Ana Claudia Costa
anaclaudia.costa@ufla.br
Leila Aparecida Salles Pio
leila.pio@ufla.br
Professoras do curso de Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Na maior parte do Brasil, o volume anual de chuvas é insuficiente para atender as demandas das plantas cítricas. Longos períodos de estiagem e consequente estresse hídrico às plantas geram grandes perdas de produção.
O estresse hídrico pode afetar a produção de citros em todas as fases de desenvolvimento e o problema pode ocorrer antes de quaisquer sintomas visuais aparecerem. A disponibilidade de água influencia significativamente a floração e frutificação, podendo afetar a queda de frutos, tamanho dos frutos, produtividade, composição química dos frutos e desenvolvimento da copa.
Assim, a irrigação consiste em uma ferramenta importante para o incremento da produção na citricultura.
Evolução do sistema
Há alguns anos, a irrigação era utilizada exclusivamente na produção de frutas cítricas destinadas ao consumo in natura, entretanto, este cenário vem se modificando e, cada vez mais, os produtores de frutas destinadas à indústria também têm adotado a irrigação em função dos acréscimos de produção proporcionados.
Um dos fatores a serem considerados no momento de optar pela técnica é a necessidade de adoção de práticas para proporcionar o uso racional da água e considerar que a resposta das plantas à irrigação depende das demais práticas culturais realizadas no pomar, ou seja, do potencial produtivo da área.
Semelhante ao que ocorre com as culturas agrícolas em geral, a necessidade hídrica dos citros varia conforme o estádio fenológico das plantas. Na brotação, emissão de botões florais, frutificação e início de desenvolvimento dos frutos (da brotação até o fruto atingir 2,5 a 3,0 cm de diâmetro, período que ocorre divisão celular dos frutos), há maior demanda de água e as plantas são muito sensíveis ao déficit hídrico nesse período. Na fase de maturação, colheita e repouso a demanda hídrica é menor.
Direto ao ponto
De forma geral, a irrigação deve atender especialmente as necessidades hídricas nos períodos críticos ao déficit hídrico. Dessa forma, a tecnologia de irrigação, para produzir o efeito desejado quanto à produtividade e à qualidade dos frutos, deve seguir alguns critérios técnicos que, muitas vezes, são desconsiderados pelos citricultores.
Assim, o manejo adequado da irrigação deve racionalizar o uso de mão de obra, energia e água e evitar problemas fitossanitários ocasionados por aplicações excessivas ou deficientes e o possível desperdício de nutrientes.
Anote aí
A decisão de investir na tecnologia da irrigação deve ser antecedida de criteriosa análise econômica. O custo adicional de produção, em função da implantação da irrigação, deve ser compensado pelo acréscimo de produtividade.
Um fator importante a ser considerado é a idade do pomar para iniciar a irrigação. Embora a maior parte dos citricultores iniciem a irrigação quando o pomar se encontra com três anos, o ideal é adotar a irrigação desde o plantio, aumentando a capacidade produtiva da planta.
Benefícios
Além do benefício direto do uso da irrigação em pomares cítricos, ou seja, o aumento da produção por área, benefícios indiretos podem ser citados: possibilidade de escalonamento da produção (indução de estresse hídrico para manejo de florada), ofertando produtos na entressafra; aproveitamento de áreas antes consideradas impróprias para os citros; viabilização da fertirrigação.
Para o correto manejo da água na cultura dos citros, devem ser considerados fatores climáticos (precipitação pluviométrica e a demanda evapotranspirativa do ambiente), do solo (capacidade de armazenamento de água no solo, textura, profundidade, além da presença de impedimentos físicos ou mecânicos) e características específicas da planta cítrica que se está irrigando (eficiência de uso de água, profundidade do sistema radicular, períodos críticos à falta de água, entre outros).
As características da planta variam de acordo com a espécie considerada, combinação copa/porta-enxerto, idade e adaptação ao ambiente.
Métodos de irrigação
Os métodos de irrigação por superfície são considerados de baixa eficiência e demandam grandes volumes de água. A irrigação por aspersão sobrecopa e subcopa proporciona 100% de molhamento da área cultivada, não impondo limitação ao pleno desenvolvimento das raízes.
Nesse método não se deve esperar elevados coeficientes de uniformidade de distribuição de água e deve-se tomar cuidado no período de floração, quando o impacto da água dos aspersores pode provocar queda de flores.
Os sistemas de irrigação localizada, como gotejamento e microaspersão, são os mais eficientes, requerem baixa pressão, apresentam facilidade de operação e bom controle sobre a umidade e aeração do solo. A área molhada (Pm), nesse caso, deve estar entre 33 e 67%, sendo que, em regiões de precipitação considerável (acima de 1.200 mm), valores de Pm inferiores a 33% são aceitáveis para solos de textura média a fina, ou seja, solos siltosos e argilosos.
Por outro lado, a Pm deve ser mantida inferior a 67%, de forma a evitar umedecimento desnecessário entre as linhas de plantio, facilitando as práticas culturais.
Para plantas cítricas, sugere-se instalar dois gotejadores por planta após o plantio e, quando mais desenvolvidas (a partir de 12 meses), deve-se instalar pelo menos quatro gotejadores por planta dispostos ao redor do tronco com a linha lateral em anel, sendo que em solos de textura média a arenosa deve-se instalar de cinco a seis gotejadores por planta.
A irrigação por gotejamento geralmente apresenta maior custo x benefício, com economia de água na ordem de 40 – 60% em relação aos sistemas de sulcos e aspersão e até 30% em sistemas de aspersão sub-copa (Azevedo, 2003).
A microaspersão se adapta melhor aos solos arenosos, que aparentemente assegura maior área molhada à planta. Os microaspersores podem ser dispostos próximos às plantas ou entre as plantas na fileira.
O consumo anual de água pelas plantas cítricas varia de 900 a 1.300 mm, com valor médio anual de 2,5 a 3,6 mm/dia, sendo a irrigação completar às chuvas de 280 a 600 mm/ano. No Estado de São Paulo, o consumo de água aproxima-se de 3 mm.dia-1 em pomares irrigados e de 1,5 mm.dia-1 nos não irrigados. Dados de diferentes regiões do mundo mostram que o consumo dos citros no período de inverno é de 1,5 mm.dia-1 e no período de verão é de 3,2 a 4,7 mm.dia-1.