Adilson Pimentel Junior
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Horticultura pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho“ ” ESALQ/USP
Francisco José Domingues Neto
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Horticultura pela ESALQ/USP
Marco AntonioTecchio
Engenheiro agrônomo,doutor e professor da ESALQ/USP
A viticultura brasileira é uma atividade importante dentro da fruticultura nacional, sendo que a uva é uma fruta apreciada e valorizada nacionalmente. Nos últimos anos é crescente a produção de uvas destinadas ao consumo in natura, para suco, vinho e espumantes.
Contudo, a busca pelos produtores por novas áreas de cultivo e, acima de tudo, por novas técnicas de cultivo que venham a aperfeiçoar a produção é cada vez maior.
No momento da implantação de um parreiral, além da escolha da área, o sucesso do empreendimento é garantido se a escolha das mudas for correta, considerando aspectos relacionados à sanidade e qualidade genética.
Na viticultura, a utilização de porta-enxertos é prática obrigatória, tendo como principais finalidades oferecer resistência à filoxera (Dactilisfaerea vitÃcola), à pérola-da-terra (Eurhizococus brasiliensis) e aos nematoides.
Além do aspecto fitossanitário, outras características são visadas com o uso de porta-enxertos, como a adaptação a solos ácidos e salinos, vigor, produção e qualidade da uva.
A enxertia
A utilização de mudas de videira pela técnica de enxertia de mesa é antiga, sendo a principal forma de propagação utilizada nos países produtores de uva no mundo, especialmente na Europa, onde esta técnica evoluiu expressivamente a partir da década de 60.
No Brasil, a técnica de enxertia de mesa é mais recente, porém, já é possível encontrar viveiros especializados neste serviço, sendo que a demanda por este tipo de muda é cada vez maior pelos produtores.
Com o uso de mudas obtidas pela enxertia de mesa é possível reduzir o tempo de formação do parreiral em até um ano em relação ao método convencional, em que se realiza inicialmente o plantio dos porta-enxertos com a enxertia no ano seguinte.
Assim, utilizando-se a enxertia de mesa, tem-se também maior uniformidade no vinhedo, tendo em vista a alta taxa de pegamento das mudas. Salienta-se também a falta de mão de obra especializada para a realização da enxertia a campo.
Além disso, outra vantagem da enxertia de mesa é a redução nos gastos com mão de obra na instalação e manutenção inicial do vinhedo e a sanidade das mudas, viabilizando a certificação das plantas.
Um dos motivos de tais vantagens é o uso de parafina importada no recobrimento da área enxertada, pois evita o ressecamento dos tecidos e protege contra agentes patogênicos. Além disso, a parafina possui em sua composição fungicida e reguladores vegetais. Contudo, muitos viticultores escolhem continuar com a enxertia tradicional, pelo alto custo de produção de mudas na enxertia de mesa.
Parceria com o IAC
Visando a expansão no cultivo de videiras em regiões de clima tropical, o Instituto Agronômico (IAC) teve importante contribuição para a viticultura nacional, com o lançamento de porta-enxertos denominados “Tropicais“, sendo os mais utilizados o ‘IAC 766 Campinas’, ‘IAC 572 Jales’ e o ‘IAC 313 Tropical’. Estes materiais apresentam alto vigor, compatibilidade com diversas variedades copa e adaptabilidade a diversos tipos de solos, especialmente a solos ácidos.
Como funciona
A técnica de produção de mudas de videira pela enxertia de mesa é dividida em três etapas, sendo todas com suas peculiaridades. Inicialmente, o viveiro deve seguir rigorosamente o esquema de certificação de mudas, com o registro das cultivares e a absoluta pureza genética e sanitária do material.
A primeira etapa é a produção de estacas de porta-enxertos e enxertos, em que a coleta de estacas é realizada na ocasião da poda de inverno, quando as videiras estão em repouso vegetativo e com os sarmentos lignificados.
As estacas dos porta-enxertos devem possuir de 7-12 mm de diâmetro e 28-30 cm de comprimento e os enxertos de 6-12 mm contendo oito a 10 gemas por estaca. São formados feixes de 200 estacas, os quais são armazenamento em câmara fria com temperatura entre 3°C e 5°C com 95% de umidade relativa, o que possibilita a superação da dormência e estratificação das estacas em tempos distintos que variam de 15 a 20 dias.
A segunda etapa é o preparo das estacas e a enxertia, após o período de armazenamento em câmara fria, sendo os feixes de copa e porta-enxerto imersos em água por um período de 24 horas.
Posteriormente, os porta-enxertos são cortados no comprimento de 28 cm, removendo-se todas as gemas e os enxertos cortados com uma gema, deixando 05 cm de entrenó abaixo da gema.