mistura de até 1,5% em volume de fosfato natural tem facilitado o crescimento das plântulas nas fases inicial e posterior, antecipando o ponto de enxertia. Assim, recomenda-se o uso deste tipo de fonte de fósforo, complementado com outras fontes prontamente disponíveis, como superfosfato simples, triplo ou termofosfatos.

Próximo passo

A preocupação com o nitrogênio, potássio, magnésio e micronutrientes aparece após a plântula se desmamar (geralmente após a emissão do segundo lançamento ou até 3 meses após o transplante da sementeira. Normalmente são usados tubetes de até 450 ml de volume (já existem viveiros com embalagens de até 1.200 ml), facilitando o desenvolvimento inicial das plântulas em termos de parte aérea e sistema radicular.

Observações constantes sobre o desempenho do substrato no quesito conservação da umidade são muito importantes para acompanhamento do estado nutricional das plântulas. Substratos que facilitam o escoamento da água de irrigação devem ser evitados e necessitam ser complementados com soluções nutritivas com nitrogênio e magnésio (nunca ultrapassando 2,5% em volume).

As cloroses, ou “espinha de peixe” com amarelecimento entre as nervuras, demonstram a necessidade imediata de adubação com magnésio. Ele deve ser feito por meio da irrigação com sulfato de magnésio (sem outro sal qualquer), em até 3% do volume de água, distribuído regularmente sobre as plântulas, sem preocupação com o “molhamento” das folhas.

Na região centro-sul do Brasil, na chamada Região de Escape (por causa do mal-das-folhas), o desenvolvimento inicial das plântulas de seringueira coincide com a ocorrência de temperaturas amenas ou baixas.

Nesta condição, existe uma redução considerável do metabolismo das plântulas e os nutrientes da água de irrigação conseguem satisfazer as exigências iniciais (principalmente o nitrogênio).

Observações constantes do aspecto do limbo foliar e o ganho em crescimento em diâmetro do coleto indicarão a necessidade de adubações complementares com micronutrientes. Mas, com a chegada da primavera e, principalmente do verão, as plântulas devem ser nutridas com formulados NPK Mg, a exemplo do 10-10-10-06.

Esta observação e ação devem ser maiores para os lotes de plântulas (porta-enxertos) que serão enxertados e transplantados até o final do verão, ou até janeiro do próximo ano.

Fontes nutricionais alternativas

Constantemente se pergunta sobre uso de ácido húmico ou fontes alternativas de nitrogênio em viveiros em suspensão. A resposta é que não existe nenhum impedimento, principalmente em si pensando na quase inexistência de possibilidade de toxidez das plantas.

Os fertilizantes solúveis devem ser preferencialmente usados nos viveiros suspensos, dada a sua facilidade de obtenção como a resposta quase imediata da aplicação. Mas, lembra-se, novamente, que plântulas fertilizadas somente devem ser enxertadas após 30 dias. É a mesma regra para os viveiros conduzidos no solo. O “pegamento” de enxertos será melhor em porta-enxertos sadios e bem nutridos.

Mais produtividade

Nada difere dos viveiros conduzidos no chão. Os viveiros suspensos são eficientes para o controle da disseminação de nematoides. Um substrato de qualidade possibilita às plantas um bom desenvolvimento inicial e ganhos em diâmetros que facilitam a enxertia em curto espaço de tempo.

O uso de sulfato de magnésio, junto com micronutrientes como ferro, cobre, zinco e manganês, em soluções (de até 3,0 % em volume) aplicadas a cada 25 dias, proporcionou a enxertia em viveiros suspensos com cinco meses de idade, na região do Triângulo Mineiro. É lógico que este desempenho se deu também pelas condições climáticas adequadas.

A escolha do substrato é fundamental para o viveiro suspenso. Em alguns casos, notou-se a perda total do mesmo após três meses de existência. Isto resultou na perda de quase todas as plântulas sem haver enxertia ainda.

O mais frequente é se assustar com os sintomas de deficiências de nutrientes, principalmente magnésio, potássio e micronutrientes e aplicar doses “cavalares” de nutrientes, pensando que a deficiência será corrigida da “noite para o dia”. É necessário ter paciência, acertar a dosagem mínima, não causar salinização do substrato e entender que se trata de um viveiro suspenso, logo, com limitações de volume para receber toda a fertilização fornecida por meio da irrigação.

Observações diárias do estado nutricional dos porta-enxertos são a melhor maneira de se evitar erros nutricionais. Procure estudar e qualificar com precisão os sintomas apresentados. Eles podem gerar confusões. Troque experiência com engenheiros florestais qualificados. Lembrando que a qualidade da muda é fundamental para a formação de um bom seringal. Pense nisto.

Custo x benefício

O custo de fertilização adequada do porta-enxerto é muito pequeno em relação ao preço da muda. Ele não chega a 4 % do valor final. Mudas vigorosas são resistentes a intempéries climáticas.

Lembrando que a fertilização do porta-enxerto vai reduzir o tempo da muda no viveiro suspenso. Viveiros suspensos possuem custo de irrigação superior aqueles no solo, mas quanto mais rápido as mudas forem produzidas, menor será o custo de energia, mão de obra e, principalmente, com a manutenção do viveiro.

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