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Sueli Corrêa Marques de Mello
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
O feijão é historicamente um dos principais alimentos consumidos em todo o mundo e constitui importante fonte proteica na dieta dos países em desenvolvimento das regiões tropicais e subtropicais.
A espécie Phaseolus vulgaris L. (feijoeiro comum) é a mais cultivada do gênero Phaseolus, sendo o Brasil o principal produtor e também o maior consumidor de feijões desta espécie. O consumo per capita dessa leguminosa no país vem aumentando ao longo dos anos e hoje está situado entre 16,0-19,0 kg/habitante/ano.
A preferência do brasileiro é regionalizada, diferenciando-se quanto à cor e ao tipo de grão, embora os feijões do grupo carioca sejam aceitos em praticamente todo o país e, portanto, sejam os mais cultivados. Pelo fato de tratar-se de uma cultura adaptável a diversas condições climáticas, o feijão é cultivado nas distintas unidades da federação em diferentes épocas, o que permite o contÃnuo abastecimento do mercado e atenua o problema da rápida perda de qualidade dos grãos armazenados.
Importância econômica
O maior volume produzido no país é atribuÃdo aos pequenos produtores, que utilizam quase sempre mão de obra familiar e são responsáveis por quase 70% da produção nacional do grão, o que reforça a vocação dessa cultura para a produção em pequena escala.
A esses se juntam os médios agricultores, perfazendo cerca de 2.9000.000 hectares explorados nas safras “das águas“ e “das secas“. Em geral, são propriedades de baixo uso tecnológico, por isso a produtividade média é baixa, não ultrapassando os 775 kg/ha.
Entretanto, com o advento da irrigação de pivô central, nos últimos anos a cultura vem ganhando espaço nas grandes propriedades, nas chamadas safras de “inverno“, irrigadas, onde o feijão é cultivado principalmente em sistema de plantio direto e com alta tecnologia, incluindo o uso da colheita mecanizada. Esta modalidade de produção cobre uma área total aproximada de 156.000 hectares.
A irrigação representa importante instrumento para reduzir os impactos de fatores climáticos adversos sobre a produção do feijão. Com sua adoção verificou-se um grande incremento na produtividade da cultura, hoje com uma média que ultrapassa os 1.500 kg/ha, podendo atingir 3.000 kg/ha nas propriedades do tipo empresarial.
Entretanto, esse aumento em produtividade nem sempre corresponde a um proporcional ganho financeiro do produtor, considerando os custos de investimento e os riscos da atividade.
Patógenos de solo
Entre os diversos fatores responsáveis pela redução da renda líquida auferida na exploração da cultura do feijão, encontram-se os riscos relacionados com a produção, entre os quais a ocorrência de doenças. Mais de 120 espécies microbianas são citadas como patógenos do feijoeiro, atacando tanto as partes aéreas como as subterrâneas da planta.
Em meio a essas, as doenças causadas por fungos de solo caracterizadas pelo tombamento ou dumping-off e pelas podridões e murchas, são os principais responsáveis pela redução de estande e vigor das plantas. São listadas seis espécies de fungos de maior ocorrência e importância epidemiológica na cultura do feijão, no Brasil. Esses patógenos e as respectivas doenças são descritos a seguir.
Mofo branco
O mofo branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, ocorre principalmente em regiões ou épocas de clima frio e úmido, sendo favorecido por alta umidade relativa, baixa temperatura e pouca aeração. Provoca redução de estande, quando a infecção se verifica nas fases de pré e pós-emergência, embora os sintomas sejam mais visÃveis nas partes aéreas, a partir do início da floração.
Neste estádio da cultura, o ataque do fungo se dá nas hastes, folhas e vagens, principalmente nas localizadas próximas ao solo, provocando manchas aquosas e, persistindo as condições ideais para desenvolvimento da doença, essas manchas evoluem rapidamente para uma podridão mole, que se cobre de um micélio branco com aparência de algodão. Formam-se então inúmeros esclerócios, tanto na parte externa dos tecidos como no interior das vagens.