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Maria do Carmo Bassols Raseira
Doutora e pesquisadora da Embrapa Clima Temperado
O pessegueiro é uma espécie frutÃfera de clima temperado e, como tal, necessita de frio hibernal. Com os trabalhos de melhoramento ao redor do mundo foi possível desenvolver cultivares que se adaptam a condições de inverno ameno. E esta espécie, antigamente cultivada entre as latitudes de 45º S e N (limitada ao Sul por falta de frio e ao norte por temperaturas extremamente baixas), é hoje encontrada não só em regiões com clima temperado, mas também sob condições subtropicais e tropicais de altitude.
Limitações
O fator climático que mais limita a expansão da cultura é a temperatura. Insuficiência de frio hibernal causa floração e brotação erráticas e, consequentemente, baixa produção.
Geadas danificam flores e frutinhos, principalmente se ocorrerem antes do endurecimento do caroço. Temperaturas altas próximas à floração (em torno de 28-30ºC, ou mais) diminuem a viabilidade dos polens e reduzem a fertilização e formação de frutas, podendo resultar em ausência completa de produção.
Em qualquer situação, a escolha da cultivar e o manejo adequado do solo e planta ” além, é lógico, do conhecimento do mercado a que se destina a produção – são fundamentais para que a cultura seja uma atividade economicamente rentável. Mas, em condições marginais de adaptação estes fatores são limitantes ao sucesso.
Cultivares
A cultivar é um dos componentes mais importantes do sistema de produção, e pode ser alterada sem precisar mudar o custo de implantação do pomar, uma vez que o valor será o mesmo para uma cultivar bem adaptada, produtora de frutos de boa qualidade e com boa resistência a doenças, ou para uma cultivar sem essas características desejadas. O retorno econômico, entretanto, será, certamente, bem distinto.
De modo geral, as cultivares de pessegueiro mais plantadas no Brasil são originárias dos programas de melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas ” IAC, Campinas (SP) e da Embrapa Clima Temperado, Pelotas (RS).
Há, ainda, cultivares criadas pela Estação Experimental de Taquari – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do RS, EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina) e pelo IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), além de algumas de maturação precoce, criadas pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos.
No Sul do Rio Grande do Sul predomina o plantio de cultivares destinadas ao processamento industrial, principalmente sob forma de compota. As cultivares mais plantadas lá são: Bonão, Pepita, Precocinho, Ágata, Sensação, Granada, Maciel, Esmeralda, Jade, Santa Áurea, Leonense, Eldorado e Jubileu, predominando Granada, Maciel, Esmeralda e Jade. Todas são de polpa amarela, não fundente, com sabor doce-ácido, características adequadas ao processamento sob forma de conservas.
Nas áreas menos frias do Sul e Sudeste do Brasil são plantadas, principalmente, as cultivares Tropic Beauty (originária da Flórida, EEUU), Pampeano, Aurora, Jóia, Douradão e BRS FascÃnio, geralmente complementando o acúmulo insuficiente de frio com pulverização à base de cianamida hidrogenada.
Na Serra Gaúcha e em algumas áreas de Santa Catarina e Paraná predominam as cultivares Marli, Chiripá, Coral, Planalto, Della Nona, Barbosa e Eragil. Nas regiões intermediárias e no total das áreas ao Sul, a cultivar Chimarrita é, possivelmente, ainda a principal.
Mercado
Contrariamente ao que se passa no resto do mundo, onde o consumo de pêssegos está mais ou menos estabilizado e o consumo e consequente plantio de nectarineiras têm sido incrementados, no Brasil isso não aconteceu ainda.
As principais cultivares de nectarineiras plantadas no país são de origem americana: ´Sunblaze´, ´Sungold`, Sunraycer`. As cultivares brasileiras, embora produtoras de frutas mais doces, perdem em tamanho e aparência e não têm competitividade no mercado. Há, entretanto, seleções avançadas, ainda em testes, que representam uma melhoria em relação ao que hoje se dispõe.
Lançamentos
Anualmente, no mundo todo, novas cultivares são lançadas no mercado. No Brasil não é muito diferente. Só nos últimos 11 anos, a Embrapa Clima Temperado lançou as cultivares: Atenas, OlÃmpia, Santa Áurea, Sensação, BRS Bonão, BRS Libra e BRS Âmbar,cujos frutos são destinados ao processamento (embora algumas delas, como Sensação, Santa Áurea, Libra e Âmbar tenham boa aceitação no mercado in natura) ; e Rubimel; BRS Kampai, BRS FascÃnio, BRS Regalo e, mais recentemente, BRS Mandinho, a primeira cultivar brasileira de pêssego platicarpa (tipo bolachinha) e adaptada a condições de inverno com baixo acúmulo de frio.
A EPAGRI lançou as seguintes cultivares tipo mesa (consumo in natura): Zilli (interessante por ter polpa amarela com uma faixa branca na sutura); SCS 419 Mondardo; SCS423 Bonora; SCS424 Fortunato e a cultivar de nectarineira SCS 418 Julema.
O Instituto Agronômico de Campinas lançou as cultivares Big Aurora (pêssego) e Aurojima (nectarina).