Francival Cardoso Felix – Engenheiro florestal e mestre em Ciências Florestais – Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – felixfc@outlook.com.br
Letícia Siqueira Walter – Engenheira florestal e mestra em Engenharia Florestal – UFPR – leticiasiqueira.walter@gmail.com
Dagma Kratz – Professora de Viveiros Florestais – UFPR – dagmakratz@ufpr.br
O que são fertilizantes de liberação controlada? Para que servem? Quando usar? Iniciar com estas perguntas é fundamental para entender o contexto de produção de mudas com este importante insumo. Fertilizantes de liberação controlada (FLC) ou lenta (FLL) são uma alternativa tecnológica à adubação convencional, e têm por objetivo principal fornecer nutrientes para o adequado crescimento das plantas.
Os FLCs são compostos minerais envolvidos por polímeros, películas ou resinas que permitem o fornecimento gradual dos nutrientes quando solubilizados em água, aumentando a liberação com o tempo de exposição.
No mercado, tradicionalmente são encontrados na forma de esferas ou grânulos de diferentes tamanhos e cores de acordo com as particularidades de liberação dos nutrientes. Existem aqueles que duram de três (curto prazo) a doze meses (longo prazo), permitindo a utilização de substratos de baixo custo, inertes ou de baixa disponibilidade nutricional.
Na verdade, os substratos não fornecem quantidades suficientes de nutrientes para o crescimento das mudas ou não possuem esta finalidade. É o caso de substratos à base de cascas de pinus, arroz carbonizado, areia e turfa, em que a sustentação, aeração e umidade são o objetivo ao escolher estes materiais como substratos.
As mudas
A utilização de fertilizantes é essencial para o processo de produção de mudas. Os fertilizantes de liberação controlada são incorporados aos substratos por meio de mistura manual ou mecânica, com base na necessidade nutricional das plantas e período de permanência das mudas no viveiro.
Atenção, viveirista
O emprego de fertilizantes de liberação controlada é uma opção prática de fornecer os nutrientes necessários para o adequado crescimento das plantas, quando comparado com a fertirrigação. Nesse sentido, são uma opção viável para melhorar a qualidade da muda, visto que atuam diretamente sobre o estado nutricional, fornecendo macro e micronutrientes – a depender do tipo de fertilizante escolhido – em quantidades suficientes para a sobrevivência, estabelecimento e expedição da muda.
Mas, para isso, o viveirista deve ter em mãos informações cruciais. Qual a exigência nutricional da espécie? Qual volume de substrato a ser utilizado? E quanto tempo deseja manter as mudas em viveiro?
Espécies pioneiras apresentam rápido crescimento e demandam maior quantidade de nutrientes em um curto período, sendo recomendados os fertilizantes com duração de três a seis meses, enquanto espécies de crescimento lento demandam menor quantidade de nutrientes, mas o período de produção é maior, sendo recomendados os produtos de seis a 12 meses de liberação. Por isso, o regime nutricional deve ser ajustado para cada grupo ecológico.
A dosagem dos fertilizantes misturados ao substrato controla o crescimento das mudas em viveiro. Nesse sentido, o manejo dos fertilizantes deve ser feito em função do volume de substrato adotado, portanto, recipientes maiores demandam quantidades maiores de fertilizantes para manter a concentração ou dosagem desejada. E isso irá depender da finalidade de utilização das mudas posteriormente.
Dicas importantes
A permanência das mudas no viveiro é outro ponto crucial na escolha do fertilizante mais adequado, e o planejamento faz toda diferença! Caso as mudas fiquem poucos meses no viveiro, fertilizantes de menor duração são mais indicados, como aqueles com indicação de três ou quatro meses de liberação. O contrário também é verdadeiro – fertilizantes de maior duração devem ser utilizados em mudas que ficarão mais tempo sob vigilância do viveirista.
A maior parte das espécies florestais nativas não apresenta recomendação de dosagem (g de fertilizante/L de substrato). Nesses casos, recomenda-se utilizar doses menores (2 g/L), e caso se observe deficiência nutricional, deve-se realizar a suplementação via fertirrigação.
Benefícios
A correta disponibilização de nutrientes de maneira constante e homogênea para as mudas evita problemas nutricionais e, portanto, a morte das mudas ou prejuízo ao crescimento. O fato mais importante é que mudas de maior qualidade são produzidas sob fertilizantes de liberação controlada. Mudas vigorosas são mais resistentes à seca, doenças e ataques de patógenos, e isto reflete na capacidade de estabelecimento no campo.
A aplicação de FLC reduz os danos ao sistema radicular comparado à fertirrigação, em que aplicações excessivas aumentam a salinidade do substrato. Os FLCs fornecem quantidades proporcionais de macro e micronutrientes fundamentais para o adequado crescimento das mudas.
Os nutrientes principais são nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), enquanto os secundários são magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), e zinco (Zn). O nitrogênio é o elemento essencial menos estável devido à possibilidade de volatilização, lixiviação e desnitrificação.
Mas, nesta forma de aplicação, a perda de nitrogênio é drasticamente minimizada, da mesma forma que nutrientes de menor mobilidade, como zinco (Zn), fósforo (P) e ferro (Fe) que ficam facilmente disponíveis para a planta absorver quando aplicados na forma de FLC.
Outro fator importante são as diversas combinações de substratos, recipientes e fertilizantes. Com a automação dos viveiros é possível diminuir o tamanho dos recipientes e, consequentemente, a quantidade de substrato utilizado na produção das mudas. Todos estes fatores combinados reduzem os custos de produção, da mesma forma que reduzem o uso de substratos e fertilizantes, aumentam o espaço produtivo do viveiro, e assim, proporcionam maior produtividade no mesmo ambiente.
Planejamento e manejo
A aplicação de FLC comprovadamente maximiza a produtividade das mudas em relação à adubação convencional ou não adubação, além de mostrar bons resultados em relação à robustez das mudas produzidas, com altura e diâmetros adequados para expedição a campo. Além disso, o fertilizante de liberação controlada pode acelerar o crescimento das mudas em menor período, caso seja desejado este objetivo.
As formulações geralmente variam em função da espécie. Por isso, não se pode indicar uma dosagem padrão, tornando-se importante conhecer as necessidades da espécie que se quer produzir. Em espécies nativas, podemos tomar como exemplo as recomendações para: Agonandra brasiliensis (pau-marfim) com 5,0 g/L de FLC; Aspidosperma parvifolium (peroba) com 5,0 g/L de FLC de 4-5 meses de liberação; Schizolobium parahyba (guapuruvu) com adição de 8,3 g/L de FLC de 8-9 meses; Mimosa scabrella (bracatinga) com 6,0 g/L de fertilizante de 4-5 meses; e Dalbergia nigra (jacarandá) com variação entre 6,0 e 7,5 g/L de FLC de 4 – 5 meses.
Desafios
A gestão incorreta ou inadequada causa diversos problemas de produtividade, seja por excesso de aplicação ou falta de planejamento. Não conhecer a exigência nutricional da espécie pode fazer com que as mudas cresçam demais em um período curto, ou cresçam pouco devido à quantidade excessiva do produto.
O planejamento é uma importante ferramenta para obter bons resultados com a utilização do FLC.
A localização do viveiro ou plantio e época do ano irão influenciar diretamente no tempo de liberação devido às condições climáticas. Em localidades ou estações com temperaturas mais altas, a liberação do FLC é mais rápida, e com isso seu período de utilização é reduzido em comparação com o indicado pelos fabricantes.
Outro ponto importante a ser observado é a quantidade de irrigação disponibilizada para as mudas, uma vez que a combinação de altas temperaturas com maior disponibilidade de água ou umidade também pode afetar o período de liberação do fertilizante. Por este motivo, é importante conhecer as necessidades híbridas das mudas, para que seja feito manejo hídrico adequado para satisfazer as condições básicas da planta e manter o controle na liberação do fertilizante.
Investimento e retorno
A implementação deste insumo tem baixo custo em relação aos retornos de qualidade obtidos ao final do processo de produção. Cada muda tem seu custo de produção aumentado entre R$ 0,05 e R$ 0,10, levando em consideração recipientes de até 110 cm³.
Mudas de baixa qualidade ou de tamanho reduzido têm valor agregado inferior, e o comprador certamente dispensará ou rejeitará a oferta dessas mudas.
No caso de vender-se uma muda de baixa qualidade por R$ 1,00 e outra de melhor qualidade por R$ 1,50, sendo o custo de FLC de R$ 0,05 por muda, o retorno de investimento apenas com a implementação do fertilizante de liberação controlada será de nove vezes.
Cada vez mais os viveiristas de porte pequeno e médio adotam o uso de fertilizantes de liberação controlada no processo de produção de mudas. As vantagens superam em muito os custos, uma vez que otimizam o tempo para fertilização, aumentam a produtividade e qualidade das mudas, e dispensam a necessidade de reaplicação, quando planejado corretamente.