Por Vanderlei Tenório
A adoção da agricultura é a mudança mais fundamental na história da humanidade. Não apenas produziu uma sociedade madura pela primeira vez, mas também mudou completamente a própria sociedade.
Os grupos de caça e coleta são essencialmente iguais, mas as comunidades sedentárias levaram a uma profissionalização crescente dentro da sociedade quase desde o início, e ao surgimento de elites religiosas, políticas, militares e um país com autoridade para guiar o resto da sociedade – paralelamente ao desenvolvimento da agricultura, viu-se também o estreitamento das relações entre os humanos e os outros animais.
Nesse aspecto, a prática agrícola é uma das atividades mais antigas da humanidade. No Neolítico, as primeiras tecnologias e materiais usados no cultivo de plantas e recintos de animais foram a principal razão para o chamado assentamento dos humanos, que lhes permitiu viver permanentemente em locais específicos, apesar da coexistência de longo prazo de coleta, caça e agricultura. O desenvolvimento da agricultura está diretamente relacionado à formação das primeiras civilizações, o que nos ajuda a compreender a importância da tecnologia e dos meios técnicos no processo de construção da sociedade e de seu espaço geográfico.
Por conseguinte, à medida que essas sociedades modernizam sua tecnologia, o desenvolvimento da agricultura também avançava. Tanto que agricultura se consolidou na época do Crescente Fértil, o que diretamente alicerçou o desenvolvimento e estabelecimento do início das grandes civilizações.
Nesse quadro, a relação da produção de alimentos e a transformação do homem de nômade coletor para agricultor fixo, possibilitou a estruturação das primeiras instituições sociais, da consciência de classe, da divisão social do trabalho, das trocas comerciais e o reconhecimento da família e da própria sociedade. Tais fatores aqui citados, são os pontos centrais para constituição da relação entre o homem e sociedade e homem e agricultura.
Para tanto, a agricultura foi vital para o aprofundamento dessa construção milenar. Nesse ponto, o fogo norteia o nascimento do homem enquanto agente social e, posteriormente, o surgimento da agricultura o legitima. A posteriori, a produção de alimentos e o estabelecimento da organização social e institucional sólida garante a continuidade do homem e a estruturação da sociedade. Ou seja, a garantia da sobrevivência da espécie humana está vinculada na forma de obtenção, produção, armazenamento ou distribuição dos alimentos.
Ademais, essa dinâmica salvaguarda a origem das primeiras formas de organização social e como essa origem está liga direta e indiretamente ao desenvolvimento do homem, ao domínio de técnica, a importância do fogo e da difusão da agricultura atrelada a domesticação de animais selvagens. A agricultura propiciou as primeiras aldeias, cidades e civilizações.
Em resumo, o surgimento da agricultura, portanto, é o norte balizar da civilização e o uso do fogo, da mesma maneira, pode ser pensado como o ponto chave da humanização. Pois, o fogo representou o aperfeiçoamento da tecnologia e reverberou na sociabilidade e no desenvolvimento intelectual dos homens.
Vanderlei Tenório
É jornalista, pesquisador, professor de atualidades, correspondente freelance de veículos portugueses e bacharelando em Geografia (IGDEMA/UFAL).