Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br
Os fertilizantes de liberação controlada (FLC) se mostram uma tecnologia promissora na agricultura moderna, oferecendo uma solução inovadora para a gestão de nutrientes no cultivo das culturas.
Esses fertilizantes são projetados para liberar nutrientes de maneira gradual e controlada, correspondendo às necessidades específicas da planta ao longo de seu ciclo de crescimento.
A utilização de FLC pode aumentar a eficiência do uso de nutrientes, reduzindo perdas por lixiviação e volatilização, e minimizando o impacto ambiental.
Para a triticultura
No contexto do cultivo de trigo, os FLC oferecem vantagens significativas, podendo melhorar a disponibilidade de nutrientes durante as fases críticas de desenvolvimento, como o perfilhamento, alongamento do colmo e enchimento dos grãos, resultando em plantas vigorosas e produtivas.
Além disso, a liberação controlada de nutrientes pode contribuir para a redução da aplicação frequente de fertilizantes, diminuindo os custos operacionais e a mão de obra envolvida no manejo das culturas.
Limitações
A adubação nitrogenada e potássica no cultivo de trigo enfrenta diversos desafios, especialmente em regiões tropicais, onde as condições ambientais e edáficas podem influenciar significativamente a disponibilidade e a eficiência dos nutrientes aplicados.
Nessas regiões, a alta pluviosidade pode causar a lixiviação do nitrogênio (N), especialmente na forma de nitrato (NO₃⁻). Isso resulta na perda de N do solo, reduzindo a eficiência do fertilizante aplicado e aumentando os custos de produção.
Ainda com relação ao nitrogênio, temos a volatilização de amônia (NH₃), particularmente quando a ureia é usada como fonte de N. Temperaturas elevadas e a presença de matéria orgânica aumentam a taxa de volatilização, diminuindo a quantidade de N disponível para as plantas.
Condições específicas
Em solos tropicais altamente intemperizados, como os Latossolos, a capacidade de troca catiônica (CTC) limita a retenção de K no solo. Além disso, a competição com outros cátions (Ca²⁺, Mg²⁺) pode reduzir a absorção de K pelas plantas.
Também podemos considerar a heterogeneidade do solo (variabilidade na textura, estrutura e fertilidade do solo), que pode dificultar a uniformidade na aplicação e distribuição dos fertilizantes.
A variabilidade espacial pode levar a zonas de deficiência ou excesso de nutrientes, impactando o crescimento e o rendimento do trigo.
As interações entre N, K e outros nutrientes (como P, Ca e Mg) podem afetar a disponibilidade e a absorção dos nutrientes. Por exemplo, a aplicação excessiva de N pode aumentar a demanda por K, enquanto a deficiência de K pode limitar a eficiência do uso de N.
Recomendações úteis
Com relação ao manejo e práticas agronômicas, a sincronização entre a liberação de nutrientes do fertilizante e as necessidades da planta é crucial. O desafio é aplicar o N e o K de forma que estejam disponíveis durante as fases críticas do desenvolvimento do trigo, como o perfilhamento e o enchimento dos grãos.
Para mitigar esses desafios, é essencial implementar práticas de manejo sustentável, como a rotação de culturas, o uso de fontes de fertilizantes mais eficientes (ex.: fertilizantes de liberação controlada), a aplicação de técnicas de agricultura de precisão, e a realização de análises de solo frequentes para ajustar as recomendações de adubação conforme as necessidades específicas do solo e da cultura.
A adoção dessas práticas pode aumentar a eficiência do uso de fertilizantes, melhorar a produtividade do trigo e minimizar os impactos ambientais negativos, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e rentável em regiões tropicais.
Cuidados
Diante disto, escolher e aplicar fertilizantes de liberação controlada (FLC) no cultivo de trigo requer considerações cuidadosas para maximizar os benefícios e garantir uma aplicação eficaz, tais como o tipo de Fertilizante de Liberação Controlada, onde a verificação da composição do FLC deve garantir que ele contenha os nutrientes necessários (nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes) nas proporções adequadas para o trigo.
Diferentes FLCs utilizam mecanismos variados para controlar a liberação de nutrientes, como revestimentos poliméricos, encapsulamento de enxofre ou matrizes de liberação controlada, opte para o mecanismo que melhor se adapta às condições de solo e clima da região.
As condições do solo devem ser levadas em consideração, com destaque para o pH, textura e estrutura. O pH do solo pode afetar a liberação de nutrientes dos FLCs. Solos muito ácidos ou alcalinos podem alterar a taxa de liberação.
Realize uma análise de solo e ajuste o pH, se necessário. Com relação à textura e estrutura do solo, por exemplo, solos arenosos podem exigir FLCs com liberação mais lenta devido à maior lixiviação, enquanto solos argilosos podem reter nutrientes por mais tempo, opte pelo FLCs apropriados para o tipo de solo específico.
Com relação às condições climáticas, a taxa de liberação dos nutrientes pode ser influenciada pela temperatura e umidade, uma vez que em climas tropicais, a alta temperatura pode acelerar a liberação, portanto, deve-se ajustar o tipo e a aplicação de FLC conforme as condições climáticas sazonais.
Altos níveis de precipitação podem aumentar a lixiviação, então, dê preferência a FLCs que liberem nutrientes de forma gradual para minimizar perdas.
Ajustes
As necessidades da cultura devem ser observadas, para realizar os devidos ajustes na aplicação de FLCs e coincidir com os estágios críticos de crescimento do trigo, como a emergência, perfilhamento, alongamento do colmo e enchimento dos grãos.
Nessa questão, também podemos chamara a atenção para as exigências nutricionais. Assim, o produtor deve observar os requisitos nutricionais específicos da variedade de trigo cultivada e ajustar a formulação do FLC para atender a essas necessidades.
O planejamento da aplicação tem que seguir as recomendações da taxa de aplicação com base nos resultados da análise de solo e nas necessidades nutricionais da cultura, evitando a superdosagem para prevenir toxicidade e desperdício.
Aqui cabe chamar a atenção para o método de aplicação. Dê preferência ao método de aplicação adequado, como incorporação ao solo, aplicação em linha ou cobertura, que maximizam a eficácia do FLC.
Custo-benefício
Pode-se destacar o custo e a disponibilidade, sempre comprando o custo dos FLCs com os fertilizantes convencionais, levando em consideração o retorno sobre o investimento em termos de aumento de rendimento e qualidade do trigo (custo-benefício).
Certifique-se de que os FLCs escolhidos estejam disponíveis no mercado local e que possam ser adquiridos e aplicados de maneira consistente.
O acompanhamento da cultura, pelo monitoramento do desenvolvimento fisiológico e a resposta aos FLCs aplicados, por meio de análises foliares e de solo durante a safra para ajustar a nutrição, é recomendável. Concomitantemente, pode-se avaliar o desempenho dos FLCs em termos de rendimento, qualidade do grão e saúde das plantas, informações úteis para ajustar futuras aplicações.
Viabilidade
A utilização de fertilizantes de liberação controlada (FLC) no cultivo de trigo em condições tropicais tem gerado resultados práticos bastante positivos. Primeiramente, observa-se uma melhoria significativa na eficiência do uso de nutrientes.
A liberação gradual dos nutrientes permite que as plantas de trigo os absorvam de maneira mais eficaz, conforme suas necessidades ao longo do ciclo de crescimento, reduzindo perdas por lixiviação e volatilização, comuns em regiões tropicais de alta pluviosidade e temperaturas elevadas.
Além disso, a sincronização da liberação de nutrientes com os estágios críticos do desenvolvimento do trigo, como o perfilhamento, alongamento do colmo e enchimento dos grãos, resulta em plantas mais vigorosas e uniformes, o que contribui para um aumento no rendimento e na qualidade dos grãos colhidos.
A redução da frequência de aplicação de fertilizantes, possibilitada pelos FLC, diminui custos operacionais e a necessidade de mão de obra, além de minimizar impactos ambientais associados à aplicação excessiva de fertilizantes convencionais.
Com relação à fertilidade do solo, a liberação controlada favorece o desenvolvimento de um sistema radicular mais robusto, melhorando a capacidade das plantas de explorar o solo em busca de água e nutrientes.