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Manganês nos fertilizantes foliares ameniza efeitos do glifosato

Crédito: Case IH

Fabrício Custódio de Moura Gonçalves
Doutor e professor em Agronomia – Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
fabriciocustodiodemouragoncalves@urc.uespi.br
Elizabeth Orika Ono
elizabeth.o.ono@unesp.br
João Domingos Rodrigues
joao.domingos@unesp.br
Doutores e professores de Fisiologia Vegetal – Unesp

O manganês é um elemento essencial na nutrição de plantas e desempenha importantes funções, entre elas, a participação na fotossíntese, no metabolismo do nitrogênio, bem como hormonais (auxinas), fenóis e ligninas. 

A disponibilidade desse nutriente pode ser bastante variável, implicando em deficiência ou toxicidade às plantas, dependendo da solubilidade dos compostos de manganês presentes no solo. A forma iônica absorvida pelas plantas é Mn2+, que atua na síntese da clorofila e participa do metabolismo energético, sendo importante cofator para várias enzimas-chave na biossíntese dos metabólitos secundários da planta associados com a via do ácido chiquímico.

Dessa forma, tendo em vista a importante participação do manganês no processo fotossintético e sua considerável extração e exportação pelas culturas, a adubação foliar de manganês em conjunto com a aplicação de glifosato pode representar uma alternativa interessante para proporcionar níveis adequados desse elemento para a planta, auxiliando no processo de recuperação do estresse proporcionado pelo acúmulo de ácido aminometilfosfônico, ingrediente do glifosato. 

Manejo econômico

A aplicação do manganês é importante para se atingir altos rendimentos, e é interessante ser feita em conjunto com o glifosato, pensando na redução de operações mecanizadas. A Embrapa recomenda a aplicação de 350 g ha-1 de Mn foliar ao longo do desenvolvimento da cultura da soja, e é interessante parcelar esta aplicação em três vezes (em torno dos estádios V3, V7 e R1). No campo, observamos a utilização de doses menores, dependendo da fonte, sem prejuízos à produtividade.

Dentre as fontes, a mais eficiente para misturas é o Mn-EDTA, pois não reage ao glifosato, não tem sua eficiência diminuída e mantém o pH da solução em um nível aceitável (em torno de 5), sem causar maiores danos às células da epiderme foliar.

Dessa forma, é importante que o Mn esteja completamente quelatizado. Geralmente, uma boa fonte de Mn-EDTA possui em torno de 13% de Mn. De qualquer forma, recomenda-se que seja feito teste de qualidade/compatibilidade antes de realizar as misturas de tanque, analisando cada lote de fertilizante adquirido.

Entenda melhor

A soja possui bactérias nos nódulos, em sua raiz, que auxiliam na absorção de nitrogênio, elemento fundamental para a planta. É a chamada fixação biológica de nitrogênio (FBN), um processo natural que ocorre em associações de plantas com bactérias diazotróficas, permitindo que o nitrogênio seja capturado do ar e fixado por estas bactérias.

Porém, quando o glifosato é aplicado na soja resistente ao glifosato (RR), este herbicida pode prejudicar a simbiose com o rizóbio devido à intolerância das bactérias diazotróficas ao ingrediente ativo.

Quer dizer, a soja é tolerante ao glifosato, mas as bactérias que estão nos nódulos não, e acabam sendo suscetíveis ao efeito do herbicida. E os principais danos para a planta são a redução na FBN e na concentração de diversos nutrientes minerais, o que compromete o desenvolvimento da planta, diminuindo a produtividade.

Um efeito que vem sendo atribuído à fitotoxidade do glifosato é a menor concentração de clorofila e amarelecimento das folhas, resultando em alterações na taxa fotossintética. Assim, trabalhos acadêmicos também vêm tratando do amarelecimento foliar denominado “Yellow Flashing” e muitos produtores passaram a usar o manganês junto com o glifosato, na tentativa de minimizar estes efeitos.

O manganês

Na prática da aplicação de manganês, as folhas ficam mais verdes, no entanto, sem alteração do metabolismo de nodulação pelas bactérias. Isso porque o manganês não possui efeito positivo na nodulação ou na redução de toxicidade do nódulo, portanto, essa prática não ameniza a baixa fixação biológica de nitrogênio no período em que está ocorrendo a inibição/formação do nódulo.

Apesar disso, o Mn é essencial para o desenvolvimento da cultura, sendo importante na mitigação de estresses oxidativos e indispensável para atingir altas produtividades, sendo o fornecimento do nutriente via foliar uma boa opção.

Neste sentido, a aplicação do Mn junto com o glifosato é uma alternativa interessante, não como tentativa de compensar o mito da complexação de Mn2+ pelo glifosato, mas sim para aproveitar operações mecanizadas que já devem ser feitas, buscando reduzir custos.

Enraizamento das plantas

Com base nos aspectos observados, pode-se dizer que a adubação com manganês pode auxiliar no incremento da produtividade da soja, não substituindo a adubação de base, mas sim servindo como fonte complementar de adubação.

O manganês é um nutriente pouco móvel nas plantas, e é absorvido pelas raízes através de mecanismos de difusão e interceptação radicular, na forma de Mn2+ e complexos orgânicos, sendo assim, necessário aplicar o nutriente, quando via solo, próximo às raízes.

Este nutriente participa de vários processos metabólicos nas plantas, como por exemplo a ativação e constituição de enzimas, além da fotólise da água. Várias enzimas envolvidas na fotossíntese são ativadas pelo manganês, tanto nas plantas C3 quanto C4. Segundo Malavolta (2006), o manganês é um micronutriente bastante exigido pelas plantas.

Quando ocorre deficiência, a fotossíntese é afetada, diminuindo o nível de carboidratos solúveis na planta, prejudicando também outras reações de transporte de elétrons. O manganês está envolvido na proteção de algumas células contra efeitos deletérios, e a sua carência resulta em diminuição radicular e produtividade vegetal, além de afetar a respiração, visto que o nutriente ativa enzimas que atuam na glicólise e ciclo do ácido cítrico.

Apesar disso, deve-se acrescentar que a absorção deste nutriente é pouco regulada pela planta, podendo ocorrer uma absorção excessiva, resultando em redução do crescimento de brotos e raízes, além de prejudicar diversos processos fisiológicos e bioquímicos da soja.

Toxicidade

São constantes os problemas de toxicidade de manganês na soja, devido ao caráter ácido da maioria dos solos brasileiros. Já a carência ocorre em plantios em áreas de baixa fertilidade, e/ou com cultivares de alto potencial produtivo.

A disponibilidade do manganês depende de fatores como pH e textura do solo, teor de matéria orgânica etc., e geralmente as deficiências do nutriente ocorrem em solos com pH de 6,5 ou mais, com textura média.

A eficiência da aplicação de manganês no solo é baixa. Se o pH do solo é alcalino, o manganês rapidamente se converte para uma forma indisponível para as plantas, sendo uma alternativa a aplicação foliar.

Esta aplicação, porém, requer o parcelamento das doses, visto que o manganês demora para ser absorvido e é quase imóvel na planta, quando aplicado nas folhas. Mann et al. (2000), estudando as aplicações do manganês na soja, constataram que três aplicações via foliar em V4, V8 e V10 proporcionaram as maiores produtividades, sendo mais eficientes que a aplicação via solo.

Dessa forma, a análise química do solo é uma ferramenta importante no diagnóstico da necessidade da adubação com manganês, mas há alguns problemas, como a falta de teores previamente estabelecidos com ensaios de calibração, sendo o Mn fornecido empiricamente, o que pode representar erros na recomendação ou gerar custo desnecessário quando o solo é suprido, podendo induzir excessos e toxicidade, levando inibição da absorção de cálcio, magnésio, ferro e zinco.

Pesquisas

Um estudo conduzido pelo Laboratório de Instrumentação Nuclear (CENA/USP) testou quatro fontes de Mn em misturas de tanque com glifosato, bem como a eficiência destas misturas no fornecimento de Mn para a soja RR.

As fontes utilizadas foram sulfato de Mn (MnSO4), carbonato de Mn (MnCO3), fosfito de Mn (MnHPO3) e Mn quelatizado com ácido etilenodiaminotetracético (Mn-EDTA).

Os resultados mostraram que misturas de MnSO4 + glifosato podem causar perdas de até 30% do Mn e do glifosato no tanque de pulverização, devido à formação de complexos pouco solúveis que precipitam com uma razão molar Mn:Glifosato de 2:1.

Essas perdas refletem em diminuição na eficiência do fornecimento do Mn para a soja e no controle de plantas daninhas pelo glifosato, como constatado por Bernards et al. (2005).

Resultados

Provavelmente devido ao seu pH ácido (em torno de 1,7), a solução de fosfito de Mn não reagiu com o glifosato na mistura de tanque, porém, esta combinação reduziu a eficiência no fornecimento de Mn para a soja.  Das fontes de manganês avaliadas, a única que não reagiu e não teve sua eficiência afetada pela mistura com o glifosato foi o Mn-EDTA.

Observam-se algumas características destas fontes, como a alta acidez do fosfito de Mn (com pH abaixo de 2) e a grande influência que a mistura do glifosato causa sobre a solução de MnSO4. Fontes como o Mn-EDTA, Mn-fosfito e o MnCO3 não sofrem grandes influências devido à mistura, pois não reagem quimicamente com o glifosato.

O Mn quelatizado não reage, pois o EDTA tem força de ligação maior que a molécula de glifosato. No caso do MnCO3 não há interação, pois esta é uma fonte pouco solúvel, que não disponibiliza íons Mn2+ livres para reagirem com o glifosato em solução.

O caso do Mn-fosfito é interessante, pois é uma fonte solúvel de Mn2+, mas seu pH ácido não proporciona um meio favorável à complexação do Mn com o glifosato. Em pH ácido, a molécula desse herbicida está protonada, ou seja, os sítios de adsorção estão preenchidos com íons H+, não restando locais para a adsorção do Mn2+.

Neste sentido, diminuir o pH da mistura é uma alternativa para evitar complexação até mesmo quando se usa uma fonte como o MnSO4, mas também vemos que esta pode não ser a melhor opção, pois observa-se que em pH 1 não há a formação de precipitados, ao contrário do que se observa em condições de pH entre 3 e 5. No caso de se elevar o pH para 7, a forma química do Mn é alterada.

No entanto, embora a redução do pH evite reações de complexação no tanque, a aplicação de soluções ácidas sobre a folha da soja pode ser danosa para a cultura. A olho nu, é possível observar sintomas de fitotoxidez e, analisando os danos em microscópio eletrônico de varredura, vemos que as células são severamente danificadas, tendo suas paredes e membranas colapsadas.

Este efeito, ao mesmo tempo que pode promover a absorção rápida da solução aplicada, devido aos ferimentos causados, pode também causar estresses oxidativos e servir como porta de entrada para patógenos.

Dicas para mais produtividade

Evitar interação do elemento manganês (Mn) com outros elementos químicos. Por exemplo, estudos revelam que o incremento na concentração de magnésio (Mg) de 1,0 mmol L-1 para 3,0 e 6,0 mmol L-1 diminuiu progressivamente a absorção de Mn, com redução média de 34,5% (3,0 mmol L-1) e 60,3% (6,0 mmol L-1). Esse resultado evidencia a interação que ocorre entre os nutrientes, com inibição na absorção de Mn, pela maior presença de Mg na solução.

A calagem e o consequente aumento de pH do solo são, provavelmente, o fator mais importante de controle da disponibilidade de Mn2+ para as plantas, visto que esses elementos têm sua disponibilidade diminuída com a elevação do pH do solo.

Uma área tratada só com glifosato teve rendimento médio de 49,4 sacas por hectare de soja. Já uma lavoura na mesma região que recebeu, além do herbicida, o fertilizante à base de micronutrientes, como Mn, cobalto, molibdênio e zinco, teve a produtividade de 61,9 sacas por hectare.

Mitos e verdades

As histórias que cercam as interações entre o Mn e o glifosato compõem um bom roteiro de novela, com mentiras, verdades, polêmicas e reviravoltas. O maior desafio é desconstruir mitos, que podem ser usados erroneamente como justificativas para explicar fenômenos como o Yellow flashing.

Diante dos fatos, vemos que não é necessário aumentar doses de Mn para compensar efeitos do glifosato, portanto, produtores, fiquem atentos quando receberem alguma recomendação deste tipo.

Adquirir produtos de procedência e qualidade também é imprescindível, pois é importante que o Mn esteja completamente quelatizado. Geralmente uma boa fonte de Mn-EDTA possui em torno de 13% de Mn.

De qualquer forma, recomenda-se que seja feito teste de qualidade/compatibilidade antes de realizar as misturas de tanque, analisando cada lote de fertilizante adquirido.

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