Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo, especialista em Hidroponia
rafaelsimoni@gmail.com
Os fertilizantes agrícolas são compostos cuja função principal é garantir o suprimento nutricional da planta, promover o seu crescimento/desenvolvimento, e assim otimizar a produção das culturas agrícolas.
De acordo com a origem e forma que são oferecidos às plantas, podem ser classificados em fertilizantes minerais e fertilizantes orgânicos. Os primeiros são aqueles obtidos da desagregação rochosa e/ou processamento industrial. Como exemplos mais comuns podemos citar a ureia, o nitrato de potássio, MAP (fosfato mono amônico), nitrato de cálcio, NPK em suas mais variadas proporções de formulação, entre outros.
Já os fertilizantes orgânicos são aqueles provenientes de subprodutos de outros organismos. É o caso, por exemplo, dos dejetos de suínos, cama de aviário, vinhoto de cana-de-açúcar, humus de minhoca, extrato de algas marinhas, composto de eviscerados de peixes, compostagem de lixo orgânico, etc.
Variação
Geralmente, nos materiais orgânicos há uma variação significativa quanto às quantidades e às proporções de cada um, conforme com sua origem.
Os fertilizantes organominerais, como o próprio nome sugere, são compostos de materiais de origem orgânica, com o diferencial de serem adicionados de fertilizantes minerais puros em proporções adequadas para cada cultura.
O fabricante faz uma análise da composição química de cada lote de matéria-prima orgânica, e assim adiciona os nutrientes minerais de acordo com a composição final desejada.
Estima-se que sua introdução no Brasil tenha ocorrido no início da década de 1980, porém, sua utilização vem ganhando escala nas duas últimas décadas, visto que os estudos sobre necessidades nutricionais e ensaios a campo fomentaram o lançamento de produtos específicos para cada cultura, estágio de desenvolvimento e necessidades específicas de cada variedade de planta.
Vantagens
As vantagens da aplicação de compostos organominerais na produção da alface vão além do aumento da qualidade e do aumento da produção. Esses produtos, quando aplicados na dosagem e forma correta, trazem benefícios tanto à cultura como ao solo, ao meio ambiente e ao produtor. Algumas vantagens são:
• A planta forma a zona radicular mais robusta, otimizando a absorção dos nutrientes e da água;
• A disponibilização dos nutrientes do organomineral ao longo do tempo é mais gradual quando comparada à disponibilização imediata dos inteiramente minerais, porém, é mais escalonada e contínua. Isso possibilita ao produtor redução de mão de obra, já que para o ciclo da alface, uma única aplicação por ciclo é suficiente;
• O aporte de matéria orgânica faz com que o solo se torne mais bem estruturado do ponto de vista agronômico. Isso acontece quando os pequenos grânulos de matéria orgânica se transformam em aglomerados juntamente com a parte mineral. Tal reestruturação contribui para a descompactação do solo, criando um ambiente mais adequado ao crescimento radicular;
• Aumento da Capacidade de Troca Catiônica (CTC): é a capacidade do solo fornecer nutrientes como cálcio, potássio e magnésio;
• Aumento da capacidade de retenção de água, fazendo com que o plantio possa resistir por mais tempo em condições de estresse hídrico;
• Aumento da atividade microbiana no solo. Permite que os fungos e bactérias benéficos às plantas se desenvolvam, pois a matéria orgânica incorporada serve como estimulante ao estabelecimento desses microrganismos;
• Reduz as perdas de nutrientes por lixiviação e volatilização. Os minúsculos aglomerados formados pela matéria orgânica atuam como pequenos fixadores de nutrientes, liberando esses apenas quando entram em contato com a raiz da planta;
• A planta tem maior tolerância a fatores de estresse a fatores externos, como ventos, extremos de temperatura, ataque de pragas/doenças.
Enraizamento
Alguns dados publicados demonstram que o ganho em produtividade pode chegar a 15%, dependendo da época do ano, da condição inicial do solo, das variedades empregadas e da forma de aplicação. Contudo, esses números podem ser superados à medida que o uso contínuo cria uma condição de solo melhor ao longo do tempo.
O crescimento do sistema radicular permite um maior crescimento e desenvolvimento da parte aérea, e geralmente os ganhos em produtividade são proporcionalmente maiores do que os ganhos em massa radicular.
Quando aplicar
A alface é uma cultura de ciclo de cultivo relativamente curto, e de resposta à nutrição igualmente rápida, quando comparada a outras culturas.
Os fertilizantes organominerais permitem que a hortaliça atinja um excelente desenvolvimento desde o momento da produção das mudas. Nesse primeiro estágio, quando aplicado ao substrato, o fertilizante promove um condicionamento ideal para o estabelecimento do sistema radicular. Geralmente é aplicado na forma de farelado, para formar uma mistura homogênea.
Já no canteiro definitivo, pode ser aplicado e incorporado no momento do transplante das mudas. Tanto as plantadeiras manuais com as que se utilizam de tração estão sendo melhoradas para permitir uma maior eficiência na operação de transplantio e adubação simultânea.
No decorrer do desenvolvimento da cultura, pode ser usado na forma fluída, através de adubação foliar. Essa forma de aplicação se torna eficiente, pois permite aplicações pontuais, quando a cultura estiver em condições de pleno crescimento, situação em que o aporte de nutrientes é de extrema importância.
Dosagem recomendada
Antes de efetuar a distribuição do adubo, o produtor deve encomendar uma análise para ter uma referência dos níveis nutricionais do solo. Cada região tem seu próprio protocolo de amostragem e coleta de material, que deve ser seguido rigorosamente para o resultado ser fiel às reais necessidades.
Com o diagnóstico em mãos, agora é a hora de distribuir o adubo. Com base nas quantidades contidas em cada quilo do fertilizante e nas quantidades necessárias de cada nutriente, é definido quantos quilos de adubo serão distribuídos por unidade de área.
Para os cultivos subsequentes, o cálculo é feito com base na extração média de cada cultura, ou de acordo com a recomendação do fabricante, que estará descrita no rótulo do produto. Fertilizantes organominerais de origem distinta provavelmente terão quantidades e proporções diferentes de nutrientes.
O fabricante irá informar essas quantidades na embalagem do produto, e deverá atender os requisitos mínimos descritos na IN nº 25.
Para a adubação via foliar, também deverá ser observada a recomendação do fabricante de cada produto. Há, ainda, mais duas variáveis que sempre devem ser consideradas no momento da aplicação: o material de origem e o estágio de desenvolvimento da cultura.
O produtor que tiver dúvidas deve buscar assistência técnica com um engenheiro agrônomo de sua confiança para evitar dosagens não adequadas.
Resultados
Os resultados a campo têm se mostrado muito satisfatórios. Muitos produtores já relatam a melhoria na qualidade do solo, redução do ciclo de colheita e aumento da qualidade da alface e outras culturas.
Além disso, em áreas onde antes eram comuns problemas com patógenos de solo, vem sendo notada uma diminuição e até completa supressão desses contaminantes após a aplicação dos organominerais.
A rizosfera, que é o espaço onde as raízes se estabelecem, tende a alcançar um maior equilíbrio, favorecendo o crescimento radicular e o melhor desenvolvimento do estande de plantas.
Investimento
Os custos com a aplicação podem variar muito de acordo com o produto escolhido, a quantidade necessária e a mão de obra envolvida. Vale salientar que, embora em alguns casos o custo possa ser ligeiramente maior, os benefícios a longo prazo invertem a equação a favor do organomineral.
Para exemplificar, na cultura da alface, que é relativamente curta, geralmente são necessárias de duas a três aplicações de cobertura quando é fornecido apenas adubo mineral. Já os complexos organominerais, por terem oferecerem disponibilização gradual, requerem apenas uma aplicação para a cultura.
O recomendado é o produtor fazer uso do produto que oferecer o menor custo por quilo de nutriente (e não por quilo de produto comercial).
A médio e longo prazos, a utilização de compostos organominerais traz vários benefícios nos aspectos relativos à produção, à conservação e melhoria do solo, aos custos para o produtor e ao meio ambiente.
Uso em hidroponia
O uso destes compostos vai além da produção convencional. Um número considerável de produtores de alface em sistemas hidropônicos vem utilizando fertilizantes organominerais em suas hortas.
Em praticamente todos os casos de aplicação na hidroponia, é usado na forma líquida, para efetuar pulverizações da parte aérea, bem como incorporar pequenas porções na solução nutritiva.
Por se tratar de um produto com níveis de garantia altamente confiáveis, não oferece maiores riscos de desbalanceamento da solução nutritiva em hidroponia, e nem altera parâmetros como pH e condutividade elétrica (CE).
Alguns produtos têm se mostrado como regulador de pH, mantendo o índice próximo a 6,0 (considerado o mais adequado para a solução nutritiva).
A justificativa maior para seu uso é o fornecimento de fontes alternativas de nutrientes, bem como de aminoácidos que auxiliam na regulação de muitos processos metabólicos em plantas sob situação de estresse.
Igualmente, quando aplicado em solo, na hidroponia também ocorre a estimulação de estabelecimento de microrganismos benéficos ao sistema radicular da planta. São aplicações que ainda carecem de validação, mas que têm se mostrado muito eficazes em ensaios a campo.