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Fosfitos no manejo de doenças do pepino

Manoel Batista da Silva Júnior
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia (UFLA)
silvajuniormb@gmail.com

O pepino (Cucumis sativus) têm grande importância econômica e social no agronegócio brasileiro. Esta hortaliça é apreciada e consumida em todas as regiões brasileiras de forma crua em saladas, sanduíches, sopas ou em conservas. Também pode ser utilizada na fabricação de cosméticos e medicamentos.

A China é o principal produtor mundial, seguida por Turquia, Irã, Rússia e Estados Unidos. A produção anual brasileira fica na faixa de 200.000 toneladas, sendo a região sudeste responsável por mais da metade deste volume.

No mercado brasileiro existem quatro tipos de pepino comerciais: “caipira”, “conserva”, “comum” e “japonês”.

Créditos: Geovani Amaro; Paula Cochrane; Agnaldo Carvalho

Fitossanidade

As doenças fúngicas e bacterianas estão entre os principais fatores que causam redução na produtividade deste cultivo. Em destaque, podem ser citadas a antracnose, o oídio, a mancha zonada, o cancro da haste, o míldio e a mancha angular.

A antracnose (Colletotrichum gloeosporioides f. sp. cucurbitae) pode afetar frutos, hastes e folhas. As lesões são deprimidas, de formato circular a elíptico, com tamanho variado.

No centro das lesões fica o acérvulo, estrutura onde são formados os esporos. Alta umidade e temperatura favorecem a epidemia da doença. O controle químico é a tática de manejo mais utilizada com fungicidas protetores (cobre, clorotalonil, mancozebe) e sistêmicos (tiofanato metílico e tiabendazol).

O oídio (Podosphaera xanthii) é uma doença bem comum na cultura do pepino e causa mais problemas no cultivo protegido. Nessas condições ocorre maior controle da umidade nas folhas e a doença tem um microclima favorável à proliferação do patógeno.

O principal sintoma é caracterizado pela pulverulência branca na face superior das folhas. Para o manejo, podem ser utilizadas cultivares resistentes e a aplicação de fungicidas do grupo dos triazóis e o enxofre.

Outras doenças

O cancro das hastes é causado pelo fungo Dydimella bryoniae, que provocaproblemas em regiões úmidas quando as temperaturas estão amenas. O patógeno pode atacar qualquer parte da planta e causa tombamento, encharcamento e gomose nos ramos, secando-os e formando os picnídios (estruturas onde são formados os esporos do fungo).

As lesões podem secar a haste e matar todos os tecidos acima da lesão. Para o controle, recomenda-se o tratamento de sementes com os fungicidas thiram e captan.

A mancha zonada (Leandria momordica) é uma doença de ocorrência mais comum na região sudeste. Condições de alta umidade e temperatura favorecem a epidemia. Os sintomas têm início com pequenas manchas encharcadas que necrosam e ficam com coloração esbranquiçada.

Para o manejo, recomenda-se o arejamento da lavoura para evitar excesso de umidade, uso de cultivares resistentes e controle com fungicidas protetores (clorotalonil) ou sistêmicos (azoxystrobin e tebuconazol).

O míldio é causado pelo oomiceto (falso fungo) Pseudoperonospora cubensis e é favorecido por alta umidade e temperaturas amenas. Nessas condições, o patógeno produz esporos flagelados (zoósporos), que facilitam sua disseminação e favorecem a epidemia.

Os sintomas são caracterizados por manchas cloróticas na face superior da folha e a esporulação no mesmo ponto da face inferior. O controle pode ser feito com cultivares resistentes ou aplicação de fungicidas (clorotalonil, mancozebe e metalaxil-M).

Bactérias

A mancha angular é uma doença causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. Lachrymans, que pode atacar folhas, pecíolos e frutos. Os sintomas são caracterizados por manchas encharcadas, angulosas e limitadas pelas nervuras, com tamanho diverso.

Já os frutos atacados apresentam manchas encharcadas que necrosam, crescem e podem apodrecer todo o fruto. Condições de temperaturas elevadas (28°C ou mais) e alta umidade favorecem a epidemia da doença.

O manejo é baseado na aeração da lavoura, tratamento de sementes e aplicação de fungicidas cúpricos, porém, o cobre geralmente causa fitotoxidez em cucurbitáceas.

Papel dos fosfitos

Entre os produtos alternativos utilizados no manejo de doenças de plantas disponíveis no mercado destacam-se os fosfitos e fosfonatos, que vêm sendo utilizados em diversos cultivos.

Os fosfitos são produtos derivados da reação entre uma base forte e o ácido fosforoso. Após a reação, o ácido fosforoso e o nutriente da base forte formam uma nova molécula, que será o fosfito de potássio quando se utiliza o hidróxido de potássio, o fosfito de manganês quando se utiliza o hidróxido de manganês, e assim por diante.

Os fosfonatos, além da molécula de fosfito, também possuem em sua formulação um radical orgânico, como metil, etil e propil, por exemplo. Neste caso, a denominação será etilfosfonato de potássio, etilfosfonato de manganês, e assim por diante.

Ambos os produtos podem atuar ativando os mecanismos de defesa das plantas, nutrindo as mesmas e por toxidez direta ao patógeno. A ativação de defesa ou indução de resistência ocorre devido ao fósforo na forma de fosfito não ser assimilado pela planta, ou seja, a planta não tem enzimas capazes de converter esta molécula para a forma de fosfato, que pode ser incorporada em compostos úteis ao crescimento e desenvolvimento vegetal, como os ácidos nucléicos e a adenosina trifosfato (ATP).

O fornecimento do fosfito irá, então, promover um estresse na planta e este pode estimular a formação de espécies ativas de oxigênio, lignina, compostos fenólicos, flavonoides, taninos, terpenos e ativação de enzimas que irão atuar inibindo o desenvolvimento do patógeno nas células vegetais.

Crédito: Shutterstock

A nutrição destes produtos ocorre pelo fornecimento do nutriente que acompanha o fosfito como o potássio, o cálcio entre outros. O fósforo, como comentado, não é nutricional. A toxidez direta ao patógeno ocorre pelo rompimento das hifas dos fungos, o que compromete o crescimento do patógeno e a colonização da planta.

Versatilidade

Estes compostos podem auxiliar no manejo de variados grupos de patógenos, desde bactérias, fungos e oomicetos. Devido ao seu triplo modo de ação, podem ser utilizados no manejo antirresistência de fungos a fungicidas.

Além disso, são produtos sistêmicos e possuem a capacidade de se mover via xilema e floema, possibilitando seu uso no manejo de patógenos foliares ou radiculares. O efeito do fosfito como indutor pode durar até oito dias. Com isso, é recomendado que sejam feitas reaplicações sempre que necessário.

Outro ponto importante da ação dos fosfitos é a capacidade de induzir a planta a produzir compostos bioativos como os fenólicos, terpenos, taninos e flavonoides. Estas substâncias, além de terem ação direta contra fungos, bactérias e outros microrganismos, também apresentam características relacionadas à qualidade do produto final, principalmente os flavonoides e fenólicos.

Alguns exemplos bem conhecidos de substâncias destes grupos são o ácido clorogênico (fenólico) no café e o resveratrol (flavonoide) na uva (vinho). O ácido clorogênico tem relação direta com a qualidade na bebida do café, enquanto o resveratrol tem propriedades antioxidantes e antinflamatórias. A aplicação dos fosfitos pode promover o maior acúmulo destes compostos nos frutos e melhorar sua qualidade.

Pesquisas

Alguns trabalhos de pesquisa já conduzidos mostram a eficiência destes produtos no manejo de patógenos na cultura do pepino. Em estudo com toxidez direta de fosfitos, Santos et al. (2016) verificaram que os aumentos nas doses de duas formulações de fosfitos de potássio testadas promoveram redução no crescimento micelial e germinação de esporos de Fusarium solani. f. sp. cucurbitae, porém, o nível de inibição foi inferior ao fungicida padrão testado.

Este fungo é um importante patógeno radicular em cucurbitáceas, como o pepino.

Trabalhos também mostram eficiência destes produtos no manejo de doenças foliares. Belan et al. (2013) avaliaram o efeito de vários produtos alternativos para manejo do oídio (Podosphaera xanthii) em pepino.

De acordo com os autores, uma formulação comercial de fosfito de cobre promoveu controle da doença com a mesma eficiência dos fungicidas tebuconazol, oxicloreto de cobre e enxofre.

Este produto também promoveu incremento significativo no número de frutos por planta, com o mesmo efeito promovido pelos fungicidas. Este fosfito, portanto, se apresentou como uma ótima alternativa de manejo do oídio.

Já Fischer et al. (2021) observaram que fosfitos de cobre, manganês e zinco promoveram redução na severidade da mancha alvo e incremento no índice de coloração verde das plantas.

Para doenças radiculares, Abbasi & Lazarovits (2006) observaram que o tratamento de sementes de pepino com fosfonato de cobre promoveu redução na severidade do tombamento causado por Pythium aphanidermatum em pepino.

Segundo os autores, o tratamento de sementes com o fosfonatos promoveu redução do número de plantas doentes e aumento do peso fresco das plantas em areia e turfa infestada, ou em solo naturalmente infestado coletado no campo.

Vale a pena?

Com base no exposto, a aplicação do fosfito no pepineiro deve ser realizada de forma preventiva, principalmente pelo seu modo de ação. O ideal é associar este produto às aplicações de fungicidas visando maior facilidade e redução nos custos operacionais, visto que o produtor já terá que, obrigatoriamente, aplicar os fungicidas.

Além disso, a aplicação conjunta dos dois produtos pode funcionar como um reforço aos fungicidas que têm modo de ação específico, evitando ou atrasando o surgimento de populações resistentes dos patógenos.

A dose a ser aplicada deve seguir a recomendação do fabricante, podendo ser encontradas recomendações de 0,5 até 3,0 L/ha, dependendo do produto e da empresa fabricante.

Quanto custa?

O custo dos fosfitos é bem variável, sendo encontrados no mercado produtos de R$ 20,00 a R$ 60,00, em média. Um ponto importante a se ressaltar é que o custo mínimo de produção do fosfito gira em torno de R$ 20,00 a R$ 25,00.

Portanto, formulações com custo menor que este devem ter atenção especial, pois muito provavelmente não irão atender a expectativa do produtor. O preço destes produtos é bem menor, se comparado aos fungicidas, e sua introdução não irá onerar tanto os custos de produção se feito de forma eficaz.

Portanto, os fosfitos podem ser utilizados no manejo de doenças do pepino e são uma boa ferramenta para o produtor. Considerando os riscos de surgimento de populações resistentes do patógeno aos fungicidas já utilizados, estes produtos se apresentam como um bom reforço aos químicos.

Seu uso pode promover melhoria na qualidade dos frutos pela indução na produção de compostos fenólicos e flavonoides, que trazem benefícios à saúde.

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