Fernanda Tiemi Kito
Graduanda em Ciências dos Alimentos – ESALQ-USP
fernanda.kito@usp.br
Catherine Amorim Engenheira agrônoma e doutoranda – ESALQ-USP
catherine.amorim@usp.br
Ricardo Alfredo Kluge
Doutor e professor – ESALQ/USP
rakluge@usp.br
A podridão azeda se trata de uma importante doença fúngica que afeta a laranja-lima durante a pós-colheita. Seu fungo causador está presente no solo, sendo que a ocorrência de chuvas, irrigação e ventos o faz chegar até a superfície das frutas.
Com a presença de um filme de água e de uma lesão na fruta, o fungo assexual Geotrichum citri–aurantii penetra na fruta e causa a podridão azeda. Por possuírem esporos, as frutas doentes, quando em contato direto com as frutas sadias, acabam por infectá-las, bem como quando em contato indireto, por meio de sacolas de colheita, caixas e contêineres contaminados.
Sintomas
Após a infecção pelo fungo causador da podridão azeda, inicialmente ocorre o surgimento de lesões umedecidas, brilhantes e de coloração marrom-clara. Em condições de elevada umidade relativa do ar e em temperaturas superiores a 12°C, há a formação de um mofo-branco e enrugado no fruto.
Na fase mais avançada, o fruto sofre uma podridão azeda ou amarga, com forte odor pútrido e atrai insetos que depositam ovos.
Manejo preventivo
Para prevenir os citros contra a contaminação de podridão azeda, deve-se evitar danos mecânicos e higienizar os materiais que entram em contato com os frutos. A prevenção é essencial, uma vez que não existem fungicidas registrados no Brasil para o tratamento dessa doença.
Com isso, existem várias pesquisas alternativas sendo conduzidas a fim de que se encontre uma forma eficiente de controle.
Radiação ultravioleta
O uso de radiação é um método utilizado para inibir a maturação de frutos e legumes, por meio de alterações no processo fisiológico dos tecidos vegetais, e também impedindo a multiplicação de microrganismos. Com isso, a radiação tem a capacidade de prolongar a vida de prateleira de alimentos.
Contudo, é importante ressaltar que alimentos irradiados não se tornam radioativos, visto que são submetidos a um curto período de exposição à radiação, de forma a não se tornarem nocivos à saúde.
Em relação a isso, foi descoberto um novo tratamento que é capaz de controlar a podridão azeda em laranja-lima por meio da utilização da radiação ultravioleta C (UVC), em doses adequadas.
Esse estudo foi desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi mostrado que o uso de radiação UVC, em doses adequadas, em laranja-lima resultou em:
• Frutas com maior firmeza, em razão de retardar o processo de amadurecimento e o controle de microrganismos;
• Não altera as características físico-químicas;
• Substituto de fungicidas, por controlar a podridão azeda.
Resultados do experimento
Nesse trabalho, que foi parte da dissertação de mestrado de Adriane Maria da Silva, foram usados dois métodos de controle da podridão azeda: o tratamento hidrotérmico e a exposição à radiação ultravioleta C.
No estudo in vitro, os esporos de Geotrichum citri-aurantii são termorresistentes e a inibição de atividades importantes deles ocorre a partir de 62°C. Já o efeito da radiação UVC mostrou que, em doses baixas, houve a inibição na germinação de esporos e é inibida completamente na dose adequada.
O estudo in vivo avaliou o efeito individual e combinado da temperatura e da radiação UVC. O resultado evidenciou que o fungo Geotrichum citri-aurantii é termorresistente e que a temperatura acima de 70°C aumenta a severidade da podridão azeda e causa escaldadura na casca da fruta.
Por fim, foi demonstrado que a aplicação de radiação foi eficiente no controle da podridão azeda em laranja-lima.
Tendência
Uma vez que o Brasil é o maior produtor mundial de laranja (FAO, 2020), a laranja-lima é a segunda variedade mais comercializada no País (Conab, 2022), e a podridão azeda é a segunda doença que mais acomete essa variedade após a colheita em diversas regiões produtoras.
Essa pesquisa é de grande importância para a citricultura, visto que o citros, geralmente, desenvolve facilmente fungos pelo motivo de possuir pH ácido. Com isso, novos tratamentos são necessários para o combate da podridão azeda.
Além disso, o desenvolvimento de métodos alternativos e sustentáveis para a substituição de fungicidas irão reduzir os impactos no meio ambiente e a exportação de frutas será apta para países que restringem o uso de produtos químicos.
Concluindo, o uso de radiação UVC em laranja-lima pode ajudar a combater a podridão azeda. E os resultados de Silva e seus colaboradores podem auxiliar para ganhos na citricultura, uma vez que a podridão azeda é uma doença que causa perdas expressivas durante o beneficiamento, armazenamento, transporte e comercialização.