Anna Carolina Abreu Francisco e Silva – annacabreufs@gmail.com
Igor Botega Junqueira – igorbotega@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Letícia Silva Pereira Basílio – Doutoranda em Agronomia/Horticultura – UNESP – leticia.ufla@hotmail.com
Na monocultura, a repetição de determinadas técnicas de manejo pode gerar danos, como a extração dos nutrientes do solo em grandes quantidades, o que promove desequilíbrio e esgotamento e acarreta o empobrecimento do solo; a diminuição e perda da biodiversidade presente na área e favorece a propagação e persistência de pragas e doenças, danos estes que podem promover a degradação definitiva do solo e consequente queda na produtividade.
Desta forma, buscar por novos sistemas de produção que possibilitem uma maior sustentabilidade é necessário. Exemplo deste tipo de técnica é o sistema de plantio direto (SPD) que tem como princípios básicos o não revolvimento do solo, a presença permanente de cobertura vegetal no solo e a rotação de culturas.
A rotação de culturas é uma técnica de manejo adotada pelos produtores associada ao SPD e consiste na busca pelo equilíbrio entre os atributos biológicos, químicos e físicos do solo a partir do uso de diferentes espécies em uma mesma área agrícola e em um mesmo período do ano.
O objetivo é reduzir os impactos ambientais e a exaustão do solo, podendo ainda minimizar a ocorrência de doenças, pragas e plantas daninhas e promovendo a diversificação da renda da propriedade.
Diversidade botânica
A seleção da espécie a ser adotada deve levar em conta sua diversidade botânica, nas quais é necessário adotar plantas com sistemas radiculares, hábitos de crescimento e exigências nutricionais diferentes umas das outras, para que ocorra a interrupção dos ciclos das pragas e doenças, além de reduzir os custos e aumentar a produtividade da cultura principal.
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As principais opções para a rotação são milho, sorgo, milheto, girassol, além de plantas forrageiras. A escolha fica a critério do produtor, devendo o mesmo adotar um sistema que facilite o manejo e aumente seus lucros, de acordo com cada objetivo.
Como exemplo de rotação de culturas pode-se citar o uso de aveia preta + nabo/milho – aveia branca/soja – milho safrinha/soja – trigo/soja, alternando as espécies dentro da mesma estação, cultivando 25% da área com aveia preta + nabo forrageiro, 25% com aveia branca para grão, 25% com milho safrinha e 25% com trigo no inverno e cultivando 75% da área com soja e 25% com milho no verão.
Quando na cultura do milho, geralmente usa-se para a rotação alguma leguminosa, como feijão ou soja. Também podem-se adotar outros exemplos, como: aveia preta – milheto – soja, para produzir palhada; aveia – soja – nabo forrageiro – milho, para elevar a reciclagem de nutrientes como o K e o N para o milho; sucessão soja – soja – milho ou soja (⅔) e milho (⅓), para controle de doenças na soja; nabo forrageiro – milheto na primavera e milho, produz uma boa descompactação superficial do solo, alta produção de palha e controle de plantas invasoras; soja – girassol safrinha e milho, bom para aumentar a produtividade do milho e estruturar o solo.
Vantagens
A adoção da rotação de culturas em um sistema de cultivo e, quando conduzida de forma correta, apresenta diversas vantagens e benefícios que proporcionam a recuperação do solo, assim como uma produção diversificada. O uso desta técnica permite que o sistema de cultivo se torne mais produtivo a partir da melhoria das características do solo.
Em relação à qualidade química do solo, a rotação de culturas apresenta uma gama de benefícios, pois devido ao aumento de fitomassa no solo, aliado ao SPD, tem como resultado o aumento dos teores de matéria orgânica do solo, apresentando assim melhora na qualidade química deste solo, bem como na produtividade das culturas.
Dentre os benefícios estão a melhora da estrutura do solo, aumento na disponibilidade de nutrientes, aumento da biomassa e atividade biológica no solo. A reciclagem de nutrientes, no entanto, é considerada um dos efeitos benéficos de maior importância. A partir do uso de espécies com diferentes sistemas radiculares na rotação de culturas torna-se possível atingir as diferentes profundidades do solo, aproveitando assim os nutrientes que estão disponíveis nas várias camadas.
Para a qualidade biológica do solo, os microrganismos são de grande importância por serem responsáveis pela ciclagem e reciclagem de nutrientes, pela decomposição de materiais orgânicos e incorporação dos mesmos as frações orgânicas do solo, pela formação e estabilização de agregados do solo, controle biológico e pela fixação de nitrogênio.
Desta forma, a rotação de culturas possibilita o aumento na diversificação da comunidade de microrganismos, o que é fundamental para que sejam mantidas as suas funções no solo.
No entanto, um dos principais fatores que determina a produtividade de uma cultura é a qualidade física do solo, apresentando influência direta no desenvolvimento, crescimento e na qualidade química e biológica do solo. A compactação se apresenta como uma das principais causas de degradação do solo, causando aumento da densidade, resistência mecânica e redução da porosidade, da capacidade de infiltração de água e aeração do solo.
Como funciona
No SPD pode ocorrer compactação do solo, onde o uso da rotação de culturas pode auxiliar de forma positiva, melhorando as características físicas do solo e diminuindo a densidade do mesmo.
No manejo de plantas daninhas, a rotação de culturas é considerada um método cultural, uma vez que, ao se realizar a semeadura sobre a palhada da cultura anterior, não é realizado o revolvimento do solo e mantêm-se as sementes de plantas daninhas nas camadas mais profundas do solo, dificultando assim o seu processo de germinação.
A presença de cobertura morta no solo é um fator importante no controle destas plantas, apresentando efeitos físicos que influenciam na redução de germinação das sementes, efeitos químicos que são referentes à ação de substâncias alelopáticas que são liberadas durante o processo de decomposição da palhada e agem dificultando o desenvolvimento destas plantas e os efeitos biológicos ocorrem por meio da ação dos microrganismos.
A rotação de culturas permite que no controle químico haja a possibilidade de uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação para cada cultura, sendo importante para a diminuição de ocorrência de resistência de espécies a um determinado tipo de herbicida ou mecanismo de ação, além de contribuir para a diminuição do uso de produtos químicos e, consequentemente, no menor gasto com estes.
Para a obtenção de maior eficiência na elevação da capacidade produtiva do solo, ao planejar a rotação de culturas deve-se levar em consideração a escolha de culturas de potencial comercial, como produção elevada de matéria orgânica e de rápido desenvolvimento.
Podem ser utilizadas para esta finalidade espécies forrageiras, gramíneas e leguminosas, tendo como preferência espécies fixadoras de nitrogênio, como sistema radicular profundo e bem desenvolvido.
Ferramentas úteis
Para a condução desta técnica de forma adequada, o produtor deve lançar mão de toda a tecnologia disponível na propriedade para o controle de erosão, realização da calagem e adubação, o uso de sementes de qualidade e tratadas, uso de cultivares adaptadas a região de cultivo, época de plantio correta, densidade de semeadura, controle de plantas daninhas, pragas e doenças.
Na formação de cobertura de solo e/ou suprimento inicial de palha é indicado o uso de cultivares com alta produção de massa seca e com alta relação carbono-nitrogênio.
Além disso, o planejamento de implementação da rotação de culturas a médio e longo prazos é fundamental para sua execução e para que se torne viável do ponto de vista econômico, levando em consideração o custo das sementes e o retorno financeiro da comercialização dos grãos.
Implantação eficiente
E, para que a implantação e condução do SPD ocorra de forma eficiente, um fator fundamental na rotação de culturas é a manutenção de uma quantidade mínima de palhada de forma permanente. A formação de cobertura morta no solo é uma das exigências do SPD, desta forma, a rotação de culturas auxilia nesse quesito, uma vez que a presença de cobertura morta no solo faz com que a velocidade de escorrimento das enxurradas seja reduzida.
A adoção da rotação de culturas associada ao SPD oferece benefícios de forma direta para a recuperação e conservação do solo, para as plantas e ao meio ambiente. Ao não realizar o revolvimento do solo, diminui-se a realização de operações de gradagem e aragem, minimiza o uso de maquinários, reduzindo a compactação do solo, bem como o consumo de combustíveis.
Além disso, diminuem os custos com aplicações de herbicidas, fungicidas e inseticidas, uma vez que a rotação de cultura quebra o ciclo das pragas, doenças e plantas daninhas, proporcionando uma maior economia ao produtor e, consequentemente, um maior lucro e bons resultados em termos de produtividade ao fim da colheita.