Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma, mestra em Ambiente e Sistemas de Produção e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)
fernanda.dipple@unemat.br
Holcus spot é o nome comum que se dá a uma mancha foliar causada por cepas de bactérias da espécie das Pseudomonas sp. Algumas literaturas correlacionam com a presença da Pseudomonas syringae pv., conhecida também por mancha foliar de Holcus.
Sintomas
Os sintomas iniciais de manchas foliares podem confundir muitos produtores e agrônomos, principalmente quando o agente causal é uma bactéria. A mancha foliar de Holcus pode ser confundida com manchas de fitotoxidade de herbicidas, mancha branca (Phaeosphaeria sp. e Pantoea sp.) e até pelo fungo causador da Diplodia.
As manchas foliares na cultura do milho podem confundir, pois apresentam estrias amareladas com sintomas cloróticos e, posteriormente necróticos, porém, o diâmetro das lesões, sintomas da evolução de desenvolvimento da infecção dos patógenos podem auxiliar na identificação.
As manchas de Holcus possuem inicialmente lesões verdes umedecidas, caracterização de infecção bacteriana, lesões em sua maioria desuniformes no centro, com cantos externos arredondados. Podem formar halos de coloração amarronzada com a evolução da doença. Outra característica importante é que o centro das infecções possui lesões esbranquiçadas ou branco/palha.
Os sintomas iniciam nas fases iniciais vegetativas, em sua maioria antes do florescimento, no centro das folhas e na parte mediana à superior da planta. Conforme a bactéria vai se reproduzindo e colonizando, o hospedeiro, as manchas e as lesões vão aumentando em quantidade pela folha.
Não confunda
Antes da proibição do herbicida Paraquat, a mancha foliar de Holcus era confundida com fitotoxidade no milho, porém, a mancha de Holcus spot pode aumentar com a colonização do hospedeiro pela bactéria, diferente de lesões por herbicidas de contato, que são devido à deriva, como o Paraquat.
Incidência
Inicialmente, as manchas foliares de Holcus foram identificadas em meados da década de 90. Alguns autores relatam que os primeiros casos dessa doença no Brasil surgiram por volta de 1995.
Posteriormente, esta doença foi de forma endêmica, sendo identificada em várias regiões do território brasileiro, nas regiões produtoras de milho, com preferência para o Sudeste e Sul do País, em períodos de maior pluviosidade. Porém, diversos casos já foram constatados no Centro-Oeste brasileiro, Goiás e Mato Grosso.
Em regiões com o inverno mais seco, como o Centro-Oeste, onde o milho é produzido na entressafra, muitos produtores não se preocupam com o manejo de doenças no milho, mas, condições atípicas, com períodos mais chuvosos, podem favorecer o desenvolvimento das doenças.
Desafios
A bactéria pode sobreviver em diversos hospedeiros, em resíduos vegetais e matéria orgânica, dificultando o manejo desta doença, principalmente em plantas daninhas e culturas monocotiledôneas, que podem ser hospedeiras alternativas para a Pseudomonas sp.
O clima, bem como hospedeiros suscetíveis, são alguns dos fatores que podem favorecer o a agressividade do patógeno e a ocorrência da doença. Umidade antes do pendoamento pode auxiliar na infecção das bactérias, uma vez que elas precisam de água ou vetores para adentrar na planta, através de aberturas naturais (estômatos) ou ferimentos.
Consequentemente, os sintomas geralmente são observados após a chuva e ventos fortes. Vento, granizo e outros fatores que prejudicam a planta também podem criar pontos de entrada para a bactéria na planta, mas a mancha na folha pode se desenvolver mesmo na ausência de feridas.
Importância do monitoramento da doença
Os produtores devem se atentar que a maioria dos patógenos (bactéria e fungos) podem sobreviver em diversos ambientes, sendo que alguns destes patógenos podem ter dezenas de hospedeiros.
O manejo de doenças deve começar com o planejamento agrícola, a utilização de diferentes formas de trabalhar com o solo, fazer rotação de culturas, adubação verde, usar tratamentos de sementes com produtos compatíveis entre biológicos e químicos.
Mesmo em anos mais secos, fazer o manejo de fungicidas químicos e/ou biológicos diminui a fonte de inóculo da área. Ou seja, é importante atuar sempre de forma preventiva.
No milho
O manejo e controle de bactérias são desafios no controle destas doenças. Atualmente, não existem muitos produtos recomendados para controle de doenças bacterianas. O que temos são poucos antibióticos ou fungicidas com ação e controle sobre bactérias, sendo um enorme desafio realizar o seu controle de forma curativa.
A forma mais eficiente de manejo é utilizar híbridos resistentes à doença, associado a diversas medidas preventivas, principalmente moléculas multisítios que podem auxiliar no manejo de doenças bacterianas.
Porém, não existe, ainda, um produto registrado com indicação para controle dessa doença no milho. Em algumas culturas cucurbitáceas, há registro dos ingredientes ativos como cobre metálico, hidróxido de cobre, casugamicina, óxido cuproso e acibenzolar-s-metílico.
Impacto econômico
Apesar de ser uma doença identificada em várias regiões no Brasil, a Holcus spot não tem causado prejuízos significativos, porém, qualquer patógeno que atue prejudicando as plantas, reduzindo sua fotossíntese ou absorvendo produtos de seu metabolismo de forma parasita tende a causar prejuízos diretos e indiretos à planta.
Assim, os produtores devem ficar atentos ao aparecimento dos primeiros sintomas, pela incerteza do risco de aumento dos danos e pela dificuldade de controle da Holcus spot.