Autores
Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Júlio César Ribeiro
Engenheiro agrônomo e doutor em Ciência do Solo- UFRRJ
jcragronomo@gmail.com
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ
gorete@ufrrj.br
Estimativas recentes feitas pela Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM) e por empresas privadas especialistas na produção de sementes de brócolis indicam que a cultura do brócolis no Brasil movimenta, anualmente, em torno de R$ 1,2 bilhão no varejo, com uma produção de 290 mil toneladas, e crescimento médio de mercado entre 4,0 e 5% ao ano.
O brócolis (Brassica oleracea var. italica) tem ganhado espaço nas mesas dos brasileiros nos últimos anos em função de seus benefícios nutricionais. Seu consumo está associado a dietas mais saudáveis e equilibradas por ser um alimento de baixo valor calórico, rico em fibras e com grandes quantidades de substâncias benéficas, como vitaminas (A, C, e E) e minerais, como cálcio, magnésio e ferro.
Além disso, o brócolis também apresenta em sua composição algumas substâncias benéficas e que têm sido associadas à prevenção de algumas doenças, como o câncer e problemas gastrointestinais.
Tipos
No mercado brasileiro existem dois tipos principais de brócolis – o ramoso, de colheitas múltiplas; e o de inflorescência (cabeça) única, também conhecido como japonês, americano, ou ninja.
No primeiro caso, a produção é destinada à comercialização in natura na forma de maços. No segundo tipo (cabeça única), os produtores podem destinar a produção tanto para venda direta in natura, similar à couve-flor, quanto para indústrias de processamento e congelamento.
Ambos os tipos apresentam boa saída no mercado, apesar do aumento expressivo da oferta de brócolis do tipo cabeça única nos últimos anos, especialmente pela sua maior longevidade pós-colheita, comparado ao ramoso.
Recomendações
O primeiro passo para o sucesso no cultivo de brócolis é a escolha do local e área de plantio, priorizando solos bem manejados e com disponibilidade de água e clima favoráveis à cultura.
Outro fator essencial é a escolha da cultivar mais adaptada para a época e a região de plantio e que melhor atenda às expectativas do mercado a ser atendido. No geral, o cultivo de brócolis requer temperaturas amenas e fornecimento contínuo de água para que a planta tenha um bom desenvolvimento e ocorra a formação de inflorescências de valor comercial.
Atualmente, existem no mercado cultivares híbridas e de polinização aberta que poderão ser utilizadas pelos produtores. Em menor escala, também encontram-se disponíveis algumas cultivares destinadas ao plantio no verão.
A escolha do material genético deverá ser feita com base nas características do material e adaptabilidade à região e época de cultivo, sendo ideal que o produtor teste previamente em pequenas áreas.
Nutrição
O brócolis é uma planta que extrai grande quantidade de nutrientes em curto espaço de tempo, requerendo, portanto, cuidados quanto ao manejo da fertilidade do solo. É recomendado o plantio em solos com pH próximo a 6,5, com saturação por bases (V%) superior a 80%.
A adubação pode ser feita com fertilizantes minerais e/ou orgânicos de boa procedência e qualidade. O parcelamento da adubação colabora para o bom desenvolvimento das inflorescências e evita perdas dos nutrientes.
No cultivo de brócolis, assim como nas demais brássicas, atenção especial deve ser dada ao fornecimento dos micronutrientes boro e molibdênio. A deficiência destes micronutrientes pode prejudicar o desenvolvimento das plantas e das inflorescências, causando limitações à produção. A aplicação deste micronutrientes pode ser feita nas mudas, na adubação de plantio e/ou por meio de aplicações foliares, via pulverização.
Doenças e pragas
Com relação ao manejo fitossanitário, as principais pragas que atacam a cultura do brócolis são pulgões, a mosca-branca e lagartas diversas. A rotação e a diversificação das culturas e adoção de práticas pontuais, como aplicação de produtos alternativos como o óleo de neem (Azadirachta indica) e de inseticidas biológicos disponíveis no mercado podem também serem feitos.
O uso de inseticidas sintéticos deve ser feito com rigor técnico para não levar ao acúmulo de resíduos na hortaliça.
Em relação às doenças, destacam-se a hérnia das crucíferas, causada pelo protozoário de solo Plasmodiophora brassicae, que danifica as raízes das plantas; a podridão negra, causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. campestris; a podridão-mole, causada por Pectobacterium carotovorum; e os nematoides, como Meloidogyne spp.
A principal estratégia de controle é a adoção de medidas preventivas, como a rotação e diversificação das culturas com espécies de outras famílias botânicas e não hospedeiras, uso de mudas sadias e de boa procedência, adubação e irrigação equilibradas, e práticas integradas de controle. A utilização de cultivares resistentes para a maioria destas doenças ainda não é possível, exceto para a podridão negra.
Investimento x retorno
O preço médio que esta hortaliça foi comercializada nos atacados brasileiros no período de 2016-2018 foi de R$ 3,00 por kg, segundo dados do PROHORT (Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro).
No verão, quando a oferta tende a diminuir, é possível obter os melhores preços na comercialização. Esta lacuna tem sido uma boa oportunidade para cultivo em regiões onde as temperaturas são mais amenas.
Erros
O brócolis é um produto com elevada taxa respiratória, o que o torna perecível e requer cuidados na colheita, que deve ser feita nas horas mais frescas do dia, além de cuidados no transporte e armazenamento.
Atualmente, um dos grandes desafios na cadeia de produção desta hortaliça é propiciar a oferta de produtos com boa qualidade e atender a mercados mais distantes. Uma das estratégias a ser explorada é a utilização de embalagens mais adequadas, rápido resfriamento pós-colheita e investimentos em transporte refrigerado e armazenamentos em câmaras frias para conservação, além de incentivo ao processamento mínimo, o que ainda agrega valor ao produto final.
Outra oportunidade de mercado é a produção de brócolis sob manejo orgânico. De acordo com um estudo nacional sobre o consumo de orgânicos divulgado pela Organis (Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável), as verduras lideram entre os alimentos orgânicos mais consumidos no País, com destaque para alface, tomate, rúcula e brócolis.
Neste nicho de mercado haverá uma maior valorização do produto por consumidores que associam alimentação saudável às boas práticas de produção agrícola.