Natanael Motta Garcia – Graduando em Engenharia Agronômica – Centro Universitário Unifio – natanaelmottagarcia@outlook.com
Adilson Pimentel Júnior – Mestre, doutorando em Agronomia e professor – Centro Universitário Unifio – adilson_pimentel@outlook.com
Causada por fungos do gênero Colletotrichum, a antracnose é a principal doença a nível mundial na cultura da manga (Mangifera indica L.), afetando folhas, flores, frutos e ponteiros. Os frutos são afetados em todas as fases, inclusive após a colheita. Além da manga, acomete várias espécies de plantas, como por exemplo, abacateiro, cajueiro, acerola, cafeeiro, soja, feijão, milho e sorgo.
Relacionada à suscetibilidade da planta hospedeira, a doença atua de acordo com sua variedade e as condições climáticas de umidade favorável, sendo não significativa em regiões quentes e secas, e tendo pouca importância no Nordeste brasileiro.
Prejuízos à manga
Por se tratar de uma fruta adaptada ao cultivo em todo Brasil, a manga é seriamente prejudicada ao ser acometida pela antracnose, principalmente na exportação dessa fruta, exigindo tratamento em pré e pós-colheita. Parte dessa produção de frutos é perdida durante o armazenamento pelo desenvolvimento de doenças, que se caracteriza por manchas escuras em sua casca.
Estudos mostraram que a antracnose infectou 100% das 15 variedades de mangas testadas, em apenas um dia após o a inoculação e sob armazenamento. Esses frutos também apresentaram podridões pedunculares causadas por Lasiodiplodia theobromae, Fusicoccum spp. e Dothiorella spp., potencializando as perdas em pós-colheita, tanto pelo aspecto visual quanto pela podridão.
Sintomas
Parte da planta | Sintomas da antracnose |
Folhas | Surgimento de manchas de 1,0 a 10 mm de diâmetro, na cor marrom, podendo ser arredondada ou irregular, presentes tanto nas margens como no centro do limbo foliar. |
Brotações | Presença de manchas necróticas escuras, que podem evoluir para um secamento da ponta para a base, e consequente desfolha. |
Inflorescências | Inicia-se com pontuações escuras, que se tornam alongadas e profundas e evoluem para a morte de flores e queda de frutos ainda pequenos. Queima de toda a inflorescência quando o ataque é severo. |
Frutos | No início de seu amadurecimento é comum observar manchas marrom escuras a pretas, arredondadas e levemente deprimidas. A mancha pode apresentar um padrão de escorrimento tipo uma lágrima, caso se inicie a partir do pedúnculo para a base do fruto, devido à infecção do fruto a partir de esporos presentes em água livre que se escorreu. Com a evolução, as manchas aumentam e ficam deprimidas, podendo rachar, levando ao apodrecimento do fruto. |
Causas e consequências
A doença causa danos quando longos períodos de chuva coincidem com o estado ativo de crescimento e floração da mangueira. Portanto, períodos chuvosos e encobertos com orvalho no período noturno, muito frequentes no inverno na região sudeste, são favoráveis à antracnose.
Em regiões onde as temperaturas são superiores a 25°C e a umidade relativa não ultrapassa 70%, a doença pode não surgir nos frutos. A esporulação alaranjada do fungo pode ser observada sobre as lesões, em condições de alta umidade relativa.
O transporte do fungo causador da antracnose até o fruto se dá na forma de esporos por meio de respingos de chuva ou orvalho, que ao germinar penetram na epiderme, ficando em estado latente até o início do amadurecimento.
Períodos úmidos, seguidos por períodos secos, reduzem drasticamente a viabilidade dos esporos, sendo de 12 até 18 horas o período mínimo de molhamento do fruto para que ocorra a infecção. Como consequência, o desenvolvimento da doença é bastante favorecido por chuvas que ocorrem no fim da tarde, prolongando até a noite o período de alta umidade.
Controle preventivo e curativo
Para um bom controle da antracnose, o produtor deve atuar de forma preventiva, por meio da adoção de um sistema constante de acompanhamento quanto à ocorrência e intensidade da doença no campo e das condições meteorológicas durante a fase de floração e frutificação, que correspondem às fases mais sensíveis da planta.
Ainda no controle preventivo, caso a região se caracterize como favorável ao desenvolvimento do fungo, recomendam-se pulverizações com fungicidas nos pomares, junto com práticas culturais para reduzir o nível de inóculo.
Entre as medidas culturais recomendadas, destacam-se: poda de limpeza das plantas, eliminando os ramos com sintomas da doença; induzir a floração em épocas que não coincidam com chuvas; realizar poda de formação da copa a fim de propiciar boas condições de arejamento e desfavorecer a infecção do patógeno; colheitas frequentes e não deixar frutos maduros nas plantas; adubações adequadas, evitando o desbalanço nutricional; pulverizar com fungicidas para reduzir o inóculo da área (mancozeb, tiofanato metílico, tebuconazole oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e óxido cuproso).
Existem registrados pouco mais de 25 produtos no Ministério da Agricultura para o controle da antracnose da mangueira, à base de cobre inorgânico, nos distintos ingredientes ativos: oxicloreto, hidróxido e óxido cuproso; duas estrubilurinas (azoxistrobina, piraclostrobina); dois benzimidazois (tiofanato metílico e tiabendazol); seis triazois (difenoconazole, tebuconazole e tetraconazole); um ditiocarbamato (mancozeb); um imidazolilcarboxamida (imazalil) e uma mistura de um ditiocarbamato com um inorgânico (mancozeb + oxicloreto de cobre).
Manejo
As aplicações químicas voltadas para o controle curativo devem obedecer a um manejo de resistência adequado, em que os produtos devem ser aplicados de forma alternada de acordo com o modo de ação no patógeno.
Contudo, produtos convencionais foram avaliados e alguns já se apresentaram ineficientes no controle do fungo. Os dados foram preocupantes, pois mostraram o desenvolvimento de raças resistentes aos produtos químicos, o que aumenta a infecção, os custos de produção e compromete a saúde dos consumidores.
Técnicas e produtos inovadores
Para evitar a seleção de patógenos resistentes, é necessário o desenvolvimento de produtos que não potencializem essa seleção e que não sejam maléficos à saúde dos consumidores.
Vários estudos foram realizados com o propósito de reduzir as infecções desse patógeno e controlar a antracnose de forma eficiente utilizando produtos alternativos, como óleos essenciais e extratos vegetais, além de revestimentos comestíveis.
Experimentos foram realizados, e avaliaram a eficácia do óleo de soja e de extrato de sucupira no controle da antracnose e na conservação da manga na pós-colheita. Os resultados demonstraram ser promissores para seu controle.
Dentre outros tratamentos, se tem a aplicação de fungicidas por meio de atmosfera modificada. A utilização da técnica de ensacamento dos frutos de manga também pode ser adotada no controle da antracnose.
A elaboração de um programa de controle da antracnose varia muito, dependendo, sobretudo, das condições climáticas; intensidade e frequência com que a doença se manifesta; monitoramento frequente do campo; observar as previsões meteorológicas, principalmente nos períodos de floração, frutificação e colheita, de modo a estabelecer uma adequada estratégia de controle.
Integração de métodos
O controle da antracnose deve ser feito por meio de uma associação entre métodos culturais, controle químico, monitoramento do pomar e utilização de variedades resistentes. Uma vez que o fungo esteja instalado na lavoura, as condições climáticas sejam propícias para seu desenvolvimento e os frutos expressarem os sintomas, quando de forma inicial ainda se consegue comercializá-los, mas quando são severos, o aspecto visual é afetado, sendo os frutos destinados para algum tipo de processamento.
Os custos voltados para a prevenção são altos, contudo, gera uma segurança na produção e uma inatividade periódica de problemas de infestação. Esta doença é de difícil controle quando o pomar se apresenta infectado. Além de estar isenta de antracnose, a manga não deve apresentar resíduo químico ou orgânico, queimadura ou mancha na casca, ou qualquer outro defeito aparente.