Regina Maria Quintão Lana
Doutora em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas e CEO – Agro R Consultoria e Serviços Agrícolas
rmqlana@hotmail.com
Higor da Silva Oliveira
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
higor.iftm@gmail.com
Maria Clara Resende Ponce
Mestre em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas – UFU
mariaclararponce@gmail.com
Os fertilizantes organominerais são constituídos da mistura entre fertilizantes minerais e matrizes orgânicas bioestabilizadas que devem respeitar exigências, especificações, garantias e tolerâncias estabelecidas pelo MAPA através da Instrução Normativa Nº 61, de 08 de julho de 2020 seção V, Art.8º, § 1º – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O organomineral é fabricado pela combinação de matrizes orgânicas humificadas (húmus) com fertilizantes minerais solúveis, tendo como produto final um fertilizante de liberação lenta ou disponibilidade controlada, com alto teor de carbono, o que promove o aumento da eficiência agronômica dos fertilizantes minerais.
Essa tecnologia atende ao tripé de sustentável-social-econômica, uma vez que utiliza de passivos ambientais de outros sistemas de produção; tem função social porque fomenta a economia brasileira; e é econômica por que traz rentabilidade para o produtor.
Matrizes
A composição dos fertilizantes organominerais varia tanto em termos do fertilizante mineral utilizado na formulação, quanto na compostagem da matriz orgânica e no processo industrial.
As matrizes orgânicas normalmente utilizadas são de origem vegetal, animal e agroindustrial, sendo alguns exemplos:
Origem vegetal: celulose, torta de filtro, palhas de café, casca de arroz, resíduos de árvores, bagaço de cana, serragem, torta de cevada, resíduos de fumo, resíduos de batata, etc.
Origem animal: composto de Barn, cama de frango, esterco de galinha, esterco de bovino, etc.
Origem agroindustrial: subprodutos de indústrias e frigoríficos.
A composição ideal de um organomineral, portanto, varia com a matriz orgânica, com a fonte de fertilizante mineral e o processo industrial.
Composição
As características que se buscam no organomineral são: relação C/N entre 15 a 20; presença de substâncias húmicas e não húmicas; ser precursor de aminoácidos; conter traços de elementos benéficos e essenciais; baixo teor de umidade e odor semelhante ao húmus.
As fontes dos fertilizantes minerais utilizadas no organomineral são os fertilizantes químicos convencionais.
Eficiência dos fertilizantes organominerais
- Melhora as propriedades físicas, químicas e físico-químicas dos fertilizantes minerais:
– NPK + micro no mesmo grânulo, não apresenta efeito de segregação;
– Reduz a fixação do P proveniente do fertilizante aplicado ao solo;
– Ajuda na quelatilização de micronutrientes, podendo assim aumentar a disponibilização destes no solo;
– Aumenta a atividade microbiana no solo;
– Reduz a lixiviação de formas catiônicas (NH4+, K+, Ca++, Mg++, etc.);
– Protege as raízes contra o excesso de salinidade causada pela adubação
mineral.
- Benefícios para as propriedades químicas do solo:
– Aumento da CTC e CTA: redução de perdas de lixiviação (N e K), volatilização (NH3) e fixação (P);
– Estabilidade de pH: diminuição da necessidade de corretivos de acidez;
– Complexação de Íons de Fe e Al: maior assimilação de P;
– Complexação de metais pesados e pesticidas: proteção contra poluição e pesticidas;
– Formação de quelatos de micronutrientes: facilita o transporte de micronutrientes.
- Benefícios para as propriedades físicas do solo:
– Alteração na coloração do solo: melhoria da temperatura;
– Formação de gel: retentores de umidade;
– Formação de pontes organominerais: estruturação do solo; diminuição da densidade do solo;
– Aumento da estabilidade dos agregados: melhoria na estrutura do solo;
– Melhoria da aeração: maior porosidade total;
– Maior infiltração e retenção de água no solo.
- Benefícios para as propriedades biológicas do solo:
– Ativação e crescimento de microrganismos: intensificação do acúmulo de húmus;
– Maior proliferação e biodiversidade de microrganismos;
– Pode aumentar a quantidade de bactérias e fungos benéficos para o crescimento das plantas e diminuir fungos fitopatogênicos.
- Benefícios para o metabolismo da planta:
– Nutrientes são absorvidos de maneira mais eficiente pelas plantas;
– Estimula os processos fisiológicos, bioquímicos e enzimáticos;
– Equilíbrio no balanço hormonal (auxina, citocinina e giberilina);
– Melhor relação parte aérea/raiz;
– Produção de enzimas e proteínas;
– Maior produtividade.
Esses benefícios do organomineral resultam em culturas mais sadias, com maior vigor na fase de brotação, maior resistência a pragas e doenças e, consequentemente, maior qualidade e produtividade das lavouras.
Economia
O fertilizante organomineral, de modo geral, reduz em cerca de 20 a 30% a aplicação de fertilizantes químicos convencionais; contribui para mitigação de impactos ambientais e proporciona maior economia ao produtor rural.
O fertilizante organomineral possibilita que a alta produtividade das culturas ande junto com a sustentabilidade. Seu uso nas culturas de soja e milho vem crescendo a cada safra devido às maiores produtividades obtidas.
Segundo a Abisolo (2021), as culturas que mais se destacaram no quesito “aumento de adoção” foram soja, café, milho, cana-de-açúcar e as frutas – especialmente aquelas destinadas à exportação. Observou-se um aumento de aplicação de 30,9% na cultura da soja e de 11,5% na cultura de milho em 2020.
Organomineral na cultura da soja
Tabela 1. Produtividade da soja em função aplicação de doses de fertilizante organomineral e mineral na Estância HZ em Tupaciguara – MG
Korndörfer (2013) observou que a produtividade da soja nos tratamentos que receberam organomineral foi superior à do tratamento mineral em 2,4 sc ha-1, chegando até 7,6 sc ha-1 (tabela 1).
Tabela 2. Doses do organomineral e mineral na cultura da soja
Experimento realizado por Costa 2016, sobre organomineral na cultura da soja, mostrou que o fertilizante organomineral formulado em mistura de grânulos demonstrou ser agronomicamente viável para cultivo da soja, obtendo uma produtividade de 3.648,95 kg ha-1 na dose máxima de 1.000 kg ha-1, podendo substituir a adubação mineral.
Figura 1. Produtividade de grãos em função das doses de adubação organomineral, para cultivar BRS 283. Itumbiara (GO). Safra 2016/17.
Organomineral na cultura do milho
Figura 2. Produtividade de milho obtida com fertilizante mineral e organomineral.
Segundo Souza (2018), houve um aumento de 7% na produtividade do milho (variedade híbrido 30F53H) com uso do organomineral em relação ao mineral (figura 1).
Figura 3. Tamanho de espigas com aplicação de fertilizante organomineral
O organomineral resultou em espigas mais bem formadas, com maior número de fileiras e maior número de grãos (figura 3).
Figura 4. Uso de fertilizante organomineral e mineral na produtividade de milho
Xavier (2018) também observou que com a aplicação de 192 kg/ha-1 do organomineral 07-18-00 obteve-se a mesma produtividade de 12,9 t/ha-1 de milho, comparativamente à dose de 400 kg/ha-1 do fertilizante mineral 13-33-00 (figura 3).
Tabela 3. Valores médios do número de espigas em 10 m (NESP), número de grãos por espiga (Ngrãos), o peso médio das espigas (PMESP) e a produtividade (kg ha-1) em função da fonte de adubação de plantio Anápolis (GO), 2019.
Pereira/2012, utilizando 300 kg ha-1 de organomineral 02-15-05, obteve uma produtividade significativa quando comparado à mesma dose do mineral 04-30-10, concluindo que o adubo organomineral se mostrou satisfatório tanto no quesito morfológico quanto produtivo.
As formulações organominerais possibilitam aplicações eficientes nas culturas de soja e milho. Cabe destacar a importância da escolha das matrizes orgânicas e fertilizantes minerais para fabricação do organomineral. A recomendação da dose varia com a análise química do solo, exigência da cultura, condições climáticas e com o manejo adotado pelo produtor.