Williams Ferreira – Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia – williams.ferreira@embrapa.br
Vanessa Figueiredo – Assessora técnica da EPAMIG, especialista na cultura do café – vcfigueiredo@epamig.br
Marcelo Ribeiro – Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia – mribeiro@epamig.br
No dia 20 de julho, as temperaturas chegaram abaixo de zero graus em algumas regiões, revelando, ao amanhecer, que a geada ocorrida na madrugada havia afetado muitas lavouras de café.
Segundo produtores, especialistas e analistas de mercado cafeeiro, o frio intenso proporcionou a ocorrência de geada em algumas regiões do parque cafeeiro com mais intensidade e outras com menos, não sendo possível, até o momento, mensurar os danos para a próxima safra 2022.
As condições de maior risco são para os talhões instalados em áreas com grande declividade, principalmente nas regiões de maiores altitudes, nas quais poderão ocorrer geadas devido ao efeito do vento Catabático, ou seja, quando o ar frio, mais denso, se movimenta das partes mais altas das montanhas em direção às mais baixas. As áreas de baixada, entre as montanhas, também podem ser afetadas pela deposição do ar frio que fica aprisionado nos vales.
A geada pode interferir na capacidade reprodutiva e vegetativa dos cafeeiros, causando sérios prejuízos para a próxima safra caso as gemas reprodutivas e vegetativas, já presentes na planta, sejam danificadas.
Outro efeito danoso das geadas pode ocorrer nas plantas mais novas, de até dois anos de idade. Nessas plantas o frio pode causar queima na parte mais baixa do tronco, na qual há maior deposição de ar frio (devido a sua maior densidade). É a conhecida “geada de canela”, que ocorre devido a tais condições de tempo e pelo fato de ainda não existir proteção do tronco pela copa da planta, ainda nova (o efeito guarda-chuva).
Diante esta situação, o momento é de “cautela”. Isto se deve ao fato de que é natural a ansiedade por parte dos produtores na tentativa de resolver a situação de suas lavouras. Deve-se lembrar que as plantas atingidas pela última geada passaram por estresse muito intenso e ainda se encontram com o metabolismo praticamente paralisado, precisando “descansar”.
Quando iniciar a próxima estação chuvosa e com ela vierem as brotações, as plantas irão reagir e revelar ao cafeicultor o melhor caminho/manejo (podas, pulverizações à base de aminoácidos e estimulantes, etc.) a seguir.
Alerta-se que atitudes precipitadas podem prejudicar ainda mais as lavouras, pois as plantas ainda se encontram estressadas e, se elas forem sujeitas à poda, por exemplo, terão que ativar seu metabolismo para estimular a brotação, sendo que no momento as plantas estão enfraquecidas para isto.
Além disto, plantas podadas (sem proteção) ficam mais expostas aos danos causados pelo frio intenso previsto para a última semana de julho, fazendo com que as injúrias nas plantas possam vir a ser ainda maiores. O momento atual é vigília em relação à reação por parte das plantas. Cada lavoura deve ser analisada individualmente, com critério, principalmente sendo a próxima safra de bienalidade alta, porque quanto menores forem as podas, maior poderá ser o rendimento das lavouras.