Autor
Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Aline da Silva Bhering
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia
bheringas@gmail.com
O primeiro passo para o sucesso de qualquer empreendimento florestal e agrícola é a utilização de mudas vigorosas e de alta qualidade. Estes materiais, quando associados à execução de práticas adequadas de manejo no campo, proporcionam a obtenção de bons rendimentos.
Em situações contrárias, quando o ponto de partida é desfavorável, os resultados dificilmente serão positivos. Nesse contexto, alguns cuidados, como o correto manejo dos nutrientes, são necessários visando assegurar a produção de mudas de qualidade de seringueira (Hevea brasiliensis) e de outras espécies florestais.
Em viveiros florestais é comum o uso de substratos para o desenvolvimento inicial das plantas. No entanto, estes nem sempre são capazes de fornecer todos os nutrientes requeridos pela espécie e nas quantidades certas para o seu crescimento. Com isso, a adoção de técnicas de fertilização do substrato tem sido apontada como um fator essencial para assegurar a eficiência dessa etapa, evitando falhas ou deficiências de nutrientes.
Deve ser considerado, no entanto, que a aplicação de fertilizantes solúveis em mudas florestais tem como desafios as perdas recorrentes em processos como a lixiviação, que é a “lavagem do substrato”, causando o seu empobrecimento. Nessas condições, os investimentos realizados serão perdidos e os fertilizantes podem não trazer respostas ao crescimento das plantas.
Diante desse panorama, abriu-se espaço para o desenvolvimento e utilização de novas tecnologias que pudessem suprir as necessidades de nutrientes de forma mais eficaz, com menos perdas e maior crescimento das plantas. Esse processo é conhecido como “nutrição inteligente”, o que é totalmente compatível com as demandas da produção florestal da atualidade, que tem sido um segmento inovador, eficiente e rentável.
Nutrição inteligente
Os fertilizantes denominados de liberação lenta são tecnologias desenvolvidas para aumentar a eficiência com que os nutrientes são disponibilizados às plantas. Enquanto os tradicionais fertilizantes solúveis oferecem um aporte imediato de nutrientes, favorecendo as perdas, os de liberação lenta o fazem ao longo do desenvolvimento da planta.
Tratam-se de grânulos que prolongam o tempo de liberação dos nutrientes, conforme a necessidade da espécie. Nestes, usualmente são disponibilizados macronutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), que podem conter, ainda, alguns micronutrientes.
São fertilizantes encapsulados, geralmente por polímeros, películas ou resinas que permitem a solubilização ou a liberação dos nutrientes de forma gradativa, aumentando o tempo para liberação após a aplicação. Isto é, a taxa de dissolução dos nutrientes contidos dentro da cápsula é reduzida, sincronizando a liberação de nutrientes de acordo com os requerimentos das plantas.
Vantagens para as mudas de seringueira
A nutrição inteligente com o uso de fertilizantes de liberação lenta é uma prática promissora, uma vez que tem sido associada à obtenção de mudas de seringueira mais uniformes, vigorosas, precoces, com sistema radicular mais bem desenvolvido e com menor taxa de mortalidade.
Estas respostas positivas demonstram a necessidade de suplementação constante de nutrientes na produção de mudas de seringueira e demais espécies florestais. O uso destes fertilizantes também diminui o estresse salino que poderia estar sendo provocado caso fossem utilizados fertilizantes convencionais.
Do ponto de vista prático, a utilização de fertilizantes de liberação lenta é menos dispendiosa em mão de obra por requerer um menor número de aplicações ao substrato. Essa característica é favorável por promover a redução dos custos do empreendimento e pela simplificação das operações.
A campo, a nutrição inteligente permite um fornecimento constante dos elementos essenciais às plantas de seringueira. Pode ser fornecido dentro da cova de transplantio e nas proximidades do crescimento radicular. Dessa forma, são reduzidas as dificuldades para deslocamento dos nutrientes até as raízes, como acontece com o uso de fertilizantes convencionais em cobertura.
Manejo
O manejo de adubação usando adubos de liberação lenta em viveiros florestais permite reduzir o número de aplicações, o que pode ser simplificado a apenas uma aplicação no substrato, em alguns casos. Esta condição melhora a eficiência operacional do empreendimento.
A aplicação dos fertilizantes de liberação lenta deve ser feita nas doses recomendadas, misturando-se ao substrato de produção de mudas. Em campo, pode ser feito no fundo da cova ou do sulco de plantio, que é o local que terá maior desenvolvimento das raízes e facilitará a absorção contínua.
Acertos
O principal erro a ser evitado é que muitos viveiristas, silvicultores ou agricultores, por desconhecerem toda a tecnologia embutida nesses fertilizantes inteligentes, podem acabar adotando a superdosagem na aplicação.
Como os fertilizantes de liberação lenta fornecem nutrientes de forma gradativa às plantas, todo o processo se torna mais eficiente e acompanha o crescimento das raízes e desenvolvimento das plantas. Aumentar a quantidade para além da dose recomendada é um desperdício, pois, diferentemente dos adubos convencionais, as perdas com o uso desses fertilizantes são inferiores, o que não justifica a adoção de superdoses para compensá-las.
Custo da técnica
A utilização de fertilizantes de liberação lenta apresenta um bom custo-benefício, razão pela qual seu uso tem sido crescente nas principais regiões produtoras do Brasil. Em comparação aos fertilizantes convencionais, sua aquisição pode apresentar maior preço de compra, o que está relacionado ao processo mais complexo de fabricação e necessidade de materiais de revestimento de alta tecnologia, o que eleva o custo de produção.
Entretanto, sua utilização é vantajosa e balanceada pelo aumento da eficiência no processo de fornecimento de nutrientes, redução das perdas e dos custos com mão de obra, além da obtenção de mudas superiores, mais uniformes e vigorosas.
O uso de fertilizantes de liberação lenta já é uma realidade consolidada em viveiros de produção de mudas de seringueira e outras espécies florestais de importância econômica, como o eucalipto, pinus e o mogno, além de mudas de espécies nativas.
Como estas espécies são perenes e possuem ciclo mais longo que as anuais, a liberação prolongada favorece o fornecimento gradativo de nutrientes.