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Desmatamento dobra no Cerrado e acelera em áreas sem informação fundiária

Divulgação

O desmatamento no Cerrado mais que dobrou em agosto e setembro deste ano em comparação com o mesmos meses do ano passado. Foram 144 mil hectares desmatados no período em 2022, alta de 135% sobre os 65 mil hectares desmatados em 2021. O aumento da atividade ocorreu principalmente em áreas sem informação fundiária, o que chama a atenção de pesquisadores. Essas áreas concentram 45% da área desmatada em nos dois meses, contra 12% no ano anterior. Imóveis rurais privados têm 48% de toda a área derrubada no bioma no período, sendo que no ano passado eram 77%.

Divulgados nesta quinta (13) pelo SAD Cerrado, o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado, os dados revelam uma tendência de aceleração no desmatamento em áreas sem informação fundiária, que não têm uma determinação de uso público pelos governos federal ou estaduais, tampouco posse privada. O SAD Cerrado é uma iniciativa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a rede MapBiomas e com o Lapig (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento), da UFG (Universidade Federal de Goiás).

“As áreas de vegetação nativa do Cerrado sem informação fundiária ocupam 13,5% do bioma e constatamos, com preocupação, um aumento na velocidade do desmatamento nessas regiões. O desmatamento nessas áreas é um reflexo do desmonte da estrutura de gestão ambiental que acaba favorecendo o avanço da grilagem de terras, que além da Amazônia, afeta também o Cerrado”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.

O ritmo do desmatamento em agosto e setembro, meses em que a seca no Cerrado está no auge, foi de 2.285 hectares derrubados por dia. O tamanho médio das áreas desmatadas em todo o bioma é de 9 hectares por alerta de desmatamento, porém, mais de um terço (34,9%) dos alertas de desmatamento detectados, refinados e validados pelo SAD Cerrado corresponde ao desmate de áreas maiores que 50 hectares.

A região do Matopiba, que compreende os estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, segue concentrando o desmatamento do Cerrado. Para o período analisado, Maranhão foi o estado que mais desmatou, com 44% de toda a área derrubada no bioma. Pesquisadores do SAD Cerrado observam uma aceleração do desmate no estado, que até então respondia por em torno de 25% da área desmatada no Cerrado em todo o país.

Os municípios em que houve maior desmatamento do Cerrado em agosto e setembro foram Balsas (MA), com 17 mil hectares derrubados, e São Desidério (BA) com 15 mil hectares desmatados. Esses municípios estão justamente na região do Matopiba.

“Os alertas obtidos permitem ver como o desmatamento continua a grassar em regiões já amplamente devastadas, e ao mesmo tempo, se expande em direção ao norte do bioma, em regiões até agora bastante preservadas”, diz Juan Doblas, pesquisador no IPAM responsável pelo SAD Cerrado.

Em 2022, o desmatamento já atingiu 617 mil hectares do Cerrado – uma área maior que a do Distrito Federal. Segundo o SAD Cerrado, 71% das áreas desmatadas no ano estão em imóveis rurais privados com registro no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Até agora, o desmatamento em áreas sem informação fundiária corresponde a 21% do total.

As formações savânicas, entre os diferentes tipos de vegetação do Cerrado, foram as mais afetadas pelo desmatamento em 2022: nessa vegetação se concentra 67% da área desmatada. Um fato alarmante é que, apesar de representar 10,6% da área de vegetação natural remanescente no bioma, as formações campestres já somam 23% do total do desmatamento em 2022.

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