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Como controlar pragas com ajuda da Beauveria bassiana?

Conheça essa importante ferramenta no manejo ecológico de pragas na agricultura

Willian Ricardo Monesi da Silva
Engenheiro agrônomo – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
willian.monesi@gmail.com

Franciely da Silva Ponc
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP
francielyponce@gmail.com

A Beauveria bassiana é um fungo encontrado naturalmente nos solos de todo o mundo. Tem como principal função a decomposição de matéria orgânica, sendo classificado como agente de controle microbiológico entomopatogênico. Estas nomenclaturas correspondem às características nocivas do fungo a diversos insetos-praga que acometem várias culturas.

Atualmente, o uso da B. bassiana no controle de pragas é muito importante para a agricultura, por se tratar de uma ferramenta de controle biológico. O modo de ação é a partir da colonização dos tecidos do hospedeiro, causando infecção e morte dos insetos-alvo.

Por essa especificidade, seu uso apresenta grande vantagem ambiental, devido ao seu baixo risco à saúde humana desde a aplicação no cultivo ao consumo da produção.

Crédito: Cecília Czepak

Controle de pragas

O entomopatógeno é importante no controle de pragas, por ser uma ferramenta de controle biológico de fácil aplicação nos cultivos, podendo ser aplicado via pulverização, assim como os inseticidas químicos.

Devido à familiaridade com inseticidas químicos, os microbiológicos apresentam boa aceitação entre os produtores. A B. bassiana possui dois modos de ação, o primeiro por contato direto, causando infecção no inseto-alvo, e o segundo por efeito residual, permanecendo no ambiente.

A atenção à permanência e proliferação do fungo na área pode prejudicar outros insetos, como inimigos naturais e polinizadores, caso atinja níveis altos de B. bassiana ocasionado por excesso de aplicações. Desta forma, seu uso deve seguir as recomendações técnicas, visando o controle dos insetos-praga, apenas. 

Ação da Beauveria

A B. bassiana possui certo destaque como ferramenta de controle, por apresentar múltiplos modos de ação. Podemos citar o parasitismo do inseto, que implica na redução de locomoção, impedimento da alimentação e obstrução dos aparelhos respiratório e digestivo, aliado à liberação de substâncias tóxicas no inseto-praga e levando-o à morte.

A presença do fungo no ambiente também induz estímulos de defesa nas plantas, antecipando suas respostas à presença da praga e, consequentemente, reduzindo danos. O contato do inseto-praga com estas plantas protegidas por B. bassiana pode resultar na infecção, evitando maiores danos às plantas e controlando a população da praga que, após ser parasitada, se torna um dispersor de B. bassiana no ambiente de cultivo.

Culturas beneficiadas

O uso de B. bassiana tem recomendação para diversas pragas e registro para várias culturas. Desta forma, seu uso é recomendado de acordo com a presença da praga, podendo ser utilizada em grandes culturas, como soja, milho e algodão, até hortaliças, como tomate e repolho.

Atualmente, existe o registro para o uso de B. bassiana no manejo de: cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta), percevejo-marrom (Euschistos heros), mosca-branca (Bemisia tabaci B e Q), bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) e moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus).

Multiplicação massal

O fungo entomopatogênico B. bassiana tem sido multiplicado em biofábricas comerciais ou on farm. Atualmente, já foram estabelecidas algumas cepas deste fungo, que apresentam viabilidade e eficácia sobre diversas pragas.

Primeiramente, é realizada a coleta de cepas do entomopatógeno a campo, por meio de insetos parasitados por este fungo, seguido de algumas etapas para a seleção e multiplicação do fungo (Figura 1).

Figura 1. Etapas de coleta, identificação, seleção, registro, multiplicação de agentes de controle biológico. (Foto 1: Maria Silvia Pereira Leite, foto 2. Embrapa Amapa, 2017).

O material coletado a campo passa pelo isolamento do monospórico, que será exposto a um ambiente contendo um meio de cultura favorável ao seu desenvolvimento.

Na próxima fase, os isolados que apresentaram melhor desenvolvimento em massa e pureza formarão a solução responsável por ser a fonte de inóculo das culturas matrizes. Ainda em ambiente estéril no laboratório, esta fase segue protocolos pré-determinados, que, dependendo da metodologia escolhida, pode conter algumas variações. 

Finalizando este processo, deve ser observada a pureza do material e, por fim, nesta etapa da multiplicação, é recomendado que o substrato receba uma nova cultura matriz, após um período de quatro ciclos de produção do entomopatógeno.

Inoculação

 Com as culturas-matrizes prontas, será realizada a inoculação do meio de cultura (pode ser arroz) com a cultura-matriz preparada anteriormente. Agora, em um recipiente estéril o nosso meio de cultura será misturado à cultura-matriz, para o desenvolvimento uniforme dos esporos de B. bassiana.

Após esta fase, o material inoculado permanece em repouso a uma temperatura entre 26 e 30°C, ficando pronto para uso em até 15 dias. Após este período, o material que apresentar melhor qualidade dará início aos novos processos de inoculação das culturas matrizes.

Para aplicação em campo, nossa cultura-matriz de B. bassiana é diluída em um litro de água por meio de agitação, formando uma suspensão aquosa de coloração turva que será coada e diluída até atingir a concentração de conídios por ml recomendada para a cultura, e então será repassada ao tanque de pulverização. 

Cigarrinha do milho também pode ser controlada por biológicos
Crédito: Luize Hess

Precauções

Antes da aplicação, alguns cuidados devem ser tomados – o primeiro é quanto ao armazenamento destes produtos biológicos. Por se tratar de organismos vivos, é importante controlar a temperatura do armazenamento que reduz a perda de efetividade.

Normalmente, esse armazenamento é realizado em ambiente refrigerado e as temperaturas variam entre os diferentes produtos.

Para a aplicação de B. bassiana na área de cultivo, primeiramente deve ser realizado um levantamento populacional do inseto-alvo. A partir deste estudo, vamos saber o melhor momento para aplicação dentro do nível de controle, evitando aplicações desnecessárias ou que onerem os custos de produção.

Aplicação de Beauveria bassiana

Na aplicação, é recomendado que os equipamentos estejam limpos, evitando resíduos de produtos utilizados anteriormente. Os demais cuidados estão relacionados ao momento de aplicação dos produtos, que deve ocorrer preferencialmente nos horários onde os insetos-alvo se encontram mais expostos, geralmente ao final do dia, quando as temperaturas são amenas.

O método de aplicação, como dito anteriormente, é semelhante ao químico e pode ser realizado utilizando os mesmos equipamentos de pulverização, seja via terrestre ou aérea. A escolha deve considerar a disponibilidade de maquinário ou custos de locação. Outro ponto importante é a cultura, o estágio de desenvolvimento e o tamanho da área para aplicação.

Para culturas extensivas, como a cana-de-açúcar, em que a entrada de implementos não é possível, o ideal é que seja aplicado via aérea. Já nos cultivos de soja, essa aplicação pode ser realizada por pulverizadores terrestres.

Também é muito comum, em pequenas áreas de hortifrútis, a aplicação via pulverizador costal, sabendo que este produto não oferece risco à saúde do aplicador, no entanto, todos os cuidados referentes ao uso de EPI’s (equipamentos de proteção individual) devem ser adotados. 

Considerando todos os pontos levantados anteriormente, a melhor aplicação será a que atender as condições e equipamentos disponíveis, seguindo as recomendações do fabricante e sempre considerando as características do inseto-praga e do ambiente de cultivo para se obter bons resultados.

Vantagens da Beauveria bassiana

A B. bassiana é importante no controle de pragas como uma ferramenta de controle efetivo, e seu uso deve ser realizado de forma responsável, visando preservar os inimigos naturais e insetos não-alvo.

Assim como nos inseticidas químicos, nos entomopatógenos deve-se considerar, ainda, a durabilidade de sua ação, evitando a perda de efetividade e a seleção de insetos resistentes aos mecanismos de ação do patógeno.

O uso dos entomopatógenos oferece menor risco ambiental, quando comparado aos químicos, que aplicados fora de suas recomendações possuem alto potencial de risco ao ambiente, com resíduos no solo, água, planta e à saúde humana.

Dentre as vantagens do uso de microbiológicos no manejo de pragas, podemos destacar a baixa toxicidade, baixo impacto sobre os inimigos naturais, baixo residual e compatibilidade com outras ferramentas de manejo.

Além disso, o uso combinado de microbiológicos e outras ferramentas de manejo de pragas reduz a pressão de seleção sobre as populações de insetos-praga, bem como a seleção de populações residentes.

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