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Como aumentar a produtividade da soja em 45%?

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Isaías Antonio de Paiva
Consultor e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
paiva.isaiasantonio@gmail.com
Tiago Tadeu Nunes Borges
Mestre em Produção Vegetal – Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) e consultor técnico
tiago.borges1984@icloud.com

O Brasil pode aumentar em 45% a produtividade da soja e colher mais do que as 295,6 milhões de toneladas obtidas na safra 2023/24. Pesquisadores informam que, com base na época de semeadura e cultivar escolhidas, será determinado o máximo que cada produtor pode produzir. A conta é: do máximo, subtrair o que o produtor vem colhendo – essa diferença se chama lacuna de produtividade, do inglês “yield gap”.

Lacuna de Produtividade

Podemos dividir os fatores que causam a lacuna de produtividade em bióticos e abióticos. Os primeiros causam as perdas na produtividade e são compostos principalmente por ataque de pragas e patógenos. Um ataque severo desses organismos pode comprometer a produção drasticamente.

Além da fitossanidade, outro fator preponderante do ponto de vista biológico é a cultivar em questão. O material genético tem grande peso na produtividade final. Por isso, a escolha do material adequado é fundamental.

Em relação aos fatores abióticos, os destaques são a disponibilidade hídrica e o manejo nutricional. O maior fator limitante entre todos é a disponibilidade hídrica, e infelizmente, estamos com eventos de excesso ou déficit cada vez mais recorrentes nas áreas produtivas. O manejo nutricional, embora tenha peso menor que a disponibilidade hídrica, também é muito decisivo no potencial produtivo da soja, afinal, ele é o alimento da planta.

Fazendo uma rápida analogia com o automobilismo, a disponibilidade hídrica é a via, o manejo nutricional é o combustível, a cultivar é o nosso carro e as pragas e doenças são os buracos na pista. Portanto, é necessário entender que, para chegar ao potencial máximo, todas as variáveis precisam ser minimizadas. Afinal, de nada adianta colocar um carro com motor V8 em estrada de terra, ou um carro 1.0 em interlagos e esperar desempenho de um esportivo.

Tudo no Seu Devido Lugar

A época de semeadura da soja varia conforme a região. Devido às grandes dimensões do Brasil, temos uma janela nacional de seis meses para semeadura da soja.

Em termos gerais, a primeira região a semear é a centro-oeste, a partir de setembro, o sudeste e o sul logo em seguida, a partir de outubro, e posteriormente o norte e nordeste, a partir de novembro. As épocas de semeadura são escolhidas em função de duas características principais: presença de água (chuva) e fotoperíodo.

Além da disponibilidade hídrica, a soja é muito suscetível ao fotoperíodo (quantidade de luz em 24 horas), que está relacionado diretamente com a energia acumulada pela cultura (soma térmica). A soma térmica é o acumulado de energia proveniente da luz/fotossíntese, e as cultivares precisam de uma quantidade específica para completarem seu ciclo. Por isso, existem os grupos de maturação, e quanto maior o valor, mais energia solar essa soja precisa para produzir.

Papel das Cultivares

A escolha das cultivares é algo muito específico para a região, pois existem variações dentro do mesmo estado ocasionadas pelas grandes dimensões e distribuição de chuvas. Além disso, a época da semeadura também varia de acordo com o ciclo da cultivar, se é tardia, normal, precoce ou superprecoce, o que está relacionado diretamente com o grau de maturação da cultura.

Por isso, quando for escolher o material para semear, é preciso se atentar a essas características (grau de maturação, época de semeadura e região), porque as cultivares possuem desempenho e ciclo diferente em função.

Por exemplo, uma cultivar considerada tardia para a região sul pode ter ciclo precoce no norte/nordeste, porque a quantidade de luz é tão grande que, em vez de gastar 140 dias para acumular energia, ela faz isso em 70 dias. Porém, ao acelerar, ela não consegue se desenvolver como deveria no vegetativo e acaba ficando “subdesenvolvida”, chegando ao reprodutivo antes de ter maturidade suficiente.

O inverso também ocorre: uma cultivar tardia no norte/nordeste, se semeada no sul, pode não chegar ao estádio reprodutivo, pois a quantidade de energia mínima não foi atingida, e ela apenas vegeta.

Influência na produtividade

Como visto, a época de semeadura e cultivares adequadas são fundamentais, pois representam o nosso “carro” e a nossa “via”. Porém, não podemos nos esquecer dos outros fatores, como o combustível (manejo nutricional), e estar atentos aos “buracos na pista”, que são os ataques de pragas e patógenos. Uma nutrição adequada e controle fitossanitário são fundamentais para altas produtividades.

Como ter uma lavoura saudável

  • Solo: perfis naturalmente pobres em nutrientes, adubação desequilibrada, solos compactos e com erosão podem ser superados seguindo análises de solo regulares para monitorar a fertilidade; aplicação de corretivos de solo, como calcário, gesso e composto orgânico; fertilizantes balanceados e específicos para suprir as deficiências de nutrientes; assim como fertilizantes de eficiência aumentada, com proteção do fósforo e utilização de biológicos, que melhoram a disponibilidade dos nutrientes, em especial o P.
  • Pragas e doenças: podem ser superadas seguindo o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina controle biológico, químico e cultural. Recomenda-se o uso de cultivares de soja resistentes a pragas, doenças e adversidades climáticas.
  • Dependência climática: condições climáticas adversas, como secas prolongadas ou chuvas excessivas, afetam a produção, mas podem ser minimizadas com a implementação de sistemas de irrigação eficientes para garantir o fornecimento de água durante períodos críticos. A utilização de técnicas de manejo do solo, como o plantio direto, pode melhorar a retenção de água. Outra medida é a diversificação de cultivares, incluindo aquelas mais adaptadas a diferentes condições climáticas.
  • Custo dos insumos: um dos maiores desafios são os custos de insumos, como fertilizantes, sementes e defensivos agrícolas, que podem ser contornados com a negociação conjunta entre produtores para obter melhores preços. A adoção de práticas de agricultura de precisão pode otimizar o uso de insumos e reduzir desperdícios. Áreas com altos teores de nutrientes podem ser conduzidas sem o aporte de fertilizantes. A rotação de culturas pode melhorar a fertilidade do solo de forma mais econômica.
  • Tecnologia e conhecimento: investimento em educação e capacitação dos produtores com cursos, workshops e programas de extensão rural. Parcerias com instituições de pesquisa e universidades proporcionam acesso a novas tecnologias e práticas agrícolas. O uso de tecnologia da informação, como aplicativos móveis e plataformas online, facilita a disseminação de informações e boas práticas.

Inovações no setor
Entre as tecnologias de destaque estão: agricultura de precisão (sensores de solo, drones, imagens de satélite, GPS), biotecnologia: cultivares geneticamente modificadas (GM), edição de genes (CRISPR), bactérias promotoras de crescimento e tolerância a estresse.

Há, ainda, os inoculantes e biofertilizantes: micorrizas, biofertilizantes, algasmarinhas, produtos prontos à base de hormônios e extrato de algas. Entre as ferramentas de gestão e modelagem, destaca-se o software de gestão agrícola, plataformas de modelagem climática e de produtividade.

Na mecanização avançada, máquinas agrícolas automatizadas, tratores autônomos, colheitadeiras inteligentes e na inteligência artificial (IA) e big data, algoritmos de IA e análise de big data que podem auxiliar na previsão de produtividade, detecção precoce de pragas e doenças, otimização de recursos físicos e financeiros.

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