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Crescimento inicial: cultivares de bananeira consorciadas com adubos verdes

Crédito: Wardsson Lustrino

Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com

Dentre as práticas que promovem a implementação de sistemas mais sustentáveis de produção agrícola, a utilização da adubação verde tem grande destaque, reduzindo impactos ambientais, além de estar em conformidade com as tecnologias verdes e com o Programa Agricultura de Baixo Carbono.

A adubação verde é uma prática que consiste no cultivo de plantas que proporcionam melhorias e benefícios ao solo. Essas plantas podem ser incorporadas ao solo ou mantidas em sua superfície após cortadas, sendo uma excelente fonte de matéria orgânica.

Assim, a utilização de plantas de cobertura que atuem como fonte de adubos verdes para a cultura da bananeira é de grande interesse do bananicultor, por ser uma prática que otimiza recursos e proporciona maior rentabilidade, além de reduzir gastos com adubos químicos, irrigação e atuar na melhoria da qualidade do solo, protegendo-o como cobertura.

Adubação verde na cultura da bananeira

A adubação verde é uma maneira eficiente de cobrir o solo, na qual se realiza o cultivo de plantas melhoradoras do solo nas entrelinhas do bananal, em geral no período das águas, cortando-as no início do período seco e deixando assim os resíduos vegetais na superfície do solo, como cobertura morta.

Esta prática possibilita uma elevada parcela de matéria orgânica aplicada sobre o solo, atuando no controle da erosão, manutenção da umidade do solo, melhoria de sua estrutura e, consequentemente, de sua drenagem e aeração.

Essa prática também incrementa significativamente a quantidade e disponibilidade de nutrientes no solo e reduz o número de capinas necessárias aos tratos culturais do bananal.

Espécies de adubos verdes

Neste sentido, por ser considerada uma fonte de matéria orgânica, a adubação verde eleva a produtividade da bananeira. As espécies mais utilizadas são o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), crotalárias (Crotalaria juncea, Crotalaria ochroleuca e Crotalaria spectabilis), guandu (Cajanus cajan), feijão-caupi (Vigna unguiculata), amendoim forrageiro (Arachis pintoi), soja perene (Neonotonia wightii), leucena (Leucaena leucocephala), entre outras, que podem ser utilizadas no cultivo consorciado com bananeiras.

Algumas são mais promissoras, como é o caso da C. ochroleuca e a C. juncea, que demonstraram melhor desenvolvimento e menor incidência de plantas espontâneas. Além destas, o feijão-de-porco é uma das espécies que mais se destaca devido ao grande volume de fitomassa produzido, sistema radicular vigoroso, elevada vegetação espontânea e ampla adaptabilidade a diversas condições de clima e solo.

Foi verificado que o feijão-de-porco produz aproximadamente 1,9 kg massa seca/m2.

Vantagens

De maneira geral, são vários os benefícios proporcionados pela adubação verde, dentre-eles:

” Proteção propiciada pela cobertura do solo, que fica protegido contra o impacto direto da chuva;

” Aumento da infiltração da água no solo e diminuição da enxurrada e da erosão;

” Diminuição do efeito da radiação solar direta, reduzindo a temperatura do solo e a amplitude térmica, resultando em menor evaporação da água do solo;

” Melhoria das condições físicas e biológicas do solo, pelo aprofundamento das raízes e incremento da porosidade e da atividade microbiana.

Recomendações

A cobertura do solo, seja ela morta ou viva, é a técnica cultural que mais responde pelo controle da erosão, além de trazer outros benefícios.

Reprodução

A recomendação quanto à época de corte dos adubos verdes é de que os mesmos sejam cortados na fase do florescimento, que é quando ocorre o maior acúmulo de nutrientes. Contudo, deve-se atentar para que o período de corte no cultivo de bananeiras não ultrapasse o final do período chuvoso, para que não haja competição por água com a cultura principal.

Além desta, outra recomendação importante é que os adubos verdes sejam mantidos na superfície do solo como cobertura morta após o corte. Essa recomendação visa, principalmente:

ð Evitar o impacto direto das gotas de chuva sobre o solo;

ð Manter o teor de matéria orgânica do solo;

ð Aumentar a retenção e o armazenamento de água no solo;

ð Reduzir os custos de condução do pomar, pois elimina a necessidade de capinas e diminui a quantidade de fertilizantes utilizada, bem como ameniza a temperatura do solo.

Técnicas eficientes

As leguminosas são utilizadas em pré-plantio ou até a bananeira não proporcionar sombra, tomando-se o cuidado de respeitar a distância mínima de 50 cm da planta.  

No caso de espécies de hábito trepador, como a mucuna-preta, sua utilização deve se dar apenas no período de pré-formação dos pomares, não sendo recomendado seu cultivo em pomares já formados.

Devido à rápida decomposição da biomassa produzida pelas leguminosas, algumas técnicas podem ser utilizadas visando à cobertura do solo por mais tempo, como a utilização de gramíneas como o milheto, sorgo, milho, etc., nas entrelinhas do bananal.

As gramíneas apresentam a decomposição de biomassa mais lenta. Neste caso, uma estratégia seria o uso do coquetel vegetal contendo 50% de leguminosas e 50% de não leguminosas (gramíneas e oleaginosas), que vem proporcionando resultados interessantes.

Além disso, embora o corte das plantas seja recomendado no início do período de floração, o mesmo pode ser realizado no início da produção das vagens. Neste estádio, o material se encontrará mais lenhoso e assim com maior resistência à decomposição, permanecendo como cobertura do solo por mais tempo, como no caso do feijão-de-porco.

Características desejáveis

De maneira geral, algumas as espécies utilizadas como adubos verdes devem apresentar características desejáveis, tais como:

Ü Crescimento inicial rápido para abafar as plantas espontâneas e produzir grande quantidade de biomassa verde;

Ü Baixa exigência em tratos culturais;

Ü Resistência a pragas e doenças;

Ü Disponibilidade de sementes no mercado;

Ü Fácil manejo;

Ü Grande capacidade de fixação de nitrogênio atmosférico, no caso das leguminosas.

Ademais, espécies com raízes mais profundas propiciam a melhor reciclagem de nutrientes provenientes de camadas mais profundas do solo para camadas mais superficiais.

As leguminosas, que correspondem às espécies da família Fabaceae, são as mais comumente utilizadas como adubos verdes. Estas espécies fazem associações com bactérias do gênero Rhizobium, dessa forma, incorporam em seus tecidos, por meio de processos de fixação biológica, o nitrogênio disponível na atmosfera, que posteriormente é aproveitado pela cultura principal.

A principal vantagem, neste caso, é que a quantidade de adubos nitrogenados a ser aplicada pode ser reduzida.

Espécies alternativas

Embora sejam as espécies mais utilizadas, por incorporarem o nitrogênio atmosférico por meio da fixação biológica, outras espécies também são utilizadas, principalmente as gramíneas.

Além das gramíneas, a exemplo do sorgo e do milho, espécies oleaginosas como a mamona (Ricinus communis) no coquetel são importantes, pois promovem a maior diversificação em termos de desenvolvimento vegetativo e radicular, e assim melhorias na mobilização dos nutrientes das camadas mais profundas do solo.

Mais produtividade

Borges (2012) afirma que houve aumento de 127% na produtividade da bananeira quando no cultivo de feijão-de-porco nas entrelinhas do bananal, comparado com bananeiras cultivadas em área permanentemente limpa.

O mesmo autor cita que, após um ano, foram observados teores mais elevados de potássio (K) no solo sob cobertura com feijão-de-porco na cultura da bananeira.

Resultados comprovados em campo

Outra recomendação prática interessante é o cultivo das espécies utilizadas como fonte de material orgânico a serem plantadas em coquetel, ao invés de monocultivo. Neste caso, ocorre acréscimo na diversificação de espécies no sistema de produção, além de aumento e diversificação da população microbiana presente na rizosfera, fornecendo material orgânico com composição nutricional mais diversificada.

Esta prática proporciona, ainda, melhor exploração do solo, reciclando os nutrientes de forma mais eficiente em comparação ao monocultivo.

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