Autores
Daniele Maria do Nascimento – daniele.nascimento@unesp.br
Marcos Roberto Ribeiro Junior – marcos.ribeiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
Renate Krause Sakate / Adriana Zanin Kronka – adriana.kronka@unesp.br
Engenheiras agrônomas, doutoras em Agronomia/Fitopatologia e professoras – UNESP – Botucatu
Paula Leite dos Santos – Mestra e doutora em Agronomia – UNESP – Botucatu
Uma das hortaliças mais apreciadas pelos brasileiros, o pimentão é também um dos campeões na lista de produtos com maior quantidade de agrotóxicos. Devido às doenças que acometem essa cultura, o uso de fungicidas torna-se essencial para seu controle, e encontrar alternativas naturais que possam substituir esses produtos químicos vem sendo o tema de pesquisas conduzidas na UNESP/Botucatu.
As doenças ocorrentes na cultura do pimentão podem ocasionar perdas significativas, uma vez que os frutos doentes são descartados, e quando ocorrem na fase de plântula, causam tombamento e geram a morte da planta, resultando assim em falhas no estande e gerando um maior custo ao produtor, devido ao replantio.
Uma das principais doenças que incidem sobre o pimentão é a antracnose, causada por Colletotrichum gloeosporioides, já tendo sido relatada em todas as regiões produtoras. Os frutos são severamente afetados pelo fungo e, em condições favoráveis, como épocas chuvosas e áreas com alta concentração de inóculo, podem ser totalmente destruídos.
Os sintomas são fáceis de serem reconhecidos nos frutos: lesões de diâmetro variável, deprimidas e aquosas e sob condições de alta umidade, uma massa de conídios de coloração rósea ou alaranjada se forma no centro destas lesões.
Essa massa de conídios também é observada quando o fungo é cultivado em placas de Petri contendo meio de cultura. Esses conídios, por serem extremamente leves e pequenos, podem ser disseminados pelo ar, levando a doença aos frutos vizinhos, que até então estavam saudáveis. Em ramos e folhas ocorrem pequenas lesões necróticas, geralmente alongadas.
Nas sementes, C. gloeosporioides causa damping off de pré e pós-emergência. Além do mais, as sementes são responsáveis por transmitir, disseminar e introduzir o patógeno em novas áreas, e assim como nos frutos, o fungo é caracterizado pela presença de massas mucilaginosas rosadas na superfície das sementes.
Manejo
O manejo da antracnose se baseia no uso de sementes sadias e tratadas, rotação de cultura com plantas não hospedeiras, evitando inclusive outras solanáceas e a aplicação de fungicidas durante o ciclo da cultura. O problema é que o controle químico, amplamente adotado pelos produtores, vem apresentando algumas adversidades.
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A primeira é o aparecimento de isolados de Colletotrichum resistentes aos fungicidas usualmente empregados, como azoxystrobin e thiabendazole. A segunda, responsável por essa hortaliça ser uma das primeiras colocadas no ranking de alimentos com maiores níveis de contaminação por agrotóxicos, é que nos últimos relatórios liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a maioria das amostras de frutos de pimentão apresentaram irregularidades quanto à presença de agrotóxicos, sendo a maioria não autorizado ou em concentrações acima do estabelecido para a cultura.
Nesse cenário nada otimista, uma vez que os fungicidas, maiores aliados do produtor na luta contra a antracnose, veem deixando resíduos nos frutos consumidos, os óleos essenciais chamam atenção, por serem substâncias naturais com efeito fungicida.
Oriundos do metabolismo secundário das plantas, os óleos essenciais podem atuar por ação fungitóxica direta, afetando a germinação dos esporos e o desenvolvimento dos micélios fúngicos, e/ou indireta, pela indução a resistência na planta.
Estudos
As pesquisas com óleos essenciais no controle de patógenos são realizadas em duas etapas: in vitro e in vivo. A constatação do efeito direto do produto sob o patógeno é realizada pelo cultivo do fungo em placas de petri contendo meio de cultura suplementado com o óleo essencial. Posteriormente, é observada a ocorrência de crescimento micelial e a germinação de esporos.
Pesquisas recentes demonstram, por exemplo, que os óleos essenciais de capim-limão, pimenta-preta, gerânio, cravo-da-índia, tea tree, eucalipto citriodora e hortelã doce inibem totalmente a germinação de esporos de C. gloeosporioides (Nascimento et al., 2019), mas esse é apenas o primeiro passo para determinar a eficácia desses óleos essenciais no controle da doença.
Nos estudos in vivo, os óleos essenciais são testados nas plantas, frutos ou sementes infectadas pelo patógeno. No caso da antracnose do pimentão, o uso de sementes sadias é essencial na prevenção da doença, e pesquisas recentes conduzidas no Laboratório de Patologia de Sementes, da UNESP/Botucatu, indicam que o óleo essencial de cravo pode controlar a incidência de C. gloeosporioides em sementes de pimentão.
O óleo essencial de cravo foi, primeiramente, adicionado ao meio de cultura nas concentrações de 0,25%, 0,50% e 0,75% e discos contendo o micélio do fungo foram transferidos para o centro de cada placa de petri contendo o meio de cultura suplementado com as referidas concentrações do óleo essencial.
Essas placas foram mantidas em incubadoras do tipo BOD a 22ºC e fotoperíodo de 12 horas, condições ideais para o desenvolvimento do patógeno. Placas contendo apenas o fungo em meio de cultura, sem adição do óleo essencial, foram usadas para comparação.
Como não foi observado crescimento fúngico em nenhuma das concentrações do óleo essencial, a menor concentração, de 0,25%, foi definida para a etapa in vivo, de tratamento de sementes infectadas.
Ação e reação
Alguns compostos presentes nos óleos essenciais podem afetar negativamente as sementes, interferindo nos mecanismos fisiológicos e na germinação. Por esse motivo, pesquisas nesse sentido objetivam empregar a menor concentração do óleo essencial necessária à inibição do fungo, para reduzir os possíveis efeitos fitotóxicos às sementes.
As sementes foram previamente inoculadas com C. gloeosporioides e então tratadas com o óleo essencial de cravo emulsionado na concentração de 0,25% em água autoclavada e Tween 80.
Avaliou-se a qualidade sanitária e fisiológica das sementes, por meio da germinação, comprimento de plântulas, emergência de plântulas, índice de velocidade de emergência e massa seca. Os resultados obtidos demonstraram que o óleo essencial de cravo controlou a incidência de C. gloeosporioides sem, contudo, afetar a germinação e vigor das sementes, podendo ser esta uma alternativa promissora no controle da antracnose.
Mercado de sementes orgânicas
A agricultura orgânica está cada vez mais em alta em nosso País, com prateleiras dedicadas a esses produtos, que atraem os consumidores preocupados com sua saúde e com a qualidade dos alimentos consumidos.
A Instrução Normativa nº 46/2011, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) requer que as sementes utilizadas na produção de alimentos orgânicos sejam oriundas de sistemas orgânicos, ou seja, não tratadas com agrotóxicos.
Os tratamentos alternativos no controle de patógenos em sementes que veem sendo desenvolvidos, como os óleos essenciais, visam promover uma cadeia de produção orgânica mais competitiva, com condições de atender a esse nicho de mercado em expansão.