Carlos Gilberto Raetano
Doutor e professor da FCA/UNESP ” campus de Botucatu
Diego Miranda de Souza
Doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas ” FCA/UNESP-Botucatu
Desde a detecção da ferrugem asiática da soja (FAS), na safra 2001/2002, a pulverização de fungicidas é uma das principais técnicas de controle. Dentre as moléculas fungicidas utilizadas neste período, destacam-se aquelas dos grupos químicos triazóis, estrobilurinas, e mais recentemente as carboxamidas.
Historicamente, os primeiros fungicidas recomendados continham apenas uma molécula fungicida, atuando em sÃtio de ação específico no agente causador da doença. Devido à enorme pressão de seleção exercida pelo número limitado de moléculas fungicidas disponíveis, foi possível notar redução significativa e cÃclica da eficácia dos fungicidas. Assim, ao longo das safras agrícolas surgiu a recomendação de associar fungicidas de mecanismos de ação distintos para o controle da FAS.
No entanto, mesmo com o lançamento das carboxamidas, os mecanismos de ação disponíveis para o controle deste patógeno continuaram limitados e a redução da sensibilidade do fungo aos fungicidas ainda continua sendo presenciada. Uma situação preocupante, visto a importância econômica da cultura para o País e o potencial destrutivo da FAS.
Os multissÃtios
Nos últimos anos, em razão da ocorrência de isolados cada vez menos sensíveis aos fungicidas com sÃtio de ação específicos disponíveis no mercado tornou-se necessário a busca por alternativas mais eficazes. Neste contexto, a adoção de fungicidas que atuem em vários sÃtios de ação (multissÃtios) passou a ser considerada fundamental para o manejo de resistência da ferrugem asiática da soja.
Os fungicidas denominados multissÃtios atuam de forma conjunta em diferentes sÃtios de ação do fungo, ou seja, são inibidores não específicos de reações bioquímicas e ou metabólicas, o que torna este grupo de fungicidas menos propensos à resistência do agente patogênico.
Segundo o Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas ” Brasil (FRAC-Br), os grupos químicos representantes dos fungicidas multissÃtios, grupo M, são: enxofre, cobre, quinoxalina, maleimida, ditiocarbamato, cloronitrila, ftalimida, sulfonamida, guanidina, triazina e antraquinona, com 23 moléculas disponíveis (Tabela 1).
Grupo FRAC-Br | Grupo químico | Ingrediente ativo |
M1 | Inorgânico (Cobre) | Cobre |
M2 | Inorgânico (Enxofre) | Enxofre |
M3 | Ditiocarbamatos e relativos | Zinco tiazol, Ferbame, Mancozebe, Manebe, Metiram, Propinebe, Tiram, Zinebe, Ziram |
M4 | Ftalimida | Captana, Captafol, Folpete |
M5 | Cloronitrila | Clorotalonil |
M6 | Sulfonamida | Diclofluanida, Tolilfluanida |
M7 | Guanidina | Guazatina, Iminoctadina |
M8 | Triazina | Anilazina |
M9 | Antraquinona | Ditianona |
M10 | Quinoxalina | Quinometinato |
M11 | Maleimida | Fluoroimida |
Fungicidas com atividade de contato multissÃtio, grupo M, segundo o FRAC-Br, em março de 2018.
No entanto, dentre os 244 fungicidas comerciais registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para a cultura da soja podem ser considerados multissÃtios os grupos: enxofre, cobre, ditiocarbamato e isoftalonitrila.
Técnicas eficazes
A ação inespecífica destas substâncias não permite que os fungicidas multissÃtios sejam absorvidos pelas plantas, motivo pelo qual também são chamados de protetores e imóveis. Assim, para obter eficácia satisfatória destes fungicidas é necessário que a aplicação proporcione excelente cobertura da superfície vegetal a ser protegida.
Em razão das condições climáticas favoráveis, o início da doença FAS ocorre comumente nos folÃolos das partes inferior e média das plantas. O manejo com fungicidas multissÃtios deve considerar uma tecnologia de aplicação que garanta a deposição e cobertura adequadas da calda fungicida nos folÃolos mais propensos ao início da epidemia.
A proteção dos alvos iniciais da FAS não é tarefa fácil. A falta de mobilidade dos fungicidas multissÃtios exige que a distribuição da calda seja priorizada na pulverização. Para isso, o produtor dispõe de algumas técnicas: aplicações que antecedam o fechamento entre linhas (R1), utilizar volume de calda compatível com o estádio de desenvolvimento da cultura, respeitar os momentos climáticos adequados à aplicação (temperatura < 30°C, umidade relativa > 60 % e velocidade do vento entre 3 e 10 km/h), reduzir o tamanho das gotas de pulverização, utilizar assistência de ar ou outro dispositivo que incremente a penetração das gotas no dossel.