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Artigo assinado por Vanessa Sabioni, engenheira agrônoma, consultora, palestrante e fundadora da Rede AgroMulher
O
agronegócio sempre foi um setor predominantemente masculino e a participação
das mulheres tem crescido cada vez mais. O investimento em capacitação nas
áreas de gestão e liderança são extremamente importantes para que os
profissionais deste setor, homens e mulheres, estejam preparados para gerir e
liderar mulheres.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada entre
2002 e 2015, as mulheres do agro representam 40% de participação no
agronegócio. Acredito que atualmente já estamos perto dos 50%.
Pensando em um cenário de intensa transformação tecnológica, identifiquei um
tripé tecnológico: formação, socialização e conectividade. Formação no sentido
de capacitação, socialização como forma de conectar pessoas com os mesmos
interesses, e conectividade para gerar negócios.
Vivemos em um momento com muita tecnologia à disposição. Mesmo que todos não
tenham acesso, elas já existem. Estamos o tempo todo conectados nas redes
sociais, “perdemos um dedo, mas não perdemos o celular”. E fazendo intendo
networking, pois nos dedicamos intensamente à nossa carreira.
Neste tripé, eu identifico as mulheres com forte influência na transformação
digital do agronegócio, pois possuem fortalezas intrínsecas ao gênero que as
colocam em posição de destaque. Por exemplo: as mulheres são comunicativas,
antenadas, compartilham informações e estão conectadas; formam grupos e criam
redes com mesmo perfil e interesses, o que fortalece ideias e opiniões; possuem
um perfil de gestão que é ancestral. Na época da caça, o homem tinha a
obrigação de trazer comida, e a mulher cuidava dos filhos, casa, roupa, comida
e marido; são mães, logo são um forte incentivo para a sucessão familiar dos
negócios. São as filhas que estão ensinando os pais a usarem o WhatsApp e redes
sociais, e são as produtoras e gestoras rurais que estão trazendo informações
sobre plataformas de gestão e tecnologias no campo; mulher é mais sensível e
empática e contribui para a equidade de gênero.
E por que se preocupar com a gestão e liderança de mulheres no agro já que elas
possuem fortalezas e a grande maioria já é capacitada? De acordo com uma
recente pesquisa da ABAG, 60% das mulheres possuem nível superior completo, 36%
gostam da vida no campo, 34% estão no agro porque membros da família já
atuavam. Porém, 59% relatam problemas de liderança por serem mulheres.
Mesmo sendo capacitadas, fortes, decididas e determinadas, as mulheres sofrem
por falta de autoconhecimento e autoconfiança, que são reflexos de baixa
autoestima, além do medo, que gera ansiedade e insegurança. Em minha Mentoria
Carreira & Negócios, tenho focado muito no desenvolvimento pessoal e
profissional de estudantes, profissionais e gestoras do agro, pois a maioria
dos relatos são relacionados a busca de desenvolvimento pessoal para serem
felizes e terem sucesso pessoal, profissional e financeiro.
É de extrema importância que gestores e profissionais do agronegócio busquem se
capacitar para se tornarem Líderes. Desenvolver habilidades de comunicação,
inteligência emocional, empatia, cultivar relações interpessoais saudáveis, e
por fim, inspirarem e motivarem.
Como gestora e líder de mulheres do agro, eu passo constantemente por desafios
que me fazem crescer e aprender muito a cada dia. Precisei desenvolver
habilidades como empatia, inteligência emocional, comunicação direcionada e
paciência.
Sempre disseram que sou inteligente, pois tirava as melhores notas na graduação
e no mestrado, fiz estágios, tive 3 bolsas de iniciação científica, mas quando
fui para o mercado de trabalho deparei-me com uma realidade: a falta de
lideranças que me orientassem melhor, me motivassem para desafios e para a
realização do trabalho do dia a dia e que pudessem contribuir para o meu
desenvolvimento pessoal e profissional e retorno para as empresas.
Mas meus gestores não tinham essa obrigação, não é mesmo? Eles queriam
profissionais prontos e que não precisassem investir tempo na gestão. Mas isso
é gestão? E será que os gestores estão fazendo só gestão e por isso não fazem
liderança?
É muito mais simples atuar com profissionais prontos, bem desenvolvidos
pessoalmente e profissionalmente, que sabem o que querem, que têm foco e
planejamento de vida. Mas essa não é realidade do nosso mercado. O que mais
percebo e sinto nos jovens e profissionais é a falta de autoconhecimento, baixa
autoestima, falta de foco, planejamento de vida e maturidade emocional.
E quando falamos em gestão e liderança de mulheres lidamos com questões
fisiológicas e emocionais, aliás o cérebro do homem é diferente do cérebro da
mulher, bem como o funcionamento do corpo. Eu busco sempre entender a
profissional, seu contexto de vida e como ela gosta de se relacionar e
interagir. Não é tão simples quanto parece, pois também tenho minhas limitações
e fraquezas
O trabalho que faço em minhas Mentorias é o mesmo que pratico com minha equipe:
promover o desenvolvimento pessoal e profissional diariamente. É fácil? Não.
Pode dar errado? Sim, e às vezes dá. É muito comum o profissional chegar como
um iniciante e após estar mais maduro profissionalmente, ter aprendido e
crescido, ele fica mais resistente ao aprendizado para o seu desenvolvimento
pessoal, pois acha que sabe de tudo e que está pronto para atuar como gestor.
Na minha opinião, leva tempo para que os profissionais desenvolvam a habilidade
de liderança e de gestão. E sabe quando percebo que não estão preparados ou que
precisam de mentoria? Quando centralizam todos os processos e não querem ensinar
o que lhes foi ensinado.
O ideal é que as empresas invistam em capacitação em desenvolvimento pessoal
através de mentorias ou coaching para seus colaboradores e, no caso das
mulheres, este trabalho pode ser realizado de mulher para mulher. Vejo que o
olhar e a vivência femininos trazem mais coragem, referência e uma conexão mais
íntima e apoiadora. Uma mulher liderando e ensinando outra mulher traz exemplos
de vida que fortalecem outras mulheres, pois quando encontramos pessoas que
passam por desafios parecidos não nos sentimos só, mas sim apoiados e
fortalecidos.
Vanessa Sabioni é Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia,
empreendedora, Consultora, Mentora, palestrante e fundadora da Rede AgroMulher,
a maior rede de mulheres do agro que tem como propósito capacitar, inserir e
valorizar as mulheres do setor através de plataforma de capacitação, redes
sociais, cursos online, mentorias, palestras e workshops. Mais informações em www.agromulher.com.br.