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Gestão de riscos da produção florestal

A produção florestal é uma atividade econômica importante no país mas passa por diversos riscos que requerem uma gestão.

Allana Katiussya Silva Pereira
allana.florestal@gmail.com

Álison Moreira da Silva
alison.silva@usp.br
Engenheiros florestais, mestres em Ciências Florestais e doutorandos em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)

Ananias Francisco Dias Júnior
Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais e professor – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
ananias.dias@ufes.br

A produção florestal é uma atividade econômica importante em muitos países, sendo responsável pela geração de emprego e renda, além de ser fonte de matérias-primas para diversos setores industriais, como a construção civil, a fabricação de móveis e de papel.

Neste sentido, a gestão de riscos é uma prática essencial para garantir a eficiência e rentabilidade da produção de florestas plantadas. Como em qualquer atividade, a produção florestal está sujeita a diversos riscos que podem afetar a produtividade e a qualidade dos produtos florestais.

As medidas preventivas incluem a adoção de práticas de gestão sustentável
Crédito: Shutterstock

Esses riscos incluem fatores climáticos, como secas, tempestades, geadas e incêndios florestais, além de doenças e pragas que afetam as árvores, e problemas relacionados à gestão, como erros no planejamento do manejo ou na implementação de técnicas de silvicultura.

Para minimizar esses riscos e garantir a continuidade da produção florestal, é necessário adotar uma abordagem de gestão de riscos que permita identificar, avaliar e gerenciar os riscos associados à produção de florestas plantadas.

Essa abordagem envolve um conjunto de medidas preventivas e corretivas que visam reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos adversos e minimizar suas consequências, quando ocorrem.

O começo

Uma das primeiras etapas da gestão de riscos na produção florestal é a identificação dos riscos potenciais. Isso pode ser feito por meio de uma análise detalhada dos fatores climáticos, das condições do solo, da disponibilidade de água, das espécies plantadas e dos fatores de mercado.

Com base nessa análise, é possível identificar os riscos mais críticos e estabelecer medidas preventivas e corretivas para minimizá-los. Uma vez identificados os riscos, é necessário avaliar sua probabilidade de ocorrência e seu impacto potencial na produção florestal.

Isso pode ser feito por meio de modelos de simulação que consideram diferentes cenários e variáveis, como a intensidade das tempestades, a severidade das doenças e pragas, e as variações nos preços de mercado. Com base nessas avaliações, é possível estabelecer medidas preventivas e corretivas para minimizar os riscos.

Prevenção

As medidas preventivas incluem a adoção de práticas de gestão sustentável, como o uso de espécies mais resistentes a doenças e pragas, a implementação de sistemas de irrigação e drenagem, a adoção de técnicas de manejo integrado de pragas e doenças, a diversificação das espécies plantadas e a implantação de sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos.

Essas medidas ajudam a reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos adversos e a minimizar suas consequências, quando ocorrem. Além das medidas preventivas, é importante estar preparado para lidar com os riscos, quando eles ocorrem.

Espécies florestais adaptáveis e produtivas

A busca por espécies florestais com maior adaptabilidade a diferentes ambientes e alta produtividade é uma necessidade constante, uma vez que é um dos fatores que promove a redução de custos inerentes ao manejo de florestas plantadas e as torna mais eficientes e rentáveis.

A escolha das espécies a serem plantadas é um processo que deve considerar uma série de fatores, tais como as condições climáticas e de solo da região, as demandas do mercado consumidor e a disponibilidade de mão de obra qualificada.

Além disso, é importante buscar espécies que apresentem características como crescimento rápido, boa qualidade da madeira, resistência a pragas e doenças, condições climáticas adversas, dentre outras.

Um dos principais motivos para buscar espécies florestais adaptáveis e produtivas está relacionado à redução dos riscos associados à produção, os quais podem ser de diferentes tipos, como os ambientais, os sanitários, os sociais e os econômicos, e podem ter impactos significativos na rentabilidade do negócio.

Por exemplo, espécies inadequadas podem ser mais suscetíveis a pragas e doenças, o que pode aumentar os custos com defensivos e reduzir a produtividade. Ainda, condições climáticas adversas, como estiagens prolongadas ou chuvas intensas, podem afetar negativamente o crescimento das árvores e comprometer a qualidade da madeira produzida.

Outro risco a ser considerado é o impacto social da produção florestal. Em algumas regiões, a plantação de florestas pode afetar a dinâmica social e econômica local, gerando conflitos com comunidades tradicionais ou agricultores familiares.

Por isso, é importante escolher espécies que possam ser produzidas de forma sustentável, respeitando as leis e normas ambientais e sociais.

Crédito: Shutterstock

Planejamento florestal

É muito comum encontrarmos a definição do termo “planejamento” em diferentes obras da literatura administrativa. Planejar é pensar no resultado que queremos para o futuro.

Planejar é a busca pela tomada de decisões integradas da forma mais assertiva possível. Logo, um bom resultado requer um ótimo planejamento de atividades, e com as florestas não é diferente.

O planejamento florestal é uma atividade contínua que engloba a organização de todas as etapas envolvidas no processo produtivo de madeira e de outros bens da floresta. Sendo assim, é fácil compreender que quanto melhor é o planejamento, maior é a chance de garantirmos a maximização do desempenho produtivo das florestas.

Da mesma forma que o oposto também é esperado: se falhamos no planejamento florestal, influenciamos negativamente na eficiência da produção.

Níveis

No planejamento florestal, as atividades costumam ser executadas em três níveis: estratégico, tático e operacional. O nível estratégico apresenta um horizonte de planejamento de maior prazo, é aplicado em larga escala de produção e abarca decisões que visam levar os níveis de produção da floresta a longo prazo.

O nível tático apresenta a base de informações de crescimento e produção necessária à orientação sobre onde e quando implementar as atividades de manejo.

Já o nível operacional é projetado para um horizonte de planejamento de curto prazo e suas atividades são consequências do planejamento tático, destinado ao alcance de metas específicas de todo o planejamento florestal.

Em qualquer que seja o nível (estratégico, tático ou operacional), um planejamento inadequado pode acarretar em grandes prejuízos na rentabilidade da floresta.

Potencial produtivo

Falar de manejo florestal sem falar de planejamento é fadar o potencial produtivo das florestas ao insucesso, principalmente devido aos longos períodos envolvidos, ligados diretamente à capacidade produtiva e aos ciclos das florestas.

Sendo assim, o planejamento é a etapa decisiva que dita o êxito ou não de usufruir sustentavelmente do potencial produtivo das florestas. Somente um planejamento bem elaborado pode possibilitar que a floresta receba o melhor manejo possível, orientando um bom desempenho produtivo para o futuro, prevendo possíveis problemas e promovendo a tomada de decisões de forma integrativa.

Gestão eficiente da produção florestal

A silvicultura é entendida como a ciência que visa definir o momento e formas mais assertivas de intervir na floresta, com foco principal no fornecimento de produtos florestais madeireiros e não madeireiros, bens e serviços, de maneira economicamente rentável.

Suas técnicas podem ser aplicadas tanto para manter como fazer uso racional da floresta, seja para atender demandas de cunho ecológico, científico, econômico e/ou social. A silvicultura é multidisciplinar e, portanto, engloba diferentes campos da ciência, tais como a ecologia, a fitopatologia, a edafologia e a economia florestal.

É por meio dela que o manejo florestal voltado à produção madeireira é realizado, demandando alguns cuidados, como o entendimento da capacidade produtiva da floresta, determinação dos ciclos de cortes, reconhecimento da taxa de recuperação local, estudo de espécies que podem ser aplicadas, tendo como base suas características tecnológicas, avaliação das condições edafoclimáticas do local, colheita planejada e definição dos tratos culturais que podem ser realizados.

Estruturas florestais

Nesse contexto, os sistemas silviculturais representam os processos de condução das florestas, sob diferentes regimes de manejo, variando a depender da estrutura do povoamento e do produto a que se destina a floresta. 

Um dos sistemas mais conhecidos é o alto fuste, cuja perpetuação do povoamento florestal é feita por via generativa, natural ou artificial, com rotações mais longas, enquanto a talhadia engloba a condução do crescimento dos brotos nas cepas da floresta recém-cortada para dar início a um novo ciclo florestal.

Dentre as técnicas silviculturais que podem ser utilizadas visando potencializar a produção florestal, o desbaste também é muito comum. Trata-se da remoção de algumas árvores e, consequentemente, da competição de recursos (luz, nutrientes, água) entre as plantas, como forma de favorecer o crescimento das árvores remanescentes.

Já a desrama, isto é, a eliminação dos galhos das árvores, é uma operação realizada em diferentes momentos na floresta e permite a obtenção de madeira de maior valor comercial, sem a presença de nós.

Benefícios das ferramentas de gestão de riscos

O gerenciamento de risco ajudará a definir os próximos passos, sendo muito importante entender todo o processo produtivo para detectar possíveis falhas e minimizar riscos.

As principais vantagens da gestão de risco são a otimização de processos e recursos operacionais, uma vez que os recursos podem ser gerenciados de forma mais eficiente e segura, processos mais eficientes podem ser definidos, assim como a prevenção de perdas e maximização de lucratividades.

As ferramentas de gestão de riscos são um conjunto de metodologias utilizadas para definir, medir, analisar e resolver problemas que impactam nos resultados das organizações.

Essas ferramentas determinam estratégias que permitem um equilíbrio entre as metas a serem alcançadas e os riscos que elas proporcionam. Com isso, gerenciar os riscos na produção florestal é definir ações que permitam prevenir ou eliminar os riscos inerentes aos objetivos.

Ferramentas

Um modelo de gestão de risco deve ser dividido em seis etapas: I) identificação, II) categorização, III) análise, IV) priorização, V) tratamento e VI) monitoramento dos riscos.

Existem diversas ferramentas básicas de gerenciamento de riscos, dentre elas:

Failure Mode and Effective Analysis (FMEA): é a ferramenta de gerenciamento de riscos usada para identificá-los, bem como suas causas e propor as soluções mais adequadas para corrigir as falhas. Trata-se de uma ferramenta versátil, que pode ser usada para avaliar problemas na produção de produtos ou em processos.

Utiliza quatro indicadores numéricos, sendo eles: severidade, ou seja, o quanto o problema compromete a utilização do produto e a integridade das pessoas envolvidas no seu manuseio; ocorrência, um indicador que mede a frequência em que o problema ou a falha podem ocorrer; detecção, que mostra o grau de dificuldade em que o problema pode ser percebido; e, por fim, o número de prioridade, sendo este um parâmetro que recebem pontuações e indica o grau de urgência para solucionar as falhas.

Análise Preliminar de Riscos (APR): técnica aplicada nas fases iniciais de implementação de novos projetos ou no desenvolvimento de novos produtos e serviços, tendo como objetivo principal evitar ocorrências que possam prejudicar a sua execução.

Sua aplicação consiste no preenchimento de uma tabela em que são listadas todas as atividades envolvidas nos processos a serem analisados, listando todos os possíveis riscos relacionados a cada atividade.

Após a identificação dos riscos, deve-se correlacioná-los com suas possíveis causas e consequências, estipulando as medidas necessárias de prevenção, correção ou controle destes riscos.

What If: é uma ferramenta bem simples de ser utilizada. Sua aplicação permite imaginar todas as possíveis situações de risco que podem ocorrer e o que poderia causar cada uma delas.

Os “5 porquês”: é uma ferramenta de gerenciamento de riscos que tem como objetivo identificar as causas primárias dos problemas, removendo as respostas mais imediatas e superficiais possíveis. Consiste, basicamente, em perguntar, sucessivamente, os porquês do problema, utilizando as respostas para formular a pergunta seguinte.

Análise SWOT: determina os pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças, com o auxílio de um quadro. 

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