Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia/Horticultura e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)
A cultura do girassol (Helianthus annuus L.) é considerada promissora para o setor agroenergético, dada a sua multiplicidade de uso. Pode ser utilizada na alimentação humana e animal, assim como na produção de biodiesel, principalmente em tempos em que a energia é uma preocupação global.
O cultivo no período da entressafra (safrinha), além de possibilitar inúmeros benefícios às áreas agrícolas, como proteção do solo e manejo de plantas daninhas, pragas e doenças, tem sido uma excelente alternativa de aumento de renda ao produtor rural.
Trata-se de uma planta de ciclo anual e com rápido desenvolvimento, com duração de pouco mais de 100 dias. A cultura apresenta ampla capacidade de adaptação às diversas condições de latitude, longitude e fotoperíodo, sendo uma opção para o sistema de rotação de culturas nas regiões produtoras de grãos.
Por que apostar no girassol
Entre os fatores que têm contribuído para a expansão e consolidação do girassol no sistema de produção estão:
• Alta eficiência em utilizar a água disponível no solo para o desenvolvimento;
• Capacidade de produzir grande quantidade de matéria seca sob condição de estresse hídrico;
• Menor incidência de pragas e doenças;
• Ciclagem de nutrientes e tolerância à ampla faixa de temperaturas, sem redução significativa da produção.
• Dado o seu sistema radicular profundo, com capacidade de exploração de amplo volume de solo, a cultura do girassol tem se mostrado uma opção de cultivo em regiões onde o déficit hídrico.
Qualidade da semente
A semente de girassol deve ter alto poder germinativo e elevado vigor para proporcionar uma rápida e uniforme germinação e emergência de plântulas, principalmente sob condições edafoclimáticas adversas.
Tais atributos devem ser avaliados em laboratório, antes da semeadura, por meio de uma amostra representativa do lote a ser utilizado. Estas características estão relacionadas às qualidades fisiológicas das sementes, o que ajudará na tomada de decisão de produtores rurais e engenheiros agrônomos.
De maneira geral, sementes de girassol com maior teor de óleo têm apresentado mais problemas quanto ao processo germinativo, principalmente em temperaturas de solo mais amenas.
Do tamanho da sua produtividade
Outras características a serem consideradas são o tamanho e a forma da semente, sendo o processo de beneficiamento da semente responsável pela padronização dos lotes. Essas características estão diretamente relacionadas com o tipo de placa ou disco presente na semeadora de disco.
Por isso, é importante optar por lotes mais uniformes, tendo em vista que tais atributos podem interferir durante todo o ciclo fenológico da cultura.
Para condições onde se utiliza semente de menor tamanho ou lotes desuniformes, a utilização de semeadora pneumática ou de precisão mostra-se mais eficiente, uma vez que esse tipo de mecanismo é menos sensível ao referido fator, devido ao princípio de dosagem utilizado.
Sanidade é fundamental
A sanidade da semente é outro fator que deve ser considerado quando o assunto é qualidade de sementes, tendo em vista que doenças importantes podem ser transmitidas pela semente, como mancha de alternaria (Alternaria helianthi) e a podridão branca ou mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum).
O girassol, por ser um hospedeiro potencial para o mofo-branco, não deve ser cultivado em áreas com histórico da doença.
Em relação às principais pragas da cultura, em diferentes épocas, estão a vaquinha (Diabrotica speciosa), a lagarta-preta (Chlosyne lacinia saundersii) e os percevejos (Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros).
Os insetos, embora possuam potencial de dano à cultura, geralmente ocorrem em populações baixas e, ocasionalmente, chegam a causar danos maiores. Nesse sentido, o tratamento químico da semente de girassol tem sido prática usual, tendo relação direta com a qualidade da semente, prevenindo contra a incidência de microrganismos patogênicos.
Sementes bem tratadas
No período pós-germinação, as plântulas apresentam elevada sensibilidade à ocorrência de pragas e doenças. Sendo assim, o tratamento de sementes é importantíssimo para garantir o bom desenvolvimento inicial da cultura.
Fazer o uso de produtos registrados para o tratamento de sementes de girassol, como inseticidas e/ou fungicidas, visando a prevenção de danos causados por insetos-pragas e microrganismos que atacam a semente e a plântula, é uma prática que tem despertado o interesse dos produtores.
Isso em função da proteção à semente e da manutenção do estande desejado, visando também a uniformidade da lavoura.
Relação da temperatura
Para a cultura do girassol, as temperaturas mínimas de solo ótimas variam de 10 – 12℃. Temperaturas menores são prejudiciais ao processo germinativo-emergência, aumentando o tempo de desenvolvimento e os riscos de danos por insetos e/ou microrganismos.
A temperatura média ideal para germinação do girassol é de 21℃. Sendo superiores a 25℃, aumenta o risco de falhas na emergência das plântulas, em função de distúrbios fisiológicos.
Há, portanto, a necessidade de proteção do solo visando redução de temperatura e menor amplitude térmica, principalmente em regiões com clima mais quente.
A cobertura do solo acaba sendo uma prática de manejo importante para minimizar a temperatura do solo e favorecer a uniformidade da germinação das sementes, diminuindo a falha de estande.
A presença de cobertura morta no solo pode reduzir, aproximadamente, 15 e 5℃ nas profundidades de 1,0 e 5,0 cm abaixo da superfície, respectivamente, quando comparado com um solo desprotegido.
Além da temperatura, a prática do sistema de plantio direto também contribui para a retenção de umidade no solo, atuando no processo de embebição e desencadeando reações que disponibilizam nutrientes para o eixo embrionário retomar o seu crescimento.
Instalação da lavoura
O processo de instalação da lavoura de girassol requer a análise criteriosa das características da cultura. A uniformidade, profundidade de semeadura e distribuição de plantas são fatores fundamentais para o cultivo com alta produção, sendo recomendado espaçamento entre plantas de 30 – 45 cm e profundidade de 3,0 – 5,0 cm, dependendo do material genético.
A uniformidade de semeadura é requerida a fim de minimizar a emergência dessincronizada, o que, consequentemente, poderá influenciar o aumento do período entre as fases de crescimento vegetativo e reprodutivo das cultivares.
A cultura do girassol apresenta flexibilidade quanto ao número de plantas, contudo, dependendo da população de plantas, essa compensação pode ser dificultada, podendo apresentar reflexos na produção.
O espaçamento entre linhas pode variar entre 50 – 90 cm, dependendo do maquinário de colheita. A quantidade de sementes por metro linear depende da cultivar a ser plantada, da distância entre linhas e das condições edafoclimáticas, de tal forma, que a população fique entre 30.000 – 60.000 plantas/ha.
De modo geral, produtividades mais elevadas são obtidas com população entre 40.000 – 45.000 plantas/ha.
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Hora de plantar
A época de semeadura varia de acordo com a região. O girassol é uma cultura que se adapta bem ao cultivo como primeira safra no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, no Centro-Oeste adapta-se ao cultivo em condições de safrinha. Assim, a implantação das lavouras deve ser feita nas épocas indicadas pelo zoneamento agroclimático do girassol, que define as épocas e locais de semeadura com menor risco de déficit hídrico à exploração da cultura.
A experiência do produtor rural também deve ser levada em consideração em relação às particularidades de cada microrregião.