Harianna Paula Alves de Azevedo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitotecnia e professora – Faculdade de Ciências e Tecnologias de Campos Gerais (FACICA)
harianna_tp@hotmail.com
Mariana Thereza Rodrigues Viana
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
marianatrv@gmail.com
O feijão é das culturas mais importantes para o brasileiro, por ser um alimento base. Na safra atual 2022/23, a produção está estimada em cerca de 3,07 milhões de toneladas.
O cultivo do feijão no Brasil está embasado na agricultura familiar, sendo que alguns pequenos produtores dependem da cultura para sua subsistência. O Brasil também é um grande exportador de feijão.
Tecnificação
O cultivo do feijoeiro está presente no Brasil há séculos, e tem se tornado cada vez mais tecnificado. A utilização de produtos com melhores tecnologias, aliado a melhores condições de manejo em campo, tem aumentado a produtividade da cultura. Insumos como os bioestimulantes têm ganhado o mercado agrícola, e para o feijão não está sendo diferente.
Um dos bioestimulantes que tem ganhado a preferência dos produtores são aqueles à base de algas marinhas, sendo diversas as espécies utilizadas. Esses produtos possuem diversos nutrientes e compostos que melhoram o desenvolvimento do feijoeiro.
Essencialidade
As algas contêm uma variedade de macro e micronutrientes essenciais ao feijoeiro, como nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio, cálcio e enxofre. Os fitormônios presentes nestas algas atuam como reguladores de crescimento, sendo benéficas para o desenvolvimento do feijão, podendo estimular o sistema radicular, a floração e, consequentemente, a produção de grãos.
São ricas em aminoácidos que auxiliam na síntese de proteínas, também contribuindo para o melhor desenvolvimento da planta. Outro composto presente nelas é o ácido algínico, que possui propriedade quelatizantes, formando complexos com íons metálicos e melhorando a disponibilidade para o feijoeiro.
Também possuem compostos antioxidantes, que protegem as plantas de danos causados por espécies reativas de oxigênio, podendo ajudar na resistência a estresses ambientais e manter a sanidade das plantas.
Versatilidade
As algas marinhas também podem ser utilizadas como inoculantes radiculares e promover um melhor desenvolvimento nestes aspectos. Todos os compostos já citados anteriormente são capazes de estimular o crescimento em profundidade e volume de raiz, resultando em maior eficiência de absorção de nutrientes e aproveitamento deles.
Alguns fitormônios, como o grupo das auxinas, presentes nas algas marinhas, têm papel fundamental no desenvolvimento radicular do feijoeiro. A presença destes hormônios estimula as raízes explorarem melhor, e de maneira mais uniforme, o perfil do solo.
Além do aumento do sistema radicular, as algas também influenciam na absorção de nutrientes de maneira mais eficiente, tornando-os mais prontamente disponíveis para as raízes do feijoeiro, incluindo o nitrogênio, que é um dos elementos mais importantes na produção do feijão, pois é necessário para a síntese de proteínas, enzimas e várias outras moléculas.
A aplicação das algas marinhas como inoculantes em feijoeiro é eficiente ao criar um ambiente favorável para o sistema radicular, porém, ainda se faz necessário mais estudo a respeito das dosagens adequadas ao cultivo.
Técnicas adequadas
A aplicação de algas marinhas pode ser feita via solo ou foliar. Essa última tem como vantagem que os nutrientes e compostos benéficos sejam absorvidos diretamente pelas folhas do feijão, quando há um fornecimento rápido também de nutrientes essenciais.
Essa vantagem é ainda mais potencializada quando o plantio está em solos com baixa capacidade de retenção de nutrientes, evitando perdas nesse processo.
Em momentos do ciclo do feijoeiro que são críticos para a produção eficiente, como a época de floração, a aplicação foliar de algas marinhas pode ajudar nas fases em que o requerimento por nutrientes e água é aumentado, e resistir a algum estresse ambiental que possa vir a acontecer nesse período.
Cuidados
Deve-se sempre levar em conta que a eficácia das aplicações é dependente da formulação dos produtos, devendo-se aplicar aqueles que são registrados para o feijoeiro, na dosagem especificada pelo fornecedor.
O tratamento de sementes do feijoeiro com algas marinhas pode trazer benefícios nas fases iniciais do plantio. A presença de giberelinas nas algas marinhas estimula a germinação e brotação, acelerando a protrusão da radícula e emergência das plântulas.
As vitaminas, minerais e aminoácidos, também presentes nas algas, são importantes para o crescimento radicular das plântulas. Assim, as plântulas de feijão exploram melhor o solo nos estágios iniciais de desenvolvimento em busca de água e nutrientes.
A presença de antioxidantes nelas pode ajudar as plântulas a lidar melhor com situações como seca e alta luminosidade, que são comuns durante as fases iniciais do crescimento. Ademais, algumas espécies de algas marinhas possuem compostos antimicrobianos que podem ajudar a proteger as plântulas de feijão contra patógenos de solo nestas fases.
A imersão das sementes em solução à base de algas pode ser útil quando o solo não for favorável para a aplicação do produto.
Avanços
A ciência e a pesquisa estão avançando cada dia mais, e com a cultura do feijoeiro não é diferente. Pesquisas no âmbito principalmente de aumento de produtividade, colhendo-se mais grãos por área cultivada, com melhorias no custo de produção, resistência a estresses ambientais e melhoria da qualidade de grãos, são as mais realizadas.
Estudos sobre os efeitos das algas marinhas nas fases de desenvolvimento do feijoeiro estão crescendo e comprovando seus benefícios em todas as fases da cultura.
Entretanto, os agricultores, antes de iniciar o uso de algas marinhas na lavoura de feijão, devem consultar agrônomos para adquirir informações a respeito do assunto. Existem diferentes tipos de algas marinhas e formulações, como pó, líquido ou granulado, disponíveis no mercado. Assim, é preciso escolher os mais adequados para as suas condições.
Antes de aplicar na lavoura inteira, é interessante fazer aplicações somente em algumas glebas para verificar se o produto não prejudicará a lavoura. É indispensável, ainda, a aplicação no momento correto para cada fase do ciclo do feijoeiro, assim como seguir as recomendações corretas e integrar com os outros manejos já presentes na lavoura, e assim, potencializar os benefícios das algas marinhas para o feijoeiro.