Autores
Alessandra Marieli Vacari
Doutora em Entomologia e professora de Engenharia Agronômica – Universidade de Franca
amvacari@gmail.com
Eder Oliveira Cabral
Mestrando em Ciências – Universidade de Franca
Gustavo Pincerato Figueiredo
Engenheiro agrônomo, mestrando em Ciência Animal – Universidade de Franca
Diversas espécies de insetos estão associadas à cultura da soja, sendo consideradas pragas aquelas que podem causar injúrias às plantas, e até mesmo provocar danos econômicos aos produtores. Esses insetos-pragas podem atacar raízes, nódulos, haste, folhas, vagens e grãos da soja. No entanto, existem também os organismos que são benéficos e que atuam como inimigos naturais dessas pragas. Esses agentes benéficos podem ser insetos predadores, parasitoides ou também microrganismos que exercem papel no controle biológico de insetos-pragas.
No controle biológico aplicado são utilizados predadores e parasitoides, que após sua multiplicação e criação massal em laboratório são liberados em campo visando diminuir a população do inseto-praga.
Além disso, podem ser utilizados também microrganismos entomopatogênicos, que após sua aplicação podem provocar a morte dos insetos-pragas, o que é conhecido como controle microbiano. No Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) constam 28 produtos biológicos registrados para a cultura da soja visando o controle de insetos-pragas.
Percevejo-verde-da-soja
O percevejo-verde é um inseto sugador que pode se alimentar de partes da planta como as vagens e grãos da soja. Estão presentes na soja desde o período vegetativo, mas é no reprodutivo, a partir do aparecimento das vagens (R3) que as populações aumentam, podendo atingir níveis elevados.
O controle biológico do percevejo-verde pode ser realizado utilizando o parasitoide de ovos Trissolcus basalis (Hymenoptera: Platygastridae), no qual existe apenas um produto registrado no MAPA. Esse parasitoide é viável até cinco dias após o recebimento, e pode ser armazenado em temperatura entre 15 e 20°C.
Recomenda-se a liberação de 5.000 parasitoides por hectare, o que corresponde a 50 cápsulas por hectare. Devem ser realizadas três liberações de 5.000 parasitoides por hectare. Cada cápsula do produto comercial contém 100 pupas do parasitoide T. basalis.
As liberações devem ser realizadas no início da manhã, em 50 pontos por hectare, uma cápsula por ponto, e em intervalos de sete dias. Recomenda-se a liberação dos parasitoides nas bordas da lavoura quando a soja estiver no final do florescimento, momento em que os primeiros percevejos iniciam a colonização e oviposição na cultura.
A liberação dos parasitoides em campo pode ser terrestre ou aérea. Na aplicação aérea pode-se acoplar uma máquina dentro do tanque da aeronave, que fará as liberações automaticamente, quando o piloto sobrevoar a bordas do talhão. Assim, pode-se fazer o ajuste para a liberação de 50 cápsulas por hectare.
Na cultura da soja, para o sucesso do controle do percevejo-verde com T. basalis é importante realizar o manejo de outros alvos biológicos presentes na cultura com produtos seletivos, por exemplo, Baculovírus, ou aqueles que não impactem negativamente as populações do parasitoide.
Em alguns casos, não se recomenda a utilização de T. basalis no controle do percevejo, como quando não houver a presença de N. viridula na área, quando a população do percevejo já for muito alta, próxima do nível de dano, ou quando for utilizado inseticida não seletivo para o controle de outros insetos.
Percevejo-marrom
Existe apenas um produto registrado para o percevejo-marrom no MAPA. O bioinseticida é à base dos fungos entomopatogênicos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana na formulação suspensão concentrada (SC). Deve ser aplicado na dose de 1,5 L/ha, com volume de calda de 200 L/ha.
O percevejo deve ser inspecionado periodicamente, fazendo-se amostragem na lavoura com pano de batida após o florescimento. A aplicação do bioinseticida deve ocorrer quando forem encontrados quatro percevejos maiores que cinco milímetros por pano de batida, na produção de grãos, ou dois percevejos maiores que cinco milímetros por pano de batida na produção de sementes.
Recomenda-se a aplicação nas horas mais amenas do dia, presencialmente no final da tarde ou à noite, em dias nublados ou com garoa bem fina. Nessas condições, a exposição dos conídios do fungo à radiação UV do sol é menor. Evitar a aplicação na presença de ventos fortes (acima de 10 km/h), nas horas mais quentes do dia (temperatura acima de 27C) e umidade relativa do ar abaixo de 70%.
A aplicação pode ser terrestre ou aérea e deve-se limpar o tanque e os bicos de pulverização para eliminar resíduos de inseticidas, herbicidas ou fungicidas químicos, que possam diminuir a eficiência do bioinseticida.
Lagarta-da-soja
Para o controle biológico de lagartas existem 13 bioinseticidas registrados à base de Bacillus thuringiensis, a maioria var. kurstaki cepa HD-1. Bioinseticidas à base da bactéria entomopatogência B. thuringiensis possuem ação por ingestão e atuam como disruptores das membranas do aparelho digestivo de lagartas. As formulações disponíveis variam em pó molhável (WP), granulado dispersível (WG) e suspensão concentrada (SC).
A aplicação deve proporcionar distribuição uniforme dos produtos sobre todas as partes das folhas onde as lagartas irão se alimentar, sem causar escorrimento. As doses recomendadas variam de 125 a 750 g/ha, 400 a 1000 mL/ha, dependendo da espécie a ser controlada e do bioinseticida utilizado, com volume de calda de 150-200 L/ha.
Recomenda-se aplicar nas horas mais frescas do dia, preferencialmente no final da tarde. Evitar aplicação em condição de temperatura acima de 27°C, na presença de ventos fortes (acima de 10 km/h), bem como umidade relativa do ar abaixo de 70%.
A primeira aplicação deve ser realizada no início do aparecimento das pragas, com lagartas nos instares iniciais de desenvolvimento (primeiro e segundo instares, preferencialmente) e repetir a aplicação se ocorrerem novos aumentos populacionais. Em caso de chuva após o tratamento, repetir a aplicação. Os bioinseticidas podem ser novamente aplicados com intervalos de sete a 10 dias.
Alternativas
Existem também nove bioinseticidas à base de baculovírus registrados no MAPA para o controle de lagartas. Cinco desses bioinseticidas são registrados para A. gemmatalis, dois para C. includens e dois registrados para H. armigera.
Além disso, dois registros de produtos apresentam misturas de baculovírus C. includens + baculovírus H. armigera. As formulações disponíveis variam em pó molhável (WP), suspensão concentrada (SC) e apresentam ação por ingestão. As doses variam de 50 a 200 mL/ha ou 20g/ha, dependendo da formulação e da espécie de Lepidoptera, com volume de calda de 120 a 170 L/ha.
A aplicação deve ser feita para lagartas ainda pequenas de primeiro a terceiro instares (menores que 1,5 cm), quando forem encontradas, no máximo 20 lagartas por metro linear ou 40 lagartas por pano de batida, no caso da lagarta-da-soja A. gemmatalis.
Após a aplicação sobre as folhas, as lagartas que se alimentaram ingerem os corpos de oclusão (OBs) de nuclopoliedrovírs (NPV) que estão na superfície tratada.
A faixa de temperatura ideal para ação do baculovírus é de 18 a 35°C. Não se deve aplicar o produto com temperatura abaixo de 18°C, pois nestas condições as lagartas tendem a não se alimentar e, portanto, não ingerem as partículas virais. Evitar fazer a aplicação nas horas mais quentes do dia (> 35°C), com condições de umidade relativa baixa (< 40%) e/ou quando chuvas fortes (<20 mm) estiverem previstas dentro de uma hora após a aplicação.
Chuvas mais leves e orvalho após a aplicação favorecem a multiplicação e dispersão do vírus. O tempo de mortalidade após a ingestão das lagartas depende das condições ambientais e do comportamento alimentar das lagartas, mas pode levar de três a oito dias. Porém, as lagartas normalmente param de se alimentar de um a três dias.
Sintomas típicos de infecção vão desde mudanças comportamentais e morfológicas, com redução da alimentação, diminuição do crescimento e do movimento, descoloração a eventual rompimento do tegumento. Em condições de campo, lagartas infectadas por baculovírus podem ficar mais vulneráveis às adversidades ambientais e mais suscetíveis a outras formas de controle, o que pode contribuir para a mortalidade.
Mais opções
Ainda para o controle de lagartas, existem quatro produtos registrados no MAPA da espécie de parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Os parasitoides são comercializados em cápsulas com 2.400 indivíduos cada uma, na fase de pupa. É um agente de controle biológico utilizado no controle de ovos de lepidópteros pragas da soja.
As cápsulas contendo os parasitoides são liberadas em campo onde, posteriormente, ocorre a emergência dos adultos. Deve-se liberar o equivalente a 500.000 adultos/ha na fase vegetativa e 750.000 adultos/ha no período reprodutivo, distribuídos em pelo menos 50 pontos por hectare.
As liberações devem ser iniciadas quando se observar a presença de adultos ou lagartas das espécies de lepidópteros pragas. Devem ser realizadas uma a duas liberações por semana, com pelo menos três liberações no ciclo da cultura. No entanto, o número de liberações dependerá da pressão de mariposas no campo. O intervalo entre as liberações deve ser de quatro dias.
Indicações
Recomenda-se, de maneira geral, o manejo integrado de pragas, envolvendo todos os princípios e medidas disponíveis, como o controle cultura, biológico (predadores, parasitoides), microbiano, por comportamento, uso de variedades resistentes e controle químico, sempre alternando produtos de diferentes grupos que apresentem mecanismo de ação distintos.