Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)
O assunto estresse abiótico, denominado como a interferência negativa de elementos não vivos sobre seres vivos em determinado ambiente, que podem variar de acordo com o tempo e a localização geográfica, vem sendo cada vez mais estudado, a fim de diminuir os efeitos negativos deste nos cultivos.
O El Niño, por exemplo, é um fenômeno climático que está desencadeando no país condições climáticas extremas, como chuvas intensas no sul e altas temperaturas nas demais regiões. Essas condições impõem um significativo risco de estresse às plantas, afetando seu desenvolvimento.
Sem estresse
Durante o estabelecimento vegetativo da cultura, os estresses climáticos podem ocasionar diversas perdas na lavoura. O aumento das temperaturas e as chuvas irregulares podem provocar desequilíbrio hídrico no solo. Com isso, as plantas enfrentam dificuldades na absorção de nutrientes essenciais.
Ainda, pode ter efeito na eficiência de processos metabólicos nas plantas, resultando em aumento do gasto energético para a manutenção básica. Isso, por sua vez, pode reduzir a eficiência da fotossíntese e contribuir para o abortamento de flores e vagens, comprometendo o rendimento das culturas.
Além desses efeitos, pode também haver o aumento das Espécies Reativas de Oxigênio (EROs), causando danos celulares, fechamento estomático e, consequentemente, diminuição da fotossíntese e das atividades metabólicas da planta, acarretando menor produção de fotoassimilados e redução do potencial produtivo.
Fisioativadores
Diante desses desafios, o uso de fisioativadores tem emergido como uma estratégia fundamental para minimizar os efeitos causados pelos estresses ambientais nas lavouras.
Os fisioativadores, que possuem em sua formulação componentes que são precursores de processos metabólicos, enzimáticos e nutricionais essenciais e ativos como desencadeadores de mecanismos de defesa vegetal, podem ser definidos como substâncias naturais ou sintéticas.
A exemplo disso, macro e micronutrientes, minerais, aminoácidos, extratos vegetais, carboidratos, glicina-betaína e bioestimulantes, combinados ou não com biorreguladores, podem ser direcionados para uso em diversas espécies vegetais de interesse agronômico.
O objetivo é proporcionar vigor ao sistema fisiológico da planta, de forma a alcançar o equilíbrio na disponibilidade dos nutrientes essenciais ao metabolismo vegetal, fazendo com que o sistema fisiológico exerça sua função vital, sem sofrer prejuízos quando submetidas a estresses bióticos e abióticos, como altas e baixas temperatura, déficit hídrico, entre outros.
A técnica envolve a aplicação de precursores hormonais (via semente ou foliar) que estimulam as plantas a produzir, de forma natural e balanceada, hormônios essenciais para que expressem seu máximo potencial, promovendo o crescimento, a resistência ao(s) estresse(s) e uma maior eficiência de uso nutricional.
Ao melhorar a capacidade dos cultivos sob condições desfavoráveis, a estimulação fisiológica contribui para o fortalecimento do sistema radicular, a otimização da fotossíntese e a promoção de mecanismos de defesa.
Em períodos de estresses climáticos, a incorporação dessas práticas nas rotinas agrícolas pode ser fundamental à produtividade.
Planejamento agrícola
No início do ciclo de culturas em geral, a excelência da safra depende de cuidados primordiais voltados para as sementes. Além da seleção de variedades menos suscetíveis a estresses, é crucial investir em soluções que otimizem o enraizamento e promovam a regulação hormonal, conferindo à planta maior resistência à perda de água para o ambiente.
Ao desenvolver um maior sistema radicular, a planta acessa a água em camadas mais profundas do solo, atenuando os efeitos da possível escassez de chuvas. Esse processo beneficia integralmente o desenvolvimento da planta, e pode ser favorecido por meio do uso de fisioativadores.
Aminoácidos e osmólitos
Como citado anteriormente, os aminoácidos podem ser componentes dos fisioativadores, tendo em vista que, quando presentes em altas concentrações na planta, podem atuar diretamente sobre a desintoxicação das EROs.
Um exemplo disso é a prolina, a qual possui a capacidade de estabilizar proteínas e proteger as membranas contra os efeitos danosos advindos da formação das EROs.
A glicina-betaína, um osmólito (grupo de solutos de baixo peso molecular envolvidos na estabilização proteica, em resposta a condições ambientais de estresse), também realiza funções protetoras de grande importância aos vegetais, dentre elas a preservação da eficiência dos processos fotoquímicos da fotossíntese, pela proteção das membranas dos tilacoides.
Opções no manejo antiestresse
O mercado de insumos agropecuários tem disponibilizado excelentes opções para auxiliar no manejo antiestresse das plantas, uma vez que há produtos que promovem ação antioxidante, inibindo o impacto das EROs, além de aumento na produção de energia na forma de ATP (adenosina trifosfato), ativação do metabolismo fotossintético e aceleração à retomada do metabolismo das plantas, promovendo uma recuperação mais rápida.
O uso de fisioativadores em aplicações via foliar é ainda mais importante, visando manter o metabolismo das plantas ativo, além de estimular a produção de novos botões florais e a redução do abortamento, por meio da inibição da síntese de etileno.
Existe, no mercado, uma diversidade de opções. Há fórmulas designadas para serem usadas na fase de frutificação dos cultivos, para assegurar uma maior consistência, qualidade e tamanho dos frutos, sendo recomendadas para várias culturas.
Encontram-se fertilizantes foliares organominerais e minerais mistos compostos por C, N, P, K, S, B, Co, Fe, Cu, Mn, Mo, Zn, além de extrato de algas, extratos vegetais, ácidos húmicos, folscisteína, giberelina e aminoácidos.
O mercado também oferece opções desenvolvidas especialmente para fornecer os nutrientes necessários ao desenvolvimento de plantas jovens provenientes de transplantes ou de semeadura direta, favorecendo um desenvolvimento radicular e vegetativo mais rápido e vigoroso.
Fisiologia das plantas
Sabendo que os estresses climáticos podem potencializar o abortamento de flores e de frutos, consequentemente, o uso de fisioativadores é muito importante, visando manter o metabolismo das plantas ativo, além de estimular a produção de novos botões florais e a redução do abortamento, por meio da inibição da síntese de etileno, por exemplo.
Portanto, mesmo em cultivos sustentáveis, o mercado já oferece compostos de extratos vegetais que contribuem para isso, melhorando diversos processos metabólicos e fisiológicos das plantas, como a divisão e o alongamento celular, a germinação e o próprio enraizamento.