Jaqueline Carvalho
Leandro Luiz Marcuzzo
Professores do Instituto Federal Catarinense-IFC/Campus Rio do Sul
A cebolinha-verde (Alliumfistulosum), conhecida também como “cheiro verde“, é um dos condimentos mais utilizados na maioria dos lares brasileiros e indústrias alimentÃcias na forma “in natura“ ou processada (FERREIRA et al. 2003).
A cultura, na maioria das vezes, é cultivada em sistema orgânico e contribui para a qualidade de vida principalmente da pequena propriedade rural, já que o alto valor agregado e o envolvimento da mão de obra familiar proporcionam sustentabilidade (FERREIRA & CASIMIRO 2011).
Podas
A prática da poda aérea de plantas no período de formação das mudas é considerada um condicionamento mecânico e o procedimento visa o aproveitamento prático das respostas das plantas às condições desfavoráveis, com o objetivo de controle do crescimento vegetal ou propiciar uma melhor adaptação ao local onde a cultura será desenvolvida (LATIMER et al. 1991).
A realização da poda aérea nas mudas antes de seu transplante tem sido recomendada por técnicos e utilizada amplamente por agricultores (GUEDES &AITA 1982). Os possÃveis efeitos benéficos desta prática são a redução da transpiração e consequentemente da perda de água até o restabelecimento das plantas no campo. No entanto, ainda existem dúvidas quanto ao uso da poda em mudas.
Devido às escassas informações sobre o efeito da poda de mudas por ocasião do transplante, há dificuldade de se encontrar estudos referentes às respostas das plantas aos componentes de produção em função do uso da técnica nesta fase. Mediante o exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes alturas de poda na produtividade de cebolinha-verde.
Experimento
O experimento foi realizado de 31 de janeiro de 2014 a 23 de março de 2014 em propriedade agrícola produtora de cebolinha-verde orgânica no município de Lontras (SC), pertencente à região do Alto Vale do Itajaà (SC), com latitude de 27º10’29’S, longitude de 49º34’09’W e altitude de 360 metros.
Foram utilizadas mudas de cebolinha-verde com aproximadamente 160 dias. O corte das mudas acima do pseudocaule foi realizado em 4, 8 e 10 cm e um tratamento como testemunha. A altura seguida pelo produtor foi de 14 cm. A altura de corte foi determinada a partir da inserção da primeira folha do pseudocaule.
O experimento foi conduzido em delineamento em blocos casualizados e quatro repetições, com 20 plantas em cada repetição. Cada planta foi constituÃda do transplante de quatro perfilhos com o espaçamento entre elas de 15 x 25 cm, e para análise foram coletadas cinco plantas aleatórias de cada repetição.
A temperatura média durante a condução do experimento foi de 26,8ºC e a precipitação acumulada foi de 158 e 110 mm, respectivamente, para os meses de fevereiro e março.
A colheita foi realizada baseada no estádio em que a planta seria aceita comercialmente, com 52 dias. Foram avaliadas as seguintes variáveis: biomassa foliar, número de perfilhos, número de folhas por perfilho, número e comprimento de folhas totais, biomassa de folhas comerciais, número de folhas comerciais, número de maços comerciais (100 gramas cada), biomassa e comprimento médio de raízes.
Os valores médios de cada variável foram submetidos à análise de variância (ANOVA) pelo teste F 5% de significância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey 5% no software estatÃstico SASM-Agri (CANTERIet al. 2001).
Para as variáveis produtivas: biomassa foliar, número de perfilhos, número de folhas por perfilho, número de folhas totais não houve diferença significativa pelo teste F a 5% entre as alturas de corte em comparação ao sistema utilizado pelo produtor (14 cm) (Tabela 1).
Tabela 1. Produção em biomassa fresca das folhas, número de perfilhos, número de folhas por perfilho e planta e comprimento foliar em diferentes alturas de poda da parte área no momento do transplante de cebolinha-verde. Lontras, SC, 2014
Altura de corte | Biomassa foliar (g/planta) | Perfilhos
(nº/planta) |
Número de folhas/perfilho | Número de folhas totais/planta | Comprimento médio de folhas (cm) |
14 cm | Â 108,25ns | 4,12ns | Â 5,23ns | Â 22,62ns | Â 49,37 b |
4 cm | 115,00 | 4,00 | 5,54 | 22,25 | Â 54,37 ab |
8 cm | 120,00 | 3,50 | 5,73 | 18,25 | 50,75 a |
10 cm | 145,00 | 3,75 | 4,93 | 18,50 | 61,25 a |
CV (%) | 34,49 | 14,42 | 8,42 | 17,38 | 6,92 |
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, diferem significativamente entre si, teste de Tukey a 5%; ns ” não significativo pelo teste F 5%; CV (%) ” coeficiente de variação
Essa característica vem na contramão da concepção de alguns produtores de que a poda pode aumentar o vigor das plantas e, consequentemente, a produtividade. Esse aspecto também foi constatado por MENEZES JUNIOR et al. (2013), que não verificou diferenças no número de folhas de cebolinha com e sem poda feita em canteiro de produção de mudas.
Ação na planta
Ao se executar a poda nas mudas ocorre a paralisação do crescimento da planta, o que é revelado pela menor biomassa foliar em cebolinha-verde quando efetuou-se a poda de 10 para 4 cm (Tabela 1).
MINAMI (1995) discute que as práticas de condicionamento mecânico, como escovamento de folhas e movimentação ou agitação de folhas, reduzem o crescimento das mudas em fitomassa, fato que ocorreu quando se deixou a poda a 14 cm, aumentando o estresse na planta e reduzindo o desenvolvimento de novas folhas (Tabela 1).
Para a variável comprimento de folhas, verificou-se que a poda a 14 e 4 cm apresentaram o menor crescimento em relação a 8 e 10 cm (Tabela 1). Isso possivelmente aconteceuporque as plantas que se encontravam em desenvolvimento abaixo da poda e por não terem sofrido esse estresse mecânico, tenderam a um melhor desenvolvimento, conforme verificado por BOVI&MINAMI (1999).
MENEZES JUNIOR et al. (2013) também verificou redução gradativa na altura de folhas de mudas de cebolinha à medida que foram feitas mais podas em relação às plantas não podadas.Situação diferente ocorreu com as plantas cortadas a 14 cm, em que todas as folhas foram seccionadas e diminuÃram sua altura, devido a não haver novas folhas para seu desenvolvimento, resultando em sua menor fitomassa produtiva e comercial (Tabela 1 e Tabela 2).
Para as variáveis comerciais: biomassa de folhas comerciais, número de folhas comerciais e número de maços comerciais também não houve diferença significativa entre as alturas de poda em relação ao sistema feito pelo produtor (Tabela 2).
Esperava-se que a 14 cm, em decorrência de maior descarte, houvesse redução do número de folhas, no entanto, esse fato não foi constatado no experimento. Ressalta-se que há um diferencial de sete folhas descartadas com poda a 14 cm, contra apenas quatro quando a poda foi feita a 8 e 10 cm (Tabela 1 e Tabela 2).
Tabela 2. Produção comercial em diferentes alturas de poda da parte área no momento do transplante de cebolinha-verde. Lontras, SC, 2014
Altura de corte | Biomassa de folhas
comerciais (g/planta) |
Folhas comerciais (nº/planta) | Nº de maços
Comerciais  |
Comprimento
(cm/raiz) |
Biomassa fresca de raiz (g/planta) |
14 cm | 95,75ns | Â 15,50ns | Â 3,75ns | 7,00ns | 5,20ns |
4 cm | 97,00 | Â 16,12 | 4,25 | 6,00 | 5,00 |
8 cm | 102,50 | Â 14,50 | 4,50 | 6,00 | 9,00 |
10 cm | 131,20 | Â 14,50 | 4,25 | 6,75 | Â 11,00 |
CV (%) | 34,13 | 16,46 | 27,65 | 21,7 | 39,16 |
ns” não significativo pelo teste F 5%; CV (%) ” coeficiente de variação
Â
Biomassa
Ao avaliar a biomassa e comprimento de raízes pela poda da parte área, ambas as variáveis não foram significativas estatisticamente (Tabela 2). A cebolinha-verde, apesar de formar bulbos como reserva, não compromete o desenvolvimento da parte área (Tabela 1) e não tem influência no sistema radicular (Tabela 2).
No entanto, em cebola, foi constatado em que à medida que diminui o número de folhas ocorre um decréscimo na biomassa de bulbo (MENEZES JUNIOR et al. 2013). A altura de poda no momento do transplantio não influencia a produção de cebolinha-verde.