Mauro Scigliani Martini
Head Consultant – Agricaffè – Soluções em Cafeicultura
maurosmartini@hotmail.com
Uma fusariose de características diferentes foi verificada recentemente em lavouras de café em Minas Gerais. Ela vem ocorrendo de forma grave, atacando plantas de café ainda novas, com oito anos de idade. A sintomatologia também é diferenciada: provoca o amarelecimento das plantas e a seca da ramagem a partir do ponteiro, descendo pelo tronco.
Causas
A fusariose é uma doença causada por fungos do gênero Fusarium, que vivem no solo e penetram a planta por algum ferimento. Mais comum em viveiros, ela agora ganha destaque como uma doença importante para cafeeiros jovens e adultos, devido à maior incidência nestas fases.
No entanto, a fusariose em cafeeiros em fase de produção já é conhecida no continente africano desde a década de 40 do século passado e, também, no Brasil desde meados dos anos 90.
O fungo ataca os vasos condutores da planta, principalmente o xilema, impedindo a distribuição de água e nutrientes, o que prejudica o desenvolvimento normal do cafeeiro.
O ataque pode variar conforme a região afetada, mas geralmente os sintomas são: amarelecimento da planta, que pode ocorrer inicialmente no ponteiro e progredir de forma descendente, resultando em seca de ramos, desfolha, seca prematura de frutos, murcha e morte do cafeeiro. Um sintoma característico da doença é o escurecimento dos vasos condutores devido ao bloqueio destes pelo ataque do fungo. A progressão desde o início dos sintomas até a morte da planta pode ser muito rápida.
Disseminação
A disseminação ocorre em reboleiras, passando de uma planta para outra, principalmente com a ajuda de equipamentos e implementos utilizados para a poda e colheita, o que pode acelerar o processo de dispersão da doença no talhão. Além disso, o ataque de pragas de solo, como cigarras e nematoides, pode ser responsável pela entrada da doença, causando uma morte rápida da planta pelo ataque sinérgico entre eles.
Quando não eliminada, a fusariose pode reduzir a produção em 30-40% para o conilon. No caso do arábica, o ataque pode levar a perdas totais de produção e morte muito rápida da planta, causando grandes prejuízos ao produtor.
Características Específicas
Para essa fusariose, atacando plantas novas e adultas, podemos identificar sintomas como:
- Amarelecimento da parte aérea das plantas
- Desenvolvimento inferior comparado às demais
- Enchimento de grãos prejudicados
- Morte de ramos e ponteiro
- Entupimento e escurecimento dos vasos lenhosos
- Seca e morte da planta
A disseminação pode ocorrer por ar, água e, mais notoriamente, por meio de implementos e ferramentas contaminadas, tanto durante a poda quanto na colheita mecanizada. O fungo da fusariose necessita de uma porta de entrada para atacar a planta, sendo que qualquer tipo de machucado causado pelos tratos culturais necessários ao manejo do cafeeiro é suficiente para isso.
Principais Danos
A fusariose ataca os vasos condutores do cafeeiro, prejudicando o transporte de água e nutrientes à planta. Como resultado:
- A planta se desenvolve menos e perde capacidade fotossintética
- O crescimento diminui e o enchimento dos grãos é prejudicado
- A produção e a qualidade dos frutos são reduzidas, com maior incidência de frutos mal granados e pequenos, podendo levar até à perda total da produção e morte da planta
Além disso, a fusariose pode causar um superbrotamento logo abaixo da região atacada, dificultando a formação dos frutos.
Disseminação dessa nova doença
Podemos identificar certas condições favoráveis para o fungo, como solos encharcados e ácidos. No entanto, quando ataca plantas jovens e adultas, é muito provável que este fungo tenha chegado à lavoura por ferramentas e implementos contaminados, ou por mudas oriundas de viveiros já contaminados.
A partir do momento em que existe uma planta contaminada na propriedade, qualquer tipo de manejo que possa causar um ferimento às plantas é um fator de disseminação, pois esse carregará o fungo da planta contaminada para as demais, ainda causando os ferimentos para a entrada na nova planta.
A colheita mecanizada é um caso interessante de disseminação, pois as varetas podem causar diversos ferimentos à parte aérea do cafeeiro, aumentando a probabilidade de infecção. Essa forma de disseminação, pela colheita mecanizada, pode ser vista nas linhas do cafeeiro, onde podemos observar uma primeira planta contaminada e, logo após, na mesma linha, novas plantas recém-infectadas, aumentando o número de plantas contaminadas com o passar de novos tratos culturais que possam causar ferimentos ao cafeeiro.
Diagnóstico
O diagnóstico da nova fusariose é feito pela identificação de sintomas em campo, sendo esses:
- Amarelecimento descendente das partes aéreas
- Paralisação de crescimento
- Seca de ramos e ponteiro
- Desfolha
- Seca prematura dos frutos
- Mau desenvolvimento da planta em relação às demais
Além disso, a fusariose é identificada pelo escurecimento dos vasos condutores do cafeeiro, observado através de um corte feito na área infectada. O ataque se inicia, geralmente, com apenas uma ou poucas plantas demonstrando os sintomas e, com o passar do tempo e dos tratos culturais que possam carregar o fungo até outra planta, como colheita mecanizada, podas, etc., novas plantas começam a demonstrar que foram infectadas, sendo esse tipo de disseminação mais uma forma de identificação da doença.
Por fim, a forma mais eficaz de identificação é pela análise laboratorial para confirmação da presença de fungos causadores da fusariose.
Estratégias de controle
Infelizmente, ainda não existem fungicidas registrados para o controle de fusariose em cafeeiros adultos. No entanto, medidas de manejo integrado, com a utilização de fungicidas sistêmicos, podem apresentar bons resultados, diminuindo a agressividade do ataque.
A manutenção de um solo sadio, com boa drenagem e pH controlado, pode reduzir a presença do fungo no solo. O controle mais eficaz ainda é a eliminação das plantas e a queima dos restos vegetais no local, evitando assim a movimentação e disseminação na lavoura.
Preventivamente, é importante sempre utilizar mudas sadias provenientes de viveiros certificados a fim de evitar a entrada do fungo na propriedade.
Em cafezais adultos, recomenda-se a utilização de uma pulverização com efeito cicatrizante, por exemplo, com hidróxido de cobre, que deve ser aplicado sempre após as podas, colheita ou qualquer manejo que possa ter provocado ferimentos às plantas. Esta é uma forma de evitar deixar a porta aberta para o fungo. Além disso, plantas sadias são sempre menos suscetíveis ao ataque de doenças, sendo fundamental o planejamento e controle nutricional adequado.
A utilização de variedades resistentes ainda é pouco estudada, com plantas como o clone Conilon A1 apresentando bons resultados para arábica. Apenas observações práticas em campo foram feitas, com resultados ainda não conclusivos.
Como minimizar o impacto da fusariose
Para novos plantios, é importante sempre buscar mudas sadias e certificadas. O ponto principal é utilizar, sempre após qualquer manejo que possa provocar ferimentos às plantas, como poda, colheita, etc., uma pulverização com fator cicatrizante, como o hidróxido de cobre ou calda bordalesa.
Outras recomendações são:
- Manter o cafeeiro sadio com nível nutricional equilibrado
- Realizar a higienização dos equipamentos e implementos de colheita e poda sempre ao final do dia e, se possível, antes de começar outro talhão na propriedade, como forma de evitar a proliferação da doença
- Eliminar as plantas doentes, queimar os restos vegetativos e enterrar no local
Pesquisas
Variedades resistentes são sempre uma boa ferramenta para os produtores como forma de incremento de produção, diminuição de gastos e sustentabilidade do negócio. No entanto, ainda são pouco estudadas para o caso de fusariose. Tendo em vista a importância da cafeicultura, estudos conclusivos, tanto em relação ao patógeno quanto para variedades resistentes, são absolutamente necessários.