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Como preparar o solo para enfrentar as adversidades climáticas?

Foto: Shutterstock

Isaías Antonio de Paiva
Consultor e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
paiva.isaiasantonio@gmail.com

Os principais desafios enfrentados pelos produtores durante as adversidades climáticas são a manutenção da fotossíntese das plantas de forma ativa através da nutrição, diminuição do estresse, com uso de produtos foliares e práticas culturais, além dos cuidados com a fitossanidade, principalmente no que diz respeito ao ataque de pragas e patógenos.

Interferência direta

As adversidades climáticas causadas pelas altas temperaturas e escassez hídrica causam prejuízos diretos na produtividade agrícola, devido à diminuição da fotossíntese das plantas, além disso, existem os prejuízos indiretos.

Esses, embora sejam secundários, podem causar danos severos tão quanto o estresse por temperatura ou deficiência hídrica. As plantas são como nós – a partir do momento que estão com a nutrição prejudicada ou estressadas, como consequência estarão também mais sensíveis ao ataque de pragas e patógenos.

É muito comum uma cultura, ao passar por um veranico e começar seu processo de recuperação, receber um ataque intenso de pragas ou patógenos. A presença de chuvas possibilita a proliferação dos insetos e patógenos e a planta ainda está se recuperando.

Portanto, além de se preocupar com a nutrição das culturas, é fundamental que se tenha atenção redobrada a fitossanidade, nesse sentido, o uso de produtos “preventivos” é essencial, principalmente caso o estresse climático tenha acontecido ainda no período vegetativo da cultura.

Ferramenta eficaz

Como mencionado, a planta precisa estar bem nutrida para conseguir enfrentar com êxito situações de estresse hídrico e térmico. Contudo, para que a planta esteja bem nutrida, é fundamental que se tenha uma análise de solo da área.

É preciso lembrar que, em áreas extensas, ela deve ser dividida em talhões com homogeneidade, principalmente em relação ao tipo de solo e declive, e em alguns casos, o histórico da área.

A análise de solo deve ser realizada logo após a colheita da safra e/ou safrinha, à profundidade de 40 cm, sendo dividida em 0 – 20 cm e 20 – 40 cm. Deve ser realizada a análise completa (química e física) e, caso possível, também a biológica (BioAs).

De acordo com a análise de solo, poderão ser realizados os ajustes para que os teores de nutrientes sejam adequados para a cultura além do pH, que é fundamental para a melhor absorção de nutrientes.

Caso possível, também é viável fazer a análise física da área e de compactação do solo. O método do penetrômetro é uma ferramenta prática e economicamente viável, podendo ser analógico (batida) ou digital.

Lembrando que é preciso realizar com o solo úmido, e junto os valores de resistência à penetração. Também devem ser retiradas amostras de solo para correlacionar à umidade no momento da coleta.

Resistência das plantas às variações climáticas

Com o resultado da análise de solo em mãos e, se possível, de resistência à penetração, o produtor poderá realizar as práticas adequadas para melhorar a resistência das plantas às variações climáticas.

Para ter plantas resilientes, o produtor precisa que estas tenham um sistema radicular profundo, que é reflexo de nutrientes no subsolo em quantidades adequadas, principalmente cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e ausência de alumínio em forma tóxica. Logo, é fundamental que se façam calagens e gessagens adequadas.

É fundamental que extrapolemos as recomendações tradicionais dos boletins (5ª aproximação, boletim 100, entre outros). Precisamos utilizar, em muitos casos, estudos mais “particulares” a cada propriedade ou microrregião.

Foto: Shutterstock

Fósforo no solo

Além da correção do solo com calagem e gessagem, o produtor precisa estar atento ao teor de fósforo (P) no solo. Também é interessante que seja feita a fosfatagem, quando necessário.

Nela, devem ser utilizados dois tipos de fontes de fósforo – uma solúvel e outra pouco solúvel em água. O ideal é que o fósforo pouco solúvel (fosfatos naturais) seja incorporado ao solo na profundidade de aproximadamente 0 – 20 cm.

Já o fósforo solúvel deve ser distribuído no sulco de plantio ou a lanço, a depender do tipo de solo, teor de P e sistema de produção. Esses nutrientes são os principais aliados ao crescimento radicular e, consequentemente, à maior resiliência das plantas aos estresses climáticos (escassez hídrica e excedente térmico).

Preparação do solo

Para fornecer os nutrientes-chave (P, Ca e Mg) em profundidade, além do uso do gesso o produtor, no momento da implantação da cultura, precisa fazer uso de arados ou, no mínimo, de escarificadores, para que se consiga levar os nutrientes em maiores profundidades.

Outra técnica que está difundida no Brasil, em regiões que utilizam o Sistema de Plantio Direto (SPD), é o uso de plantas de cobertura no lugar da safrinha.

As plantas de cobertura são semeadas no final ou após a colheita da safra. Elas possuem a capacidade de ciclar nutrientes, ou seja, absorver aqueles que estavam no subsolo e seriam perdidos por lixiviação (principalmente o K).

Além disso, algumas famílias possuem raízes pivotantes, que auxiliam na descompactação do solo, quando em níveis iniciais. As plantas são utilizadas sozinhas ou em mixes, entretanto, a escolha varia para cada local, e por isso existem empresas especializadas nesse âmbito.

E, o mais importante, produzem uma grande quantidade de biomassa, especialmente as pertencentes ao gênero das braquiárias/Urochloa. A espécie mais utilizada é a Ruziziensis, devido a sua suscetibilidade a herbicidas e grande produção de matéria seca. 

No pré-plantio, após dessecadas as plantas podem deixar até 10 t/ha de massa seca, a qual favorece a resistência das plantas de interesse agronômico, pois a palhada pode reduzir em 100% a temperatura na superfície do solo e, como consequência, diminui a evapotranspiração (perda de água das plantas e solo para a atmosfera) em 70%.

Ou seja, é tudo que o produtor deseja, um ambiente com menor temperatura do solo e com maior tempo úmido, perfeito!!!

Mais que benefícios

Além de melhorar a resistência das plantas às instabilidades climáticas, quando o solo é preparado de forma adequada e aliando o manejo cultura com plantas de cobertura, o produtor consegue também aumentar significativamente sua produtividade.

Produtores que fazem essas técnicas aliadas a um material genético (cultivar) adaptado ao local e tratos fitossanitários adequados conseguem produzir 100 sacas de soja por hectare, em média, ao longo dos anos.

Custos envolvidos

Outra vantagem de realizar o preparo de solo de forma adequada (com uso de arado ou escarificadores) é que o custo se dilui ao longo dos anos e se torna menor em relação ao investido em fertilizantes e produtos fitossanitários.

As plantas de cobertura são de baixíssimo custo de implantação, tendo em vista que são semeadas sem uso de adubo para que aproveitem o que há no solo, e não se realiza praticamente nenhuma intervenção fitossanitária, a não ser no tratamento de sementes (baixo custo), ou em situações muito específicas.

Logo, abrir mão de uma safrinha arriscada (milho) ou pouco rentável (sorgo) para usar manejos adequados de preparo de solo e manejo de plantas de cobertura, para criar um cenário que favoreça a resistência a adversidades climáticas da cultura de safra (soja e milho, por exemplo), é algo sensato e cada vez mais usual. “É melhor um pássaro na mão do que dois voando”.

Assistência técnica

O melhor caminho para implementar novas técnicas é o teste. O produtor deve separar uma gleba e realizar o teste das novas metodologias para verificar o resultado na prática. Para isso, é importante ter a assessoria e consultoria de um profissional independente, sem vínculo com revendas, para manter a imparcialidade.

A depender da disposição e interesse, o produtor também pode procurar por grupos de produtores ou materiais em revistas técnicas, anais de congressos e simpósios, realizar cursos (online direcionado ou pós-graduações), e ele mesmo implementar as técnicas.

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