Autores
Fábio Olivieri de Nobile
Professor Titular do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos –UNIFEB
fabio.nobile@unifeb.edu.br
Paula Cristiane Machado
Engenheira Agrônoma
Adubação foliar é o processo de aplicação de nutrientes minerais na folha vegetal, por meio da absorção total, com a utilização destes nutrientes por toda a planta, suprindo as carências nutricionais em qualquer lugar da morfologia da planta.
A adubação foliar é utilizada para suplementar de forma rápida e eficiente a adubação do solo. Uma vez detectada a deficiência, essa deverá ser suprida com os elementos minerais específicos. Porém, a aplicação foliar tem um efeito de curta duração, pois a concentração dos nutrientes é inferior à concentração utilizada na adubação de solo.
Nutrientes essenciais
A soja é uma cultura exigente em termos nutricionais e bastante eficiente em absorver e utilizar os nutrientes contidos no solo, principalmente nitrogênio (N), potássio (K), cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg) e enxofre (S). Os nutrientes exportados em maior quantidade são: N, K, S e P.
Entretanto, a produtividade na cultura da soja pode ser incrementada com a pulverização da adubação foliar de micronutrientes, aproveitando a capacidade de absorção foliar com o objetivo de suplementar e corrigir imediatamente as necessidades nutricionais das plantas.
Os micronutrientes boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), zinco (Zn) e cobalto (Co) são elementos requeridos pela planta em pequena quantidade e a ocorrência de deficiência na cultura da soja pode limitar a produtividade e influenciar na qualidade dos grãos devido a fazerem parte das enzimas e exercerem função regulatória.
O cobalto e o molibdênio são essenciais para a fixação biológica de nitrogênio, pois fazem parte da enzina nitrogenase e suas deficiências podem reduzir a produção. O boro previne o abortamento de flores e vagens. O manganês participa como catalizador em atividades enzimáticas e na elongação celular.
Absorção pela planta
O período em que os nutrientes são absorvidos em maior quantidade corresponde à fase do desenvolvimento da planta em que as exigências nutricionais são maiores. Este período vai de V2 (primeira folha trifoliada completamente desenvolvida) até R5 (início de enchimento de grãos).
A velocidade de absorção aumenta durante a floração e início de enchimento dos grãos. Aliado ao aumento da velocidade de absorção, verifica-se também uma alta taxa de translocação na planta ao longo desse período.
A maior questão sobre a adubação foliar para a soja é “Quando se deve aplicar adubo foliar?”. Na verdade, há necessidade de um diagnóstico, em que se considere:
1) Resultados de análise de solo;
2) Resultados de análises foliares de anos anteriores;
3) Conhecimentos da adubação utilizada no ano e, principalmente, das adubações de anos anteriores;
4) Histórico de sintomas de deficiências em anos anteriores, principalmente de micronutrientes;
5) Considerar as respostas apresentadas com o uso de adubos foliares em anos anteriores.
Sem esse conjunto de informações, a adubação foliar na soja fica sem objetivo e sem parâmetro de referência para sua recomendação.
Na prática
Trabalhos com fertilizante foliar conseguiram mostrar respostas positivas na qualidade fisiológica de sementes na cultura da soja, com aplicações foliar nos estádios R1 e R5.1. Outros trabalhos mostraram que a aplicação via foliar de cálcio e boro aumentaram o peso de grãos por planta de soja em solos, sem afetar a qualidade fisiológica das sementes produzidas.
A adubação de fósforo proporcionou incremento no potencial de vigor, potencial de germinação e na emergência a campo de sementes de soja. Já outros trabalhos mostram incremento em rendimento e qualidade de sementes.
Sem errar
Para se atingir a máxima eficiência da adubação foliar, alguns erros devem ser evitados, tais como: fonte utilizada (diferentes fontes possuem diferentes eficiências de absorção na planta, por isso, pesquise e se atente a esse fator quando escolher seu fertilizante foliar); tipo de folha e arquitetura da planta (verifique o grau de inclinação da folha em relação ao seu eixo para determinar de que modo a aplicação pode ser mais eficaz.); horário de aplicação foliar (deve ser feita entre 15h e 19h.); estresse hídrico (há pouca eficiência se a aplicação for realizada quando a planta apresenta déficit hídrico acentuado); vento (o excesso deste diminui a eficiência da aplicação e as plantas fecham os estômatos para reduzir a perda de água).
Investimento
Outro cuidado fundamental para esse e outros produtos é o custo: será que compensa mesmo esse tipo de adubação? É estimado que a aplicação foliar de micronutrientes fique entre R$ 50,00 e R$ 70,00/ha, mas há muitas particularidades em cada propriedade que precisam ser levadas em consideração.
Desse modo, anote em um caderno ou planilha as seguintes informações para conhecer se essa adubação compensa: Custo do adubo foliar (R$/L); Dose recomendada (L/ha); Nº de aplicações necessárias; Custo da aplicação por hectare (R$/ha); Resposta esperada em produtividade (kg/ha); Valor de venda do produto (R$/sc).
Multiplicando o custo do adubo foliar pela dose recomendada e pelo número de aplicações, você terá o custo total do produto por hectare. Some o resultado dessa conta pelo custo da aplicação por hectare e terá o custo total da adubação foliar.
Para saber se realmente esse custo compensa, estime a resposta em produtividade e o preço que venderá sua saca de soja. Após isso, multiplique o número de sacas esperadas em resposta a essa adubação pelo preço de venda por saca. Esse será seu ganho devido à adubação.
Subtraia o ganho que você teve por hectare pelo custo total da aplicação. Desse modo, você verá se teve prejuízo ou ganhos com essa aplicação (custo-benefício).
Veja o exemplo abaixo:
Custo do Produto (R$/L ou kg | Dose (L ou kg/ha) | n. de aplicações | Custo da aplicação (R$/ha) |
50 | 0,5 | 2 | 20 |
Custo total da adubação (R$/ha) 70 |
Resposta em produtividade (sc/ha) | Valor da venda do produto (sc/ha) | Custo-benefício |
2 | 62 | 54 |
Não há dúvidas de que as pulverizações foliares são eficazes na prevenção ou correção de deficiências de micronutrientes e na moderação de deficiências de macronutrientes. Uma agricultura moderna exige o uso de corretivos e fertilizantes em quantidades adequadas, de forma a atender a critérios racionais, que permitam conciliar o resultado econômico positivo com a preservação dos recursos naturais do solo e do meio ambiente e com a elevação constante da produtividade das culturas.
O elevado preço dos fertilizantes faz com que práticas de avaliação das necessidades de adubação das culturas, dentre as quais a diagnose foliar, sejam estudadas e empregadas com maior frequência.