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Ricardo Nascimento Lutfala Paulino
Graduando em Agronomia na Universidade Federal de Lavras (UFLA), coordenador-tesoureiro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia (GHPD) e suplente de coordenador-tesoureiro do Núcleo de Estudos em Cafeicultura (NECAF)
Dalyse Toledo Castanheira
Tiago Teruel Rezende
Engenheiros agrônomos, doutorandos em Agronomia-Fitotecnia na UFLA e membros associados do GHPD e do NECAF
Atualmente, a agricultura vem passando por momentos atípicos diante das mudanças climáticas, como: verões mais rigorosos, estiagem, frio intenso, sendo a estiagem a mais crucial. Com isso, um manejo que está sendo realizado por muitos produtores com o objetivo de amenizar esse “stress ambiental“ é a aplicação de ácidos húmicos.
O que são eles
Ácidos húmicos são compostos orgânicos, gerados a partir da decomposição química e biológica de qualquer material vivo existente, compostos estes que propiciam uma maior retenção de água no solo, ocasionando o melhor desenvolvimento das plantas.
Dessa forma, a maior retenção de água no solo ocorre porque o ácido húmico forma estruturas agregadas, lembrando uma esponja, com espaços vazios, o que faz com que o solo tenha capacidade de reter grandes quantidades de água, liberando-a lentamente, conforme a necessidade da planta.
Segundo alguns pesquisadores, a partir de condições e manejos específicos, os ácidos húmicos podem alcançar a capacidade de reter água na proporção de seis a oito vezes o seu peso.
Benefícios
Além de ter grande capacidade de retenção de água, a aplicação do ácido húmico proporciona ainda outros benefícios, como:
“¢ Melhora a estrutura dos solos compactados, consequentemente intensificando o enraizamento;
“¢ Favorece a germinação das sementes e a vida microbiana do solo, por promover um ambiente favorável;
“¢ Aumenta e melhora a disponibilidade e absorção dos nutrientes;
“¢ Diminui riscos de intoxicação por herbicidas e metais pesados;
“¢ Aumenta teores de açúcares nos produtos colhidos;
“¢ Estimula o crescimento, por apresentar comportamento hormonal (“hormone-like activity“) em algumas condições.
Culturas que se beneficiam dessa prática
O uso agronômico de produtos à base de ácidos húmicos abrange inúmeras culturas, como: hortifrúti, cereais, flores, café, cana-de-açúcar, citros e eucalipto. Recentemente, a cultura da cana-de-açúcar vem se destacando no uso de substâncias húmicas, tendo demonstrado respostas positivas na adoção de ácidos húmicos para estimular a brotação inicial e, consequentemente, diminuir falhas de estande.
Outros benefícios também são observados na estimulação das brotações após o corte no ciclo de soqueiras.
A aplicação
A aplicação dos ácidos húmicos é recomendada na forma líquida, sendo realizada via solo, seja via “drench“ ou via água de irrigação, ao longo do ciclo da cultura.
A dose deve ser estabelecida de acordo com a cultura, podendo variar de dois a 10 litros/ha, em média. É interessante parcelar a dose total recomendada em várias aplicações, utilizando maiores doses em fases de maior absorção de nutrientes pela planta.
Os ácidos húmicos são substâncias resultantes da decomposição de compostos orgânicos usados no manejo da fertilidade do solo, como vermicompostos, estercos, palhadas, etc.
Desta forma, um manejo eficiente que propicie uma constante liberação de ácidos húmicos para o solo é o fornecimento destes compostos orgânicos, seja na implantação ou durante o ciclo da cultura.
No entanto, o processo de decomposição dos compostos orgânicos, em determinadas condições ambientais, pode demorar certo tempo, e consequentemente, a cultura implantada pode não se beneficiar das vantagens da presença dos ácidos húmicos no solo durante seu ciclo, principalmente as que possuem um curto período desde a germinação até a senescência.
Nestes casos, uma alternativa viável é a utilização de produtos comerciais que contenham em sua formulação os ácidos húmicos ativados.
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Liberação de fósforo retido ao solo
Pesquisas têm demonstrado que um dos grandes benefícios dos ácidos húmicos para os cultivos é a disponibilização do fósforo adsorvido na fração argila, ou complexado com o cálcio, tornando-o indisponível para a maioria dos vegetais.
Há duas razões para isso – primeiro os ácidos húmicos sequestram o cálcio solúvel e protege os fosfatos da interação cálcio-fosfato, segundo pela ação dos grupos funcionais amina, na adsorção do ânion fosfato, deixando-o disponível para absorção pelas plantas.
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