José Rafael da Silva
Mestre em Melhoramento Genético e proprietário do Viveiro Flora Brasil
rafael@viveiroflorabrasil.com.br
Victor Hugo Graça Silva
Mestre em Produção Vegetal do Viveiro Flora Brasil
Paulo Luis da Silva Neto
Gerente de projetos do Viveiro Flora Brasil
Renata Cristina Graça Araújo
Diretora do Viveiro Flora Brasil
As Passifloraceae americanas estão distribuídas em quatro gêneros e mais de 530 espécies. O gênero Passiflora é, de longe, o mais importante, com 519 espécies reconhecidas na última revisão por McDougal & Feuillet.
Em uma revisão do cultivo e uso de passifloras, baseada em informações de campo e de literatura, foram inventariadas 81 espécies do gênero Passiflora com fruto comestível. Entre elas estão: Passiflora edulis, P. incarnata, P. ligularis ou granadilha, P. maliformis; o maracujá doce (P. alata) e o maracujá-melão (P. quadrangulares), P. setacea e P. cincinnata.
Dentre as espécies comestíveis, a P. edulis (maracujá-azedo) é a mais consumida, tanto na sua forma natural, como também processada em bebidas, como: sucos, polpas, néctares e afins.
Possibilidades
Quando falamos em variedades de P. edulis, temos uma gama de possibilidades disponíveis, e podemos fazer a distinção entre elas de acordo com a finalidade do fruto (fruta fresca ou processamento).
Para o processamento em agroindústrias, a principal variedade registrada, específica para essa finalidade, disponível no mercado que atenderá as demandas industriais é o FB 300 – “Araguari”.
Essa variedade busca fornecer frutos com elevado teor de graus Brix (quantidade de sólidos solúveis ou açúcares na fruta), rendimento de suco, casca mais fina, melhoramento genético para atingir elevadas produtividades e frutos com formatos e cores heterogêneos.
Por outro lado, quando se trata de variedades disponíveis para o mercado de consumo in natura, temos um número maior de opções, como: FB 200 – “Yellow Master”, BRS Sol do Cerrado, BRS Gigante Amarelo, IAC 273 e SCS437.
Essas variedades prezam por entregar frutos grandes, com formato mais uniforme (cada variedade possui o seu próprio formato), casca mais grossa e amarela e genética para elevadas produtividades.
Além destas, tem-se disponíveis duas variedades que podem ser consideradas de dupla finalidade: o BRS Rubi do Cerrado e o IAC 277. Ou seja, elas podem ser plantadas para atender o mercado de fruta fresca e a agroindústria.
Outras variedades
Para algumas das outras espécies de Passiflora, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) possui variedades registradas disponíveis no mercado, algumas de frutos que, apesar de serem usados há séculos, muitas pessoas estão conhecendo seus sabores únicos somente agora, fazendo com que sejam cada vez mais difundidos no mercado nacional.
As variedades são: BRS Pérola do Cerrado (P. setacea), BRS Mel do Cerrado (P. alata) e BRS Sertão Forte (P. cincinnata).
O BRS Pérola do Cerrado (P. setacea), também conhecido por maracujá-silvestre ou maracujina, é um fruto verde-claro, pequeno (50 a 120 gramas), resistente a várias pragas e doenças (facilidade no cultivo orgânico ou maior economia de insumos no convencional).
Pode ser utilizado no consumo in natura e também na produção de polpas e sucos e possui um apelo funcional, por ser rico em compostos com potencial antioxidante. Suas flores abrem à noite, sendo sua polinização realizada, principalmente, por quiropterofilia (feita for morcegos) ou manual.
Apesar do nome, essa variedade pode ser plantada em quase todo território nacional, chegando a atingir produtividades de 20 a 25 t/ha.
Frutos adocicados
O BRS Mel do Cerrado (P. alata), mais conhecido como maracujá-doce, é a espécie mais cultivada depois do P. edulis. Os frutos são destinados para o consumo in natura e possuem um elevado valor no mercado, porém, a espécie é bastante suscetível a diversas pragas e doenças que também atingem o maracujá-azedo (o programa de melhoramento feito pela Embrapa conseguiu amenizar um pouco esse problema), o que exige uma maior tecnificação dos produtores.
Os frutos maduros possuem casca amarela/alaranjada, pesam entre 120 a 300 gramas e são obovais (podem se assemelhar a um mamão papaia). Cultivado principalmente no Cerrado, a variedade tem potencial produtivo superior a 25 t/ha.
Rusticidade
O BRS Sertão Forte (P. cincinnata), conhecido também como maracujá-do-mato ou somente maracujá em algumas regiões, são de coloração verde-clara, peso variando de 109 a 212 g e de polpa muito ácida.
Pode ser cultivado em várias regiões do Brasil, porém, tem destaque maior na região nordeste, onde, em sua maioria, foi (e ainda é, em alguns lugares) uma fruta colhida por meio do extrativismo.
Isso pode mudar com a introdução de uma variedade, facilitando o cultivo agronômico da espécie e o deixando mais lucrativo, uma vez que a produtividade foi melhorada para atingir mais de 30 t/ha/ano.
Seu principal destaque é a maior resistência ao estresse hídrico, quando comparado a outras espécies já mencionadas de Passiflora.
Ornamentais
Além de dessas espécies com frutos comestíveis, a Embrapa também desenvolveu cinco variedades de Passiflora para uso exclusivamente ornamental, sendo elas: BRS Rubiflora, BRS Roseflora, BRS Rósea Púrpura, BRS Céu do Cerrado e BRS Estrela do Cerrado.
Essas variedades foram obtidas de cruzamentos intraespecíficos e de retrocruzamentos, de maneira que produzem flores com características únicas de cores e tamanhos em grande quantidade e sem a presença de frutos. Podem ser cultivadas em qualquer região e em qualquer tamanho de propriedade.
Compreendendo bem as variedades e as espécies disponíveis no mercado para o cultivo de Passifloras, basta traçar um planejamento considerando o mercado para onde a produção será comercializada, junto com as épocas de plantio e produção de cada variedade para atender os mercados e os manejos, mão de obra, insumos que serão necessários para a produção e a disponibilidade de mudas de qualidade de viveiros licenciados.
Mudas
Em relação à produção de mudas, qualquer que seja a variedade escolhida, é importante que o produtor busque viveiros registrados no MAPA e credenciados junto aos fornecedores de sementes, evitando, desta forma, adquirir sementes de geração mais avançada, já sofrendo os efeitos da endogamia, deletéria para a qualidade dos frutos e produtividade do pomar.
As mudas podem ser produzidas da forma tradicional, mas, atualmente, é altamente recomendável que sejam feitas em recipientes de plástico rígido, ou ainda em recipientes biodegradáveis, sendo estes de custo ainda muito elevado, e sempre, sob estufas com coberturas e proteção lateral adequadas.
Além disso, o uso de substrato próprio para a espécie, já comercialmente amplamente difundido, fará muita diferença no resultado final e na qualidade da muda. Lembrando que, embora tenha pequena contribuição no custo total do cultivo do maracujazeiro, uma boa muda é de vital importância para o sucesso do pomar.