Autores
Luciano de Melo Silva
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto Agronômico/Centro de Ecofisiologia e Biofísica
lu.agrocca@gmail.com
Sueellen Pereira Pestana
Engenheira agrônoma e mestra em Horticultura – UNESP- Botucatu
sueelle_su@hotmail.com
Devido à natureza química, os fosfitos apresentam maior solubilidade em água, quando comparado aos fosfatos. Dessa forma, são absorvidos mais rapidamente pelas raízes e folhas, entre três a seis horas após a aplicação.
Quando combinados com micronutrientes, melhoram o estado nutricional das plantas, sobretudo nos estágios de maior atividade metabólica. A aplicação do produto representa um fornecimento suplementar de nutrientes, favorecendo o equilíbrio nutricional das plantas e corrigindo rapidamente qualquer tipo de deficiência, Barreto, N. D. S. (2008).
O fosfito requer um menor gasto energético da planta na assimilação de nutrientes, melhorando a absorção dos íons potássio, cálcio, magnésio, cobre, ferro, zinco e manganês, tornando a absorção das raízes e folhas mais eficiente, Lovatt, C. J., & Mikkelsen, R. L. (2006).
Para soja e milho
O uso de fosfitos na cultura da soja e do milho tem atraído a atenção de pesquisadores e produtores, sobretudo pelos seus efeitos na qualidades nutricionais e ação antifúngica. O fosfito pode estimular o mecanismo natural da planta contra a invasão de patógenos, bem como atuar diretamente sobre os fungos fitopatogênicos.
O uso de fertilizantes à base de fosfito como fonte de fósforo tem aumentado significativamente na cultura da soja e do milho, visando mais produtividade. O fósforo na forma de fosfito é altamente móvel no solo e possui baixa fixação, tornando-o altamente disponível para uma rápida absorção pelas raízes das plantas, Lovatt, C. J., & Mikkelsen, R. L. (2006).
Na cultura da soja o fosfito de potássio tem se mostrado um dos melhores bioestimulantes do mercado, promovendo ganhos de até cinco sacas por hectare, Bourscheidt (2012). Em estudos conduzidos na região de Ponta Grossa (PR), o uso de fosfito reduziu em até 9,8% a severidade do míldio na cultura da soja (cv. CD215), Silva, O. C., Santos, H. A., Deschamps, C., Dalla Pria, M., & May de Mio, L. L. (2013).
Em outro experimento com soja (cv. Emgopa 313), conduzido na região de Cristalina (GO), a aplicação de fosfito de potássio reduziu o ataque da ferrugem asiática em 9,4% e promoveu um incremento na produtividade de 20,15% quando aplicado uma vez, 21,83% quando aplicados duas vezes e de 8,87% a 27,50% quando feito após os fungicidas tradicionais, Neves, J. D. S., & Blum, L. E. B. Y. (2014).
O fertilizante foliar à base de fosfito de manganês ganhou bastante destaque nas últimas décadas, sobretudo na cultura do milho. Ele contribui significativamente para a melhoria do desempenho e ganho de produtividade (Fancelli, A.L.; Silva Júnior, V.L.R.; Sakamoto, R.L.).
Testes em campos nos municípios de Nova Resende do Sul (MG), Iraí (MG) e Jataí (GO) mostram que quatro aplicações foliares de fosfito de manganês reduziu em 2% a quantidade de grãos ardidos e elevou a produtividade em 8,9%.
Contra doenças
Em relação ao controle de doenças foliares na cultura do milho, destacam-se experimentos realizados no município de Mandaguari (PR), nas safras 2008/09 e 2010. A aplicação de 2,0 L ha-¹ de fosfito de potássio, no estágio vegetativo de plantas de milho (cv. AG9094 e cv. 7010), reduziu significativamente a severidade das doenças mancha branca (Phaeosphaeria maydis), mancha de cercóspora (Cercospora zeae-maydis) e helmintosporiose (Exserohilum turcicum), quando comparadas com plantas não tratadas (da Silva, J. B. G. D., Schwan-Estrada, K. R. F., Tessmann, D. J., Moterle, L. M., & da Silva, C. R.).
Experimentos realizados em Gurupi (TO), nas safras 2014/15 e 2015/16 do milho, comprovaram que, além dos fosfitos promoverem um ganho na produtividade, também foram eficientes no controle da mancha de bipolaris (Bipolaris maydis), ferrugem polissora (Puccinia polysora) e mancha de curvularia (Curvularia sp.).
Quando associados com fungicida dos grupos químicos Azoxistrobina-Estrobilurina e Ciproconazol–Triazol aumentaram a eficiência dos fungicidas em 15,7% e 7,4% nas safras de 2014/15 e 2015/16, respectivamente, Chagas, J. F. R. (2016).
Diversos estudos também demonstram que o fosfito de potássio isolado é eficaz no controle das principais espécies de nematoides que causam prejuízo na cultura do milho (Pratylenchus brachyurus Heterodera avenae e Meloidogyne marylandi). Os estudos evidenciaram que aplicação aérea estimula a autodefesa das plantas, com a produção de fitoalexinas, Dias-Arieria, C. R., Marini, P. M., Fontana, L. F., Roldi, M., & da Silva, T. R. B. (2012).
Em campo
Os primeiros experimentos com fosfitos foram realizados em 1983, na Austrália, como uma alternativa aos fungicidas químicos para o controle da podridão de raiz (Phytophtora cinnamomm) na cultura do abacate.
Desde então o uso de fosfito como protetores de plantas tem se difundido no mundo inteiro. No Brasil, ganhou destaque em diversas culturas, como as frutíferas, citros, cafeeiro, hortaliças, algodoeiro, feijoeiro, soja e milho.
Nas frutíferas, diversos estudos relatam a eficiência dos fosfitos na redução da severidade de doenças fúngicas do grupo dos oomicetos, com destaque para: podridão do morangueiro; podridão e mancha em frutos e folhas do mamoeiro; mancha-foliar-da-gala e míldio em macieiras; e mancha-foliar-da-gala em videiras, Dianese, A. D. C., & Blum, L. E. B. (2010).
O alvo
Os principais equívocos ocorrem quando se aplica fosfitos como única fonte de fósforo. Apesar de alguns estudos mostrarem que os fosfitos promovem ganhos nutricionais, eles não devem substituir os fertilizantes à base de fosfato.
Alguns experimentos mostram que o milho adubado apenas com fosfito teve crescimento reduzido. Apesar de o fosfito ser absorvido rapidamente e de forma eficiente, a planta não metaboliza fosfitos para usá-los como fonte de fósforo, Schroetter, S.; Angeles-Wedler, D.; Kreuzig, R.; Schnug, 2006.
O mesmo ocorre quando se usa apenas fosfitos para controle de doenças fúngicas. Embora os fosfitos tenham ação antinfúngica eles são mais eficientes quando associados com fungicidas convencionais.
Deve-se ressaltar que os fosfitos em altas concentrações podem ser tóxicos para as plantas, Lovatt, C. J., & Mikkelsen, R. L. (2006). Se não forem formulados corretamente, também podem induzir reações adversas com outros materiais, como microelementos e pesticidas, Barreto, N. D. S. (2008).
Assim, todos os fertilizantes, especialmente o fosfito, devem ser usados em estreita consulta com um profissional para atingir as metas de produção desejadas. É importante seguir as recomendações dos fabricantes contidas na embalagem e programar adequadamente as aplicações para obter todos os benefícios dos fertilizantes à base de fosfito.
Investimento x retorno
A relação custo/benefício do uso de fertilizantes à base fosfitos dependerá do produto comercial adquirido e da cultura em que se pretende aplicar. Em geral, os produtos são comercializados na forma líquida concentrada, que pode variar entre R$ 70,00 e R$ 180,00 o litro. As recomendações de uso vão depender do fabricante, da cultura e do tipo de fosfito.